Organizador da "dancinha do impeachment" em Fortaleza se diz arrependido, revela podcast

Segundo nova temporada do podcast "Além do Meme", o homem é pesquisador acadêmico, fez mestrado e tem pesquisas tanto na Universidade Federal do Ceará (UFC) quanto na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Áreas sofreram cortes no Orçamento nos últimos anos

Em 2015, circulou na internet um vídeo em que manifestantes uniformizados e com as caras pintadas pediam a saída da presidente Dilma Rousseff (PT) enquanto dançavam passinhos coreografados em uma avenida de Fortaleza, no Ceará. Não demorou para o registro virar piada nas redes sociais do Brasil, com o "Dança Fora, Dilma" provocando uma chuva de paródias. Anos depois, segundo, um dos organizadores dos atos se diz arrependido pelo ato em prol do impeachment da petista.

O relato foi feito por três colegas de faculdade do pesquisador acadêmico e articulador das danças, que não teve o nome divulgado. A história é será contada na nova temporada de "Além do Meme", podcast de Chico Felitti.  O episódio é fruto de uma investigação que teve como proposta saber o que aconteceu com as centenas de pessoas que se juntaram para dançar nas ruas de Fortaleza. O grupo chegou a se reunir três anos depois em defesa do então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (ex-PSL, hoje no PL).

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A produção investiga por meses pessoas ou grupos que se destacaram por sua atuação na internet. Outros fatos de forte repercussão já foram explorados em outros episódios, como o famoso Carreta Furacão e o caso da grávida de Taubaté. 

Na época, o vídeo da dancinha foi realizado por Cinthia Freitas e publicado O POVO. Logo se tornou viral. O material mostra centenas de pessoas dançando uma coreografia enquanto pede a saída da então presidente. Em dois dias, o conteúdo já somava de mais de duas milhões de visualizações. 

Na época, foi criado o Tumblr "Dançando Fora Dilma", que reúne paródias do vídeo original com os manifestantes dançando desde Gangnam Style, do Psy, à Sorte Grande, de Ivete Sangalo. Graças à internet, até He-Man e Pikachu entraram na dança. 

O protesto foi idealizado por uma comunidade intitulada Consciência Patriótica, que logo depois publicou uma versão ampliada da dancinha do impeachment para convocar os manifestantes do Ceará a irem às ruas contra o Governo. Ao O POVO, o movimento chegou a ensinar passo a passo a coreografia da dança.

Em 2018, os manifestantes voltaram às ruas, na Praia de Iracema, em prol da candidatura à presidência Jair Bolsonaro, então do PSL. As faces pintadas de verde e amarelo cantavam frases de apoio ao candidato e clamando para que as pessoas não deixem “o Brasil virar Cuba”. O vídeo somou mais de três milhões de visualizações no Facebook. O ato aconteceu após Bolsonaro ser alvo de um ataque com faca em evento de campanha, em Juiz de Fora (MG). “Descansa, Capitão! Deixa a campanha com a gente“, diz uma das postagens do grupo nas redes sociais.

Quase seis anos depois, o podcast "Além do Meme" afirma ter encontrado o primeiro porta-voz da mobilização. "Teve a trajetória de vida de um deles que me chamou a atenção e é ela que eu vou contar. Eu descobri onde anda o primeiro porta-voz da dancinha do impeachment. Esse sujeito aqui, que inclusive deu entrevistas como essa ao site do jornal O POVO", diz o locutor. 

Logo depois, Chico Felitti reforça: "Mas, em 2021, esse homem sumiu e não tem rede social nenhuma, só aquela lá, a de negócios, a que as pessoas fazem propagandas de si mesmo o tempo todo e declaram gratidão à empresa em que trabalham, e mesmo lá seu nome está levemente alterado do nome original. Por falar em nome, eu teria total direito de usar o nome e sobrenome dele aqui, afinal, ele é um adulto que. por vontade própria, deu entrevistas, defendeu um movimento político, mostrou seu rosto e divulgou seu sobrenome. Mas eu não vou, porque imagino o quanto as escolhas de vida o tenha ferido mais pra frente". 

O homem, segundo o podcast, é pesquisar acadêmico e estuda Comunicação e Sociologia, com ênfase em artes e em cultura, e também na "manutenção dos recursos naturais planetários”. "E ele ganha bolsas de estudos públicas. Ele fez mestrado e tem pesquisas tanto na Universidade Federal do Ceará (UFC) quanto na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Sim, um dos lideres da dancinha vive de dinheiro público da educação", finalizou. 

Neste ano, o Ministério da Educação sofreu um corte de R$ 739,9 milhões no Orçamento, sancionado no dia 24 de janeiro. Trata-se da segunda pasta mais afetada, atrás apenas do Ministério do Trabalho, que teve R$ 1 bilhão de recursos vetados. No ano passado, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirmou que o orçamento discricionário para 2021 teve um corte de pelo menos R$ 1 bilhão.

O material também afirma que alguns dos trabalhos que o ex-líder da dancinha produz são vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Em 2021, o órgão de pesquisa teve o menor orçamento do século. "O CNPQ perdeu 90% das suas verbas. O mesmo órgão que declarou que só vai conseguir pagar 13% das bolsas de estudo para pesquisadores que já tinham sido aprovadas. O ex-líder depende desse dinheiro", afirma Chico. 

O produtor do Podcast afirma que tentou contato com o pesquisador e que manteria o documentário mesmo sem um retorno. No entanto, as investidas não foram bem sucedidas. "Pessoas próximas dele dizem que a dancinha é uma página virada, que ele não fala sobre o assunto", disse Chico Felitti.

 

 

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