Entenda a briga entre o apresentador Danilo Gentili e políticos bolsonaristas

De 2017, o filme "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola" virou alvo de bolsonaristas no último final de semana. O Ministério da Justiça e Segurança Pública chegou a aumentar a classificação indicativa do conteúdo e a pedir sua suspenção

No último final de semana, os humoristas Danilo Gentili e Fábio Porchat viraram alvo de alguns dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Um deles foi o deputado estadual cearense André Fernandes (PL), que acusou os artistas de apologia à pedofilia, por uma cena do longa “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” (2017). A produção está no catálogo da Netflix e contém uma cena que foi polemizada pelo parlamentar nas redes sociais. Entenda a polêmica:

Filme

O filme  “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola” (2017) foi baseado no livro homônimo escrito pelo ex-CQC, o chamado Custe o Que Custar. A comédia foi roteirizada por Fabrício Bittar, que também dirigiu, Danilo Gentili e André Catarinacho. Ela conta a história de Bernardo (Bruno Munhoz) e Pedro (Daniel Pimentel), que são dois adolescentes e decidem seguir um manual de instruções para instalar o caos na escola. A obra fictícia tem classificação indicativa para 14 anos.

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Na produção, Porchat interpreta Cristiano, um pedófilo que tenta abusar dos meninos, mas não consegue. “Vamos esquecer isso tudo, deixar isso de lado? A gente esquece o que aconteceu e, em troca, vocês batem uma punheta pro tio”, sugere o personagem, que também coloca a mão de um dos meninos em seu pênis na cena em questão.

André Fernandes e bolsonaristas

Anos depois, mais especificamente no último domingo, 13, o deputado André Fernandes (PL) e bolsonaristas resgataram o filme para fazer duras críticas ao seu conteúdo. Em seu perfil no Twitter, o parlamentar publicou um vídeo em que reproduz e comenta com indignação um trecho da cena - mas não desde o início, e sim a partir do ponto em que Cristiano fala sobre o tal esquecimento. Ele chamou a atenção para a classificação indicativa do filme - destinada para público a partir de 14 anos - e insinuou que o filme faz “apologia” à pedofilia.

O ministro da Justiça, Anderson Torres criticou o filme nas redes sociais. "Assim que tomei conhecimento de detalhes asquerosos do filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, atualmente em exibição na @NetflixBrasil, determinei imediatamente que os vários setores do @JusticaGovBR adotem as providências cabíveis para o caso!!", escreveu em sua conta no Twitter. 

No Twitter, o secretário especial de Cultura, Mário Frias, publicou um trecho do filme, classificando-a como “explícita apologia ao abuso sexual infantil”. Frias ainda disse que o filme seria “uma afronta às famílias e às nossas crianças” e que “utilizar a pedofilia como forma de ‘humor’ é repugnante! Asqueroso!”, segundo escreveu na postagem.

Nesta quinta, após resposta de Danilo Gentili comparado André Fernandes ao vilão pedófilo, o deputado voltou a criticar filme. O bolsonarista afirmou defender o "humor negro e sem o politicamente correto". Sobre postagem de 2012 divulgada pelo humorista, em que André aparece falando sobre pedofilia, o deputado disse ter a "idade das crianças do filme". 

Vale lembrar que Danilo Gentili era admirado e elogiado por bolsonaristas, mas passou a ser alvo de ataque depois de ter iniciado postura crítica em relação ao atual presidente da República, principalmente durante o período de pandemia.

Ministério da Justiça e censura

O Ministério da Justiça e Segurança Pública alterou a classificação indicativa do filme “Como se tornar o pior aluno da escola” de 14 para 18 anos. De acordo com o ministério, a mudança ocorreu em razão do conteúdo da comédia, já que alguns trechos contêm “tendências de indicação como Coação sexual / Estupro (16 anos), Ato de Pedofilia (16 anos) e Situação Sexual Complexa (18 anos)”. Dessa forma, o ministério determinou que o filme deve trazer a classificação de "não recomendado para menores de 18 (dezoito)” .

O Despacho 386 foi publicado na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira (16). Quem assinou o documento foi o secretário nacional de Justiça, José Vicente Santini. O ministério também recomendou que, quando for exibido na televisão aberta, o filme seja veiculado após as 23 horas. A nova classificação deve ser utilizada em todas as plataformas e canais de exibição em até cinco dias úteis.

Apesar de tratar da mudança na classificação indicativa, o despacho não mencionou se segue em vigor ou não a decisão do Ministério da Justiça de determinar a retirada do filme das plataformas de streaming. A pasta havia informado na terça-feira, 15, que, em um prazo de até cinco dias, as plataformas com direitos de distribuição do filme - como Netflix, Telecine, Globo Play, Youtube, Apple e Amazon - deveriam suspender a exibição do filme, sob pena de aplicação de multa diária de R$ 50 mil.

Defesa de artistas

Diante das várias críticas recebidas, Danilo Gentili respondeu que seu maior orgulho na carreira é ter conseguido “desagradar na mesma intensidade tanto petistas quanto bolsonaristas”. “Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento: veio forte contra mim dos dois lados. Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo”, rebateu Gentili. 

Além de Danilo, o humorista e ator Fábio Porchat - que está na obra - foi alvo da onda de acusações. Porchat não se envolveu de forma constante na polêmica, mas fez questão de ressaltar que a cena critica trata-se de ficção. 

Nesta quinta-feira, 17, Gentili comparou o deputado André Fernandes a vilão pedófilo de filme censurado. No texto publicado no Twitter, ele escreveu: "Ao que parece, o deputado bolsonarista a favor da censura que acusa os outros de apologia a pedofilia é mais parecido com o vilão do meu filme do que eu pensava: posa de super moralista e corretão mas olha o tipo de pensamento que ele não se aguenta e expressa logo cedo".

Ao lado, o comediante resgata um post de Fernandes do ano de 2012 no Twitter. No conteúdo, o parlamentar escreve: " 'Tio o que é pedofilia? 'Vem cá sobrinha senta no meu colo pra eu te explicar'". No Twitter, a publicação do deputado cearense já foi deletada.

Em entrevista ao jornal O Globo, Danilo também diz que o filme vilaniza a pedofilia. "Ela está no arquétipo de um vilão hipócrita que se esconde atrás de um discurso politicamente correto e falso moralista. Qualquer pessoa que assistiu ao filme sabe disso". Segundo o artista, "todos os que assistiram ao filme inteiro não enxergam a mesma coisa de quem assistiu apenas essa cena". Ele destacou que a classificação etária do filme foi definida justamente pela pasta da Justiça.

Empresas não vão retirar filme

O Globoplay e o Telecine classificaram como censura a determinação do Ministério da Justiça e Segurança Pública acerca do filme. A plataforma de streaming afirma, por meio de nota, que não irá retirar a obra de seu catálogo, contrariando a medida estabelecida pelo governo Bolsonaro, nesta terça-feira 15, para todas as empresas do ramo. Até o momento, a Netflix não se pronunciou sobre o caso.

“O Globoplay e o Telecine estão atentos às críticas de indivíduos e famílias que consideraram inadequados ou de mau gosto trechos do filme ‘Como se tornar o pior aluno da escola’ mas entendem que a decisão administrativa do ministério da Justiça de mandar suspender a sua disponibilização é censura. A decisão ofende o princípio da liberdade de expressão, é inconstitucional e, portanto, não pode ser cumprida”, ressaltam as empresas, ao O Globo, por meio de nota. 

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André Fernandes Danilo Gentili Fabio Porchat filme Netflix embate Ministério da Justiça

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