André Mendonça não é o primeiro evangélico no STF; diácono da Igreja Batista já havia chegado ao cargo em 1957

Indicado por Juscelino Kubitschek, em 1957, Antônio Martins Villas Boas foi o primeiro evangélico a chegar ao Supremo Tribunal Federal, diz artigo

O "terrivelmente evangélico” peço presidente Jair Bolsonaro (PL) ao STF, André Mendonça, não é o primeiro da corrente religiosa a chegar à mais alta Corte do país. Mesmo que Mendonça e apoiadores venham sustentando uma narrativa de pioneirismo, o marco foi alcançado, na verdade, há seis décadas atrás, com a nomeação de Antônio Martins Villas Boas (1869-1987), um diácono da Primeira Igreja Batista de Belo Horizonte, para o Supremo. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

Classificado como “crente fiel”, Villas Boas foi homenageado pelo “O Jornal Batista”, em 1957, na ocasião de sua chegada ao STF. A publicação de 1º de fevereiro dizia: "Não somente o ministro Villas Boas está de parabéns, mas de modo indireto nós os evangélicos, pela honra que nos cabe. [...] Salvo equívoco, é a primeira vez que tal honra cabe a um cristão evangélico." Abaixo da foto do magistrado, elogios não foram poupados: "como é sabido, é um crente fiel em Jesus Cristo".

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Os membros da Igreja Batista, os pastor Ariovaldo Ramos e a evangélica Nilza Valéria Zacarias, publicaram um artigo nesta semana relembrando Villas Boas e desfazendo a versão de que André Mendonça seria o primeiro evangélico no Supremo. Para os dois, a narrativa de pioneirismo que vem sendo contada, é na verdade uma “usurpação”.

“Só para constar — continuaremos gritando que chegamos antes. Chegamos republicanamente, e bem. Quem chegou depois, dizendo que chegou antes, chegou usurpando um lugar na história. Como isso é feio para quem se diz cristão", escrevem no texto os religiosos que também são coordenadores da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, uma minoria progressista no segmento religioso.

Villas Boas foi indicado pelo então presidente Juscelino Kubitschek, e não há constatação de que sua religião foi levada em consideração para a escolha, como aconteceu atualmente. Contudo, o batista não deixou de citar sua fé em seu discurso de posse, afirmando que sua ações teriam “a nota inconfundível do Eterno Senhor”.

O primeiro evangélico na Corte também chegou ao posto de presidente do STF de 1965 a 1966, como lembram Ramos e Zacarias no artigo. "Como podem apagar uma história dessa? Talvez porque ele não ocupou um lugar tão importante como um lacaio do fascismo tupiniquim que tem provocado fome e morte", disparam os coordenadores do grupo evangélico de esquerda.

Em homenagem ao centenário de Villas Boas, uma sessão plenária foi realizada no STF. O à época ministro, Gonçalves de Oliveira, relembrou que o magistrado "votava como um apóstolo, queria fazer justiça, mas sobretudo, queria fazer o bem". Já outro ministro, Carlos Velloso, destacou a postura de Villas Boas durante a ditadura, como "quase indignada reação às prisões e processos militares arbitrários”. "Foram centenas os réus sem crime ou sem culpa formada que dele obtiveram numerosas ordens de habeas corpus."

Os autores do artigo rememorando Villas Boas deram continuidade ao texto afirmando que o evangélico da Igreja Batista "não concordaria com nada disso (a agenda bolsonarista)”. “Ele lia a Bíblia todos os dias e entendia, como entendemos, que não se governa para um grupo. O governo é para um país inteiro. Para todas as pessoas, sejam de que credo for”, ressaltam Ramos e Zacarias.

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