Bolsonaro admite demissões no Iphan após reclamação de Hang sobre interdição em obra da Havan

O mandatário afirmou que, à época, não sabia o que era o Instituto, mas que desde a troca de funcionários "o Iphan não dá mais dor de cabeça"

O presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu nesta quarta-feira, 15, que demitiu servidores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), após saber de reclamações de Luciano Hang, dono das Lojas Havan, sobre interdição que o órgão fez em obras realizadas pelo empresário bolsonarista, em 2019.

“Tomei conhecimento de uma obra de uma pessoa conhecida, o Luciano Hang, que estava fazendo mais uma obra e apareceu um ‘pedaço de azulejo’ durante as escavações. Chegou o Iphan e interditou a obra. [...] Liguei pro ministro da pasta, e perguntei ‘que trem é esse?’ Porque eu não sou tão inteligente como meus ministros. ‘O que é Iphan, com PH?’ Explicaram para mim, tomei conhecimento, ‘ripei’ todo mundo do Iphan. Botei outro cara lá, o Iphan não dá mais dor de cabeça pra gente”, disse o presidente.

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A declaração do mandatário foi aplaudida pelos presentes durante o evento Moderniza Brasil, realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

A interdição nas obras da Havan ocorreu em agosto de 2019, após a empresa contratada por Hang para realizar a construção avisar ao Iphan que teria encontrado fragmentos de cerâmica e vestígios arqueológicos no canteiro de obras, em Rio Grande (RS). Após a paralisação, o empresário divulgou um vídeo nas redes sociais criticando a interdição, afirmando que o motivo seria porque o Iphan encontrou "fragmentos de pratos" no local.

Durante reunião interministerial em 2020, Bolsonaro já havia mencionado interferência no Instituto, citando o caso de Hang. O vídeo da fala do presidente foi divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"O Iphan, não é? Tá lá vinculado à Cultura. Eu fiz a cagada em escolher... não escolher uma, uma pessoa que tivesse um outro perfil. É uma excelente pessoa que tá lá, tá? Mas tinha que ter um outro perfil também. O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que tem que fazer? Alguém do Iphan que resolva o assunto, né? E assim nós temos que proceder", disse o mandatário na gravação.

Em entrevista à Veja, meses após a reunião, Hang negou ter pedido a Bolsonaro que agisse em seu favor para resolver a questão. "Não pedi nada ao presidente! Zero, zero! Ele deve ter visto nas minhas redes sociais. Eu sou ativista político, mas não peço favor para mim. Minha principal bandeira é a desburocratização, a redução da burocracia, que é a mãe da propina, da corrupção, do calvário de todo empresário brasileiro", disse o bolsonarista.

Contudo, a ex-diretora do Iphan Kátia Bogéa, – que foi “ripada” da autarquia em maio de 2020, quatro meses após a paralisação da obra de Hang, – afirmou ter sido demitida por pressão de Hang e do senador Flávio Bolsonaro (PL). Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Bogéa destacou que “o vídeo feito por Hang foi mentiroso” e que o chefe do Executivo “comprou essa mentira”. “A imagem que o presidente formou na cabeça dele do que seria o Iphan seria de um órgão que estava ali para paralisar obras, impedir o desenvolvimento”, destacou ao veículo de imprensa.

Bogéa também relatou que, antes de ser demitida, houve uma sucessão de trocas no Iphan, como a exoneração de coordenadores em superintendências e diretores técnicos. A servidora foi substituída por Larissa Peixoto Rodrigues Dutra, nomeada pelo governo federal ainda em maio para ocupar a presidência do Instituto, que é quem continua no cargo até então.

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Jair Bolsonaro Iphan interferência no Iphan Luciano Hang

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