Ministério da Agricultura afirma que Guia Alimentar do MS "ataca sem justificativa" alimentos industrializados e pede revisão das recomendações

As recomendações alimentares são feitas por meio do guia elaborado pelo Ministério da Saúde em parceria com entidades de Nutrição do País

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento teceu duras críticas ao “Guia Alimentar Para a População Brasileira” em nota técnica enviada ao Ministério da Saúde (MS), responsável pela publicação do documento. A pasta afirmou que o documento apresentava uma analises “confusas e incoerentes” que prejudicava o objetivo de promover a alimentação adequada e saudável para os brasileiros.

O Ministério da Agricultura pontuou ainda que o documento se destinava a um “ataque sem justificativa” a industrialização de alimentos e pediu revisão completa do material e das classificações usadas para recomendar ou não determinados tipos de alimentos, como os ultraprocessados. As solicitações do Ministério foram encaminhadas na noite desta quarta-feira, 16 e repercutiu nos órgãos associados a área de Nutrição.

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Em entrevista ao O POVO, a Presidente da Federação Nacional dos Nutricionistas do Brasil, Fátima Fuhro, pontuou que a medida deve ser vista como um retrocesso. Atuante na área desde 1973, ela disse ter ficado surpresa com os argumentos usados pelo ministério para criticar o Guia. “A gente que é da área, lê uma coisa dessa e custa a acreditar porque eles não têm fundamentação científica nenhuma. Você vê que é um fundamento de fundo econômico sem nenhum cuidado com a saúde”, pontuou.

Na argumentação do Ministério da Agricultura, existem ainda críticas diante da metodologia de classificação dos alimentos. No Guia, os itens ultraprocessados são apresentados como produtos de baixo valor nutricional e por vezes associados ao desenvolvimento de doenças como a desnutrição, obesidade, diabetes e pressão alta. A afirmação, para o Ministério é “cômica”, “generalista” e “contraditória”.

A pasta destacou ainda que o Guia, ao preconizar o consumo de alimentos in natura, retira a “autonomia alimentar” dos brasileiros, tolhendo da população o direito de escolha sobre qual dieta alimentar irá seguir. Em nome da FNN, entidade que congrega a atuação de todos os sindicatos estaduais de nutricionistas no país, Fátima frisou novamente que as afirmações são “absurdos”. Ela chegou a pontuar que  a medida age como se fosse uma “guerra” aos objetivos de bem-estar e saúde buscados pelas entidades de saúde do País, das quais o setor da nutrição é aliado.

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“O pano de fundo que está por trás desse pedido de revisão do guia é a grande pressão do agronegócio e da indústria de alimentos, porque o guia alimentar preconiza o consumo dos alimentos in natura (sem processamento industrial) e vai contra os interesses de venda das indústrias e de produção do agronegócio, se preocupando com o ser humano”, explicou.

O GUIA E SUA DEFESA

Publicado em 2014, o Guia Alimentar para a População Brasileira foi elaborado entre 2011 e 2014, sendo reconhecido como um dos mais completos do mundo pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 2016. O documento busca destacar aspectos sociais, econômicos e culturais na elaboração de orientações para a população sobre as práticas alimentares e seus impactos na saúde. Ao todo o material recebeu 3.125 contribuições de 436 indivíduos e instituições públicas, privadas e do terceiro setor, incluindo a academia e o setor produtivo em um longo processo de estudos.

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Com o histórico de desenvolvimento e reconhecimento internacional de sua eficiência e qualidade, a FNN, ao lado da Associação Brasileira de Nutrição, dos Conselhos Federal e Regionais de Nutrição e da Executiva Nacional dos Estudantes de Nutrição, repudiam veementemente as declarações e o pedido de revisão do Guia feito Ministério da Agricultura.

As entidades publicaram uma nota conjunta na noite desta quinta-feira, 17, expressando indignação diante da falta de embasamento científico nas críticas feitas às recomendações de alimentos não processados. “O uso da classificação de alimentos segundo o Upo de processamento considera evidências científicas recentes que demonstram que uma alimentação baseada no consumo de alimentos processados e ultraprocessados está associada ao aumento da morbidade e da mortalidade por diversos agravos à saúde, especialmente as doenças crônicas não transmissíveis”, afirmam em nota.

Os órgãos encerram seu posicionamento frisando a importância de haver um guia, organizado com evidências científicas, que promova estratégias que garantam a soberania e a segurança alimentar e nutricional da população, mesmo em cenários de vulnerabilidade econômica e social, agravados pela pandemia de Covid-19. E “ao mesmo tempo, conclamam Nutricionistas, Técnicos em Nutrição e Dietética e todos os cidadãos” a utilizar o Guia, divulgá-lo e defendê-lo.

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