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Suécia enfrenta acusações de "sequestro" de crianças muçulmanas

08:05 | Fev. 23, 2022
Autor AFP
Tipo Notícia

Acusadas de "sequestrar" sistematicamente crianças de famílias muçulmanas, as autoridades da Suécia tentam combater as denúncias como uma campanha de desinformação, em meio ao receito das famílias de migrantes e manifestações com ares de complô.

No fim de 2021 surgiram os primeiros vídeos amplamente divulgados nas redes sociais que mostravam crianças em pânico, seus pais chorando, alguns deles durante operações dos serviços sociais, imagens sem ou com quase nenhum contexto.

Denúncias viralizaram de que o país país nórdico seria um Estado fascista que sequestra as crianças muçulmanas para entregá-las às famílias cristãs, que as obrigariam a tomar bebidas alcoólicas e comer carne de porco.

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Preocupado com a controvérsia crescente, citada em vários meios de comunicação do Oriente Médio, o governo sueco trabalha para desmentir a campanha.

"Nós não fizemos absolutamente nada", declarou o ministro da Migração e Integração, Anders Ygeman, à AFP.

Ele disse que a campanha é estimulada "em parte por pais irritados, que fracassaram na educação, e querem culpar as autoridades suecas".

"Mas também há forças mal-intencionadas que desejam explorar a frustração dos pais e semear desconfiança e divisão na sociedade sueca", acrescentou.

Os papéis da plataforma de vídeos "Shuoun Islamiya" ("Assuntos Islâmicos"), que divulgou quase 20 vídeos de acusação, e de uma página do Facebook chamada "Barnens rättigheter, mina rättigheter" ("Os direitos das crianças, meus direitos"), são particularmente questionados, assim como os imãs radicais.

A Agência de Defesa Psicológica, criada recentemente, afirma que muitos vídeos são antigos e usados para "polarizar" a questão.

Para Julia Agha, diretora do meio de comunicação sueco em língua árabe Alkompis, a entrada de personagens estrangeiros, incluindo islamitas influentes, "adicionou um filtro religioso" e ajudou a criar uma "campanha de ódio contra a Suécia".

Em um país que concedeu asilo ou reunificação familiar a mais de 400.000 pessoas na última década, a rejeição também é expressada nas ruas.

Várias manifestações aconteceram este mês em Estocolmo, Gotemburgo e no fim de semana passado em Malmö, com cartazes de "prendam os sequestradores das nossas crianças" e denúncias de estupro e abuso sexual de menores de idade.

Mariya Ellmoutaouakkil, mãe de família de 35 anos, que chegou à Suécia procedente do Marrocos há 12 anos, organizou um protesto contra os serviços sociais da pequena cidade de Gallivare, norte do país.

Dois de seus três filhos, de 6 e 19 anos, foram colocados sob cuidados no ano passado por suspeita de violência familiar.

Ela disse que a decisão depende das entrevistas feitas pelos agentes dos serviços sociais com seus filhos, às quais ela não teve acesso.

Mariya reconhece que não é um "sequestro", mas entende por que os pais usam a palavra.

"Para mim, como mãe, pode começar a parecer um sequestro. Quando, como pais, não recebemos uma resposta, posso entender o uso da palavra", destacou.

Para Mikail Yuksel, fundador do partido "Nyans", um dos objetivos é defender os muçulmanos da "islamofobia" na Suécia, e descartar qualquer campanha como "desinformação" é uma forma muito conveniente de evitar as críticas à lei UVL, que rege a proteção das crianças.

"As estatísticas os serviços sociais mostram que as crianças de pais nascidos no exterior têm duas vezes de passar à proteção que as de pais nascidos na Suécia", disse.

Em 2020, 9.034 crianças na Suécia foram colocadas à força como último recurso, segundo a agência responsável pelos serviços sociais.

"Apenas quando as medidas voluntárias não são mais possíveis e existe um considerável risco de que a saúde e o desenvolvimento da criança sejam afetados, se pode aplicar a UVL", afirmou à AFP uma fonte dos serviços sociais.

No primeiro país a proibir palmadas e qualquer violência física contra crianças há mais de meio século, e onde os direitos das crianças são ensinados desde o jardim de infância, as diferenças culturais podem ser difíceis de superar.

"Quando alguém vem para a Suécia, deve saber que aqui sempre atuamos pelo bem da criança, não dos pais", destacou a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson.

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