Lúcio Alcântara sobre Bolsonaro e vacinas: "ele é contra uma política do governo dele"

Ex-governador do Ceará avaliou que presidente da República "erra gravemente até contra ele" próprio; vídeos com declarações de Bolsonaro sobre vacinas foram excluídos por redes sociais

O ex-governador Lúcio Alcântara (PSDB) avalia que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comete erros graves, até contra a própria gestão, quando vai contra políticas do governo federal. Ele explica que cabe a União o envio de vacinas para os estados e o mandatário, ao desdenhar das vacinas, acaba agindo contra si mesmo.

“Eu acho que presidente Bolsonaro erra gravemente até contra ele. Eu pergunto: quem é que manda a vacina para os estados? É o governo federal. Quem é o governo federal? É ele. E ele é contra a vacina. Ou seja: ele é contra uma política do governo dele. Vai entender isso. Não tem sentido”, questiona o tucano.
O mandatário fez diversas críticas à vacina contra a Covid-19 e, na última quinta-feira, 21, fez uma associação mentirosa entre a vacinação contra a doença e o desenvolvimento do vírus da Aids. A fala rendeu ao ocupante do Planalto diversas manifestações de associações médicas, suspensão do canal dele no YouTube por uma semana e a exclusão do vídeo no Instagram e Facebook.

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Alcântara reflete que o país enfrenta hoje uma conjuntura em que falta equilíbrio entre os Poderes e as opiniões e o comportamento de Bolsonaro contribuem para isso. “A essência da política é a controvérsia”, considera. “Não existe um polo sem outro e a verdade, muitas vezes, está nos dois. Não existe totalmente certo nem totalmente errado. A divergência, no limite democrático, que é enriquecedora, está fazendo falta ao Brasil”, Avalia Lúcio, que continua citando a estratégia do presidente.

“Ele [Bolsonaro] tem uma linguagem tosca. Eu não votei nele, não voto, não tenho nenhuma afinidade por ele, mas nem por isso eu vou dizer que ele não tenha razão em algumas de suas propostas. Mas não tem o tato, não tem uma forma cordial, gentil, tolerante, respeitosa de encaminhar as coisas. Ele contribui muito para esse clima de radicalização, como se soubesse viver ali. Tem que respeitar o judiciário, o Congresso”, ressalta o também ex-senador em entrevista Conexão Política, programa da TV e FM Assembleia.

O ex-gestor acredita que falta equilíbrio entre os Poderes no Brasil, fenômeno que pode prejudicar inclusive o mandato de um novo presidente, mesmo que este venha a ter um perfil mais moderado, em comparação com Bolsonaro. “Eu acho que aquele principio da Constituição de equilíbrio entre os Poderes precisa de maior atenção. Tem que conviverem, se respeitarem e conhecerem os seus limites”, aponta.

“O próximo presidente, seja quem for, certamente será, se o Bolsonaro não for reeleito, alguém muito mais tolerante, mais hábil, mais comunicativo, mais respeitoso, mas vai ter muita dificuldade para governar porque o modelo institucional brasileiro está muito comprometido. Não há um senso de responsabilidade mais fundo entre os poderes visando o bem-estar do brasileiro, o progresso e o desenvolvimento do país”, continua Alcântara.

Novas lideranças

O tucano argumenta que a solução política para o país não é fácil e passa pela construção de grandes lideranças, coisa que, segundo ele, está em falta atualmente.

“O Bolsonaro e os seus adeptos tem falado aí numa nova política. Cadê essa nova política? Muitos desses novos, desses que chegaram ao parlamento, tanto no senado como na Câmara dos deputados, são despreparados. Não tem, inclusive, noção do seu papel e das suas atribuições, das suas obrigações, do que é o convívio democrático, do que é divergir respeitando. E aí, cria-se esse clima”, diz.

“Está fazendo falta um grupo de líderes que, de alguma forma, comandem, que tenham capacidade de arregimentar. Não é sobre fazer mais leis. Nós temos é lei demais. Tem até umas que pegam e outras que não pegam. O problema não é fazer lei, é respeitar o que existe”, consolida o ex-governador.

Lúcio diz que tem estudado a conjuntura nacional e, seguindo pensadores, chega à conclusão de que o país precisa de uma reforma de “índole”, em que os brasileiros sejam ensinados a respeitar “as pilastras do regime democrático”, como a divergência, a probidade e a tolerância. Além do respeito ao que é público.
Segundo o político, trata-se de um problema de educação, mas que não diz respeito somente ao letramento. “Estamos vendo muitas pessoas com nível superior pregando barbaridades”, salienta.

A saída do PSDB e da política

Durante a entrevista à jornalista Kézya Diniz, Alcântara comentou sobre o processo de saída do PSDB, em 2007, após conflitos internos com Tasso Jereissati, presidente nacional do partido. Na época, Lúcio acusou Jereissati de não se engajar na campanha para reelege-lo ao Governo do Estado e ainda apoiar Cid Gomes, na época, do PSB, na corrida para o cargo. Do outro lado, Tasso acusou o Alcantara de não contribuir para a campanha de Geraldo Alckmin para presidente.

“Eu fiquei muito magoado com o que fizeram comigo em 2006. Não porque não me apoiaram, mas pela maneira como fizeram”, assumiu Alcântara. “As relações políticas são muito volúveis, mas você precisa ter o mínimo de lealdade”, enfatizou.

Ele explica que voltou ao PSDB a pedido de Roberto Pessoa, atual prefeito de Maracanaú, mas não o fez com intenção de buscar novos cargos políticos. Segundo o ex-governador, ele sofreu um “impeachment doméstico”, com pedidos da família para que não retome à carreira política.

“Ao voltar para o PSDB, eu atendi a um pedido do Roberto Pessoa, que ia para o partido e fazia questão fechada da minha companhia, não abria mão. Aí eu não fui teimoso e aceitei. E também porque queria apagar o mal-estar que ainda sobrexistia entre o Tasso e eu. Então, a volta para o PSDB foi uma forma de dizer ‘ó, tá bom, passou’. Por isso eu voltei. Mas sem nenhuma pretensão eleitoral, nem de nenhum cargo, nem de ser líder, nem chefe político”, conta.

Atualmente, a presença de Lúcio Alcântara na vida pública se dá por meio de apoio a Roberto Pessoa, amigo pessoal, e a capitão Wagner, que, segundo Lúcio, “entrou na política” pela mão do ex-governador.
Em sua carreira, Lúcio Alcântara já ocupou os cargos de governador do Ceará, vice-governador, secretário de saúde, prefeito de Fortaleza, deputado federal e senador da República.

Além de sua atuação como político, Lúcio Alcântara tem uma vasta produção intelectual, com mais de 40 obras publicadas. É titular da cadeira 26 da Academia Cearense de Letras e participou do programa Os Colecionadores, do Núcleo de Documentários da TV Assembleia, com uma coleção de mais de 20 mil publicações.

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