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Nota de repúdio do PCC sobre "diálogo cabuloso" com o PT é falsa e usada para atacar o partido

A informação de que a carta seria falsa partiu do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC desde 2005 e é considerado um dos principais especialistas no combate ao grupo criminoso
14:45 | Ago. 19, 2019
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Tipo Notícia

Uma carta que foi atribuída a Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital, que consiste em uma nota de repúdio à divulgação de áudio em que um membro da facção dizia ter um "diálogo cabuloso" com o Partido dos Trabalhadores (PT) é falsa e seria usada para atacar o partido.

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC desde 2005 e é considerado um dos principais especialistas no combate ao grupo criminoso, foi consultado pelo Estadão sobre a carta. Ele é o responsável pelo pedido de remoção de Marcola para um presídio federal no fim do ano passado.

A carta indica que o PCC não aceita ser associado com o PT
A carta indica que o PCC não aceita ser associado com o PT (Foto: Reprodução/Facebook)

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Segundo o promotor, caso a mensagem fosse real apareceria em comunicação entre presos, o que não foi detectado pelos investigadores. "É muito pouco provável que isso possa circular na mídia e em redes sociais e não nos meios dos criminosos", explica Garkiya.

A carta também cita o "Estatuto do PCC", que apresenta as regras da organização criminosa. O texto afirma que a facção "rouba dos ricos", mas não "busca ferir o trabalhador que pega ônibus e trens lotados". A facção foi responsável por ataques a ônibus em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte em 2018.

O uso de tal "Estatuto", de acordo com Garkiya, se dá pelo fato de ele ser "praticamente de conhecimento público", já que foi divulgado por veículos de comunicação e denúncias do Ministério Público. "Não se trata de um estatuto de uma organização regular ou pública, é uma organização criminosa".

Desde 2005, quando começou a investigar a organização, o promotor já encontrou diversos "salves", os comunicados internos da facção, mas tal carta não se encaixa nos padrões. "O PCC é uma organização criminosa que age na clandestinidade, e que não costuma anunciar previamente o que vai fazer ou vir à opinião pública para esclarecer uma situação", afirmou.

A reportagem da Estadão também entrevistou a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC paulista e autora do livro "A Guerra: a ascenção do PCC e o mundo do crime no Brasil". Para ela, a carta tem indícios de ter sido feita por uma pessoa que "não sabe absolutamente nada" a respeito do PCC.

"Primeiro, não é uma linguagem que é utilizada pelos integrantes da facção. Não dá pra ver nenhuma gíria e nada do que é utilizada ali tem qualquer embasamento em documentos que circulam [sobre o PCC] ou na maneira que eles [integrantes do PCC] se expressam. Segundo, é assinado supostamente com o nome do Marcola. Eles não se comunicam com as assinaturas pessoais e de pessoas específicas, e sim com assinaturas e documentos que remetem ao setor do PCC que emitiu aquele comunicado", esclarece Camila.

A citação ao Cartel de Cali e aos princípios do PCC de "roubar dos ricos" é claramente falso, segundo a socióloga. "Não tem nada a ver. O PCC não tem qualquer relação com carteis colombianos no sentido de adotar a mesma cartilha, não existe isso".

Para o promotor Lincoln Gakiya, "é pouco provável" a existência de um vínculo entre o PT e o PCC. "O que eu poderia dizer é que não tem lógica: o governo do Estado de São Paulo é do PSDB. No governo federal, os últimos dois anos era o governo Temer. Em que ajudaria o contato do PCC com o PT? Aqui em São Paulo nunca pegamos isso", concluiu.

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