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Opinião: Vitória da democracia na Argentina

10:04 | 26/10/2015
Um puxão de orelha no kirchnerismo, uma chance de mudança e um sucesso inegável para a democracia na Argentina. Na opinião da chefe do departamento América Latina da DW, Uta Thofern, resultado das urnas foi positivo. Independente do resultado do segundo turno em novembro: a Argentina já ganhou. Os eleitores deram uma lição em todos os prognósticos mentirosos das pesquisas de intenção de voto e apontaram os limites do populismo governista. O resultado eleitoral não significa nem uma vitória da oposição nem uma rejeição completa à atual política. Ele é, sobretudo, uma prova de responsabilidade dos eleitores. Daniel Scioli, candidato da presidente Cristina Kirchner, vai enfraquecido para o segundo turno. Em vez de uma larga vantagem ou até mesmo de uma vitória no primeiro turno, ele vai disputar uma corrida apertada contra seu adversário conservador Mauricio Macri. O fato de Macri ter conseguido até passar à frente de Scioli durante a contagem de votos aumenta a humilhação da ala Kirchner. Falta a Scioli o carisma de palanque de Kirchner, e suas promessas de "continuidade da mudança" lembram um pouco o "ultrapassar sem alcançar" do período tardio da ex-Alemanha Oriental. Além disso, há o fato de Scioli não ser o candidato ideal da atual presidente argentina. Enquanto sua paixão pela causa sempre foi digna de credibilidade, ele parece muito menos convincente quando anuncia, por exemplo, a continuidade de programas sociais e propaga, ao mesmo tempo, uma abertura cautelosa da economia e até mesmo negociações com os tão odiados "fundos abutres". Por falta de alternativas promissoras, a escolha de seu nome aponta para considerações táticas da ala governista; o resultado eleitoral comprova que os eleitores não se deixam enganar. Mas, para a oposição, chegar à presidência ainda é algo bastante incerto, apesar de o inesperado e bom desempenho de Macri mostrar como é grande, atualmente, o descontentamento com a inflação, má gestão econômica e corrupção. Mas isso ainda não é suficiente para uma vitória eleitoral no segundo turno, e ainda está completamente em aberto para que lado os eleitores do terceiro colocado Sergio Massa um separatista da ala peronista de Kirchner vão pender. Consta que Macri não representa somente outra política econômica, mas também outra política externa: distanciando-se fortemente do populismo de esquerda de outros governos latino-americanos e aproximando-se novamente dos EUA. Para muitos argentinos, que alcançaram uma nova autoconfiança a partir da política nacionalista em parte agressiva de Cristina Kirchner, isso seria um retrocesso. No segundo turno, o que está sendo votado é também um modelo neossocialista latino-americano, que se estendeu a partir do novo milênio da Venezuela à Argentina, passando pelo Equador e Bolívia. A maior parte das esperanças, no entanto, se encontra hoje em pedaços. O progresso não vem somente por meio de programas sociais. Mesmo assim, é difícil se despedir de esperanças. As semanas que antecedem o segundo turno serão observadas com atenção pelos países vizinhos e virão acompanhadas de propaganda. O resultado está em aberto, mas, depois do primeiro turno, uma coisa é certa: a estabilidade da democracia argentina foi comprovada, 32 anos depois do fim da ditadura. Os temores de fraude na contagem de votos não se confirmaram, a participação eleitoral foi alta, os eleitores articularam um claro "tanto um quanto outro" um convite a concessões. Após anos de uma total polarização, essa eleição é acompanhada de um sinal maduro de esperança. Se isso for captado pelos políticos, a Argentina poderá viver em harmonia com os dois possíveis vencedores eleitorais. Autor: Uta Thofern (ca)Edição: Francis França
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