COP26: Txai Suruí relata que foi intimidada por brasileiros após discurso

A ativista conta que logo após seu discurso, um brasileiro se aproximou e a pediu para não falar mal do País

A ativista indígena Txai Suruí, que discursou na COP26, em Glasgow, na Escócia, conta que foi intimidada por brasileiros logo após sua fala. Na última segunda, 1º, durante a cerimônia de abertura da conferência, a indígena do povo Paiter Suruí e fundadora e coordenadora do movimento da Juventude Indígena de Rondônia reclamou, dentre outras coisas, do avanço frenético do extrativismo em terras indígenas na Amazônia.

"Depois do meu discurso, fui dar algumas entrevistas, muitas pessoas queriam falar comigo, e uma parte brasileira ficou me intimidando. Ele chegou depois em um momento e falou 'não fala mal do Brasil, porque a gente está aqui para ajudar'. Me senti muito intimidada e não foi muito legal", disse Txai em entrevista ao UOL News. Ela conta que não conseguiu identificar quem eram as pessoas, mas viu que se tratavam de brasileiros pelas credenciais.

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"Foi bem desconfortável", afirma a indígena, criticando a falta de representantes do alto escalão do governo na conferência. "O Brasil, que é um dos países que sempre tiveram no centro dessa discussão, sempre um dos países mais importantes, não tem os seus representantes aqui, do governo".

A ativista ainda é pessimista em relação aos compromissos que o Brasil assinou na COP26. Dentre os acordos firmados entre os países presentes na conferência, está a redução em 30% das emissões de gás metano até 2030. "O Brasil fala que vai colocar os povos indígenas no centro dessa discussão, vai acabar com o desmatamento, mas o que a gente está passando no Brasil é uma enorme pressão dos nossos direitos", disse a indígena.

Txai comentou a tese do Marco Temporal, ação que corre no STF e ameaça o direito de demarcação dos territórios dos povos originários.

"São projetos que querem acabar com as terras indígenas no Brasil. Hoje, se você pega o mapa do Brasil, você vê que só tem floresta em pé onde há presença dos povos indígenas. Isso está sendo muito pouco levado a sério, principalmente porque o Brasil fala, mas não cumpre com o que vem prometendo."

Genocídio

Perguntada sobre a tese de genocídio dos povos indígenas defendida inicialmente pela CPI da Covid, Txai diz concordar que esses povos são alvos de um extermínio. A imputação do crime de genocídio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acabou ficando de fora do relatório final da comissão.

"É exatamente isso que a gente está passando, um genocídio... durante a pandemia, perdi duas avós, tios, primos. É sim um genocídio. Tudo o que a gente vem passando, toda invasão, o desmatamento que vem assolando as nossas terras indígenas", disse Txai.

Ela relembrou de uma visita recente à terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, onde viu criação de gado. "O governo incentivou a invasão das terras indígenas, que leva a nossa perseguição, e ameaça a nossas vidas. Então sim, é um genocídio e deveria ser chamada como tal". 

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