Da esquerda à direita, grupos tentam ressignificar bandeira nacional

Especialista diz que existem símbolos que são apropriados por grupos políticos, da esquerda e da direita, para criar uma identidade com o público

Nesta sexta-feira, 19, o Brasil comemora o Dia da Bandeira em homenagem à bandeira nacional criada após a Proclamação da República, que ocorreu no dia 15 de novembro de 1889, e apresentada em 19 de novembro daquele ano; por isso a celebração é nesta data. Nos últimos anos, a bandeira brasileira tornou-se alvo de disputa e apropriação por parte de grupos políticos, sobretudo de extrema direita, que tomaram como seus alguns símbolos nacionais.

O fenômeno não ocorre apenas no Brasil, mas em outros países e regiões do mundo. A tendência crescente de apropriação desses símbolos por movimentos de extrema direita faz parte de uma estratégia que proporciona uma suposta divisão da população em dois grupos: os que amam o seu país e os símbolos que o representa (patriotas) e os que não o fazem (antipatriotas) que, na prática, podem ser todos aqueles que não estão no primeiro grupo.

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Monalisa Torres, cientista política vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), avalia que existem símbolos que são apropriados por grupos políticos, da esquerda e da direita, para criar uma identidade com o público. “Dentre os signos que o campo mais conservador de direita se apropria estão aqueles relacionados a uma identidade nacional simbolizada pelo patriotismo. Então, os símbolos que de alguma forma remetem à pátria: o Exército, a bandeira, o hino, os brasões, são utilizados com essa finalidade”, explica.

Pela trajetória de Bolsonaro desde a campanha eleitoral, Torres diz ser compreensível que o presidente e seus apoiadores se utilizem da apropriação desses símbolos, mas diz que os mesmos são ressignificados ao longo do tempo. “Durante o movimento das Diretas Já, manifestações de ruas mobilizaram a bandeira nacional como um unificador de uma demanda coletiva, mais recentemente vemos presidenciáveis tentando ressignificar a bandeira. Ciro Gomes (PDT) disse que a bandeira é um patrimônio nacional, não de grupos políticos”, lembra.

No entanto, a especialista reconhece que o bolsonarismo instrumentalizou a prática a ponto de causar uma certa rejeição em alas da esquerda. “Eles conseguiram não apenas se apropriar, mas ressignificar. Hoje há um certo desconforto para utilizar não só a bandeira, mas as cores do Brasil por parte de alguns grupos de oposição ao bolsonarismo”, afirma.

Há situações ainda em que essa apropriação foge do campo ético e da verdade. No último domingo, por exemplo, após o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton segurar a bandeira do Brasil durante comemoração pela vitória do Grande Prêmio de Interlagos (SP), grupos bolsonaristas espalharam em redes sociais que ele elogiou Jair Bolsonaro, o que é mentira

Para além da bandeira, a camisa da seleção brasileira de futebol talvez seja o item mais comum nas manifestações de grupos bolsonaristas, ao passo em que ir às ruas utilizando o uniforme passou a ser visto como sinônimo de proximidade com o governo que vem se apropriando desse e de outros símbolos desde a campanha eleitoral (2018).

As tentativas de apropriação são frequentes e foram vistas recentemente em gigantes mundiais como os Estados Unidos, na antiga gestão do então presidente Donald Trump (2017-2021), ou na Alemanha onde o AfD, partido de extrema direita, se apropria da bandeira alemã enquanto investe na narrativa de que os seus opositores sentem vergonha de utilizar a mesma.

Amor na Bandeira

No caso da bandeira do Brasil, o lema "Ordem e Progresso" é inspirado no pensamento de Augusto Comte que diz: "O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim". Ele acreditava que o funcionamento social deveria promover o bem-estar. O progresso seria o resultado do aperfeiçoamento da ordem e do amor como princípio. Durante a decisão pelo lema nacional presente na bandeira o termo “amor” foi suprimido, embora seja parte da ideia.

Atualmente, um grupo de pessoas está propondo que a palavra "amor" seja acrescentada à bandeira brasileira; assim a frase “Ordem e progresso” seria substituída pela sentença “Amor, Ordem e Progresso". A proposta é do recém-criado Movimento Amor na Bandeira, que defende espalhar uma mensagem oposta ao ódio político que tem marcado o debate público.

O movimento divulgou uma abaixo-assinado virtual onde questiona: "Por que na criação da bandeira, a palavra amor foi desconsiderada, restando apenas Ordem e Progresso? Não se sabe exatamente o motivo, mas a negação do amor como princípio nos parece muito simbólica de uma grave lacuna na formação de nossos valores. “Não há ordem que faça sentido sem amor e não é possível progresso com base numa ordem que vem da violência", escrevem.

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