Shopping em Fortaleza proíbe venda de camisas de Lula e é acusado de censura

Em um primeiro momento, o local vetou a exposição, na vitrine da loja, de camisas do ex-presidente Lula (PT). Depois, proibiu a comercialização dos produtos. Em nota, o shopping Benfica alega que não permite "a comercialização de produtos de cunho político"

Duas colaboradoras de uma loja no Shopping Benfica, em Fortaleza, que trabalham com a venda de camisas de cunho político, entre elas do ex-presidente Lula (PT), relataram nas redes sociais uma situação classificada por elas como "censura" dentro no estabelecimento. As irmãs e sócias Bárbara Oliveira e Téssie Oliveira receberam um comunicado do shopping proibindo a comercialização dos produtos no local. “Já havíamos sido avisadas no mês passado que elas não poderiam ficar expostas na vitrine, mas nessa semana tivemos esse decreto”, escreveu na postagem.

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As camisas às quais Bárbara se refere, que não poderiam ficar expostas na vitrine, são as do ex-presidente Lula. Ao O POVO, ela relatou que já havia sido comunicada previamente sobre não deixar as camisas do petista em evidência. “Eles chegaram na loja e pediram: 'Olha, a gente gostaria de pedir para que vocês evitassem colocar tantas camisas de cunho político na vitrine”.

Segundo ela, passaram cerca de uma semana sem expor tais camisas na vitrine da loja. Mas depois, voltaram a colocar. Veio então um novo pedido. “Esse segundo já veio com outro tom. A gente não quer mais que vocês coloquem na vitrine. Tem lojistas denunciando, tem cliente denunciando e para evitar qualquer tipo de desgaste, a gente tá pedindo pra que vocês retirem da vitrine”, conta.

Bárbara relata que ela e a irmã optaram por continuar as vendas na loja colaborativa, mesmo os produtos não podendo ser expostos. “A gente sabe que esse tipo de coisa vai acontecer, por diversas vezes a gente, dentro do shopping, passavam clientes ou quem sabe lojistas disfarçados e perguntavam por que que a gente não tinha camisa do atual presidente, e a gente dizia que não tinha e que a gente se posicionava do lado da esquerda”, descreve.

Contudo, no início desta semana, elas foram novamente notificadas sobre a venda das camisas. Dessa vez, a proibição era total. Se antes elas não poderiam expor na vitrine, agora nem no interior da loja. “Mandaram um estagiário para nos comunicar de que as camisas deveriam sair de circulação, sair de dentro da loja. Que o shopping não iria mais permitir a venda de camisas com cunho político”, conta.

No início deste mês, a administração do local aumentou o valor do aluguel pago pela loja colaborativa. Bárbara detalha que, antes disso, foi solicitado o balanço financeiro do empreendimento. “A gente sabia exatamente que, de repente, esse aumento de aluguel poderia ser uma consequência de estar querendo estrangular a Casa de Xicas, querendo estrangular indiretamente a Oliveira Camisaria, por conta das camisas. Então, findou o mês de junho e culminou com essa notícia, nós fomos comunicadas terça-feira dessa proibição”.

Casa de Xicas é a loja colaborativa na qual Bárbara e Téssie faziam parte, com outras 29 empreendedoras. Bárbara afirma que Neide Rodrigues, a representante da loja, estava “muito abalada” com a decisão. “Porque o projeto Casa de Xicas ele é um projeto grandioso no sentido de dar voz, de dar espaço às mulheres empreendedoras, negras, periféricas, e pra ela foi muito difícil ter essa conversa, saber que nós estamos saindo de um espaço, saber que a gente precisa sair de um canto, de certa forma porque estão nos censurando, porque estão nos proibindo de vender os nossos produtos. Que essa questão de vivermos em uma democracia é uma falácia”, justifica.

“É difícil? É muito difícil, porque o Benfica, o Shopping Benfica era um espaço que a gente inclusive defendia que ele era o dito shopping da esquerda, era um shopping que conseguia dialogar melhor com as classes que estavam lá, e a gente receber essa notícia de pedir para tirar nossas camisas foi muito difícil”, diz.

Ela decidiu, em acordo com a irmã, de não deixar outras camisas, como as do cantor cearense Belchior, da filósofa Angela Davis e da pintora mexicana Frida Kahlo. "Porque as nossas camisas são políticas. O shopping pedir para nós tirarmos as camisas do Lula é uma forma de censura, mas as camisas que a gente vende são políticas, e eu não tenho como ser censurada de um lado e continuar com as minhas camisas políticas dos outros”.

Por fim, ela conta que esse episódio não irá parar o trabalho das irmãs, que existe há sete anos. Além disso, a dupla está atuando em outros locais. “Ao mesmo tempo que a gente fica triste, a gente sabe o tamanho da nossa força, a gente sabe quem de fato segura a nossa mão, vê as pessoas que estão do nosso lado se manifestando, ligando pra gente indignadas. A gente tem o nosso reconhecimento, a gente sabe o nosso espaço, a gente não vai parar diante dessa censura, a gente não vai se calar”, finaliza.

Procurado pelo O POVO, o shopping Benfica declarou que em virtude de manter “o bom relacionamento entre funcionários e clientes” optou por proibir o comércio de produtos de cunho político no local.

Leia a íntegra:

O Shopping Benfica é um empreendimento de responsabilidade social e cultural.

Com o fim de manter o equilíbrio e o bom relacionamento entre locatários, funcionários e clientes, é parte das atribuições da administração do shopping fazer cumprir as Normas Gerais. Uma delas é de não haver comercialização de produtos de cunho político, de qualquer natureza.

Há 23 anos, o Shopping Benfica respeita e convive com todas as formas de pensar.

Todos continuarão a ser sempre bem-vindos.

A administração

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