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Wikileaks mostra sinais de enfraquecimento

16:13 | 06/03/2013
Informante Bradley Manning senta no banco dos réus e o fundador Julian Assange permanece em asilo político na Embaixada do Equador. Wikileaks já nao é o mesmo. Mas deixa seguidores no mundo da espionagem virtual. Na última semana o portal Wikileaks virou novamente notícia. Desta vez, o motivo não foi a divulgação de informações sigilosas contidas em documentos confidenciais, mas a revelação do soldado norte-americano Bradley Manning que, após quase três anos na prisão, declarou que contribuiu com o Wikileaks repassando informações secretas. O informante de 25 anos trabalhou, em 2009 e 2010, como analista do serviço secreto americano, em Bagdá. Agora, ele senta no banco dos réus de um tribunal militar. Contra ele pesam as acusações de ter entregue ilegalmente ao Wikileaks análises secretas do Iraque e do Afeganistão e despachos diplomáticos do Departamento de Estado dos EUA. Ele teria, também, repassado para o portal dois vídeos de áreas de combate, além de papéis classificados como confidenciais. O Wikileaks publicou entre 2010 e 2011 mil documentos, mas sempre sem divulgar as fontes. O caso é tido como o maior vazamento de informações confidenciais da história dos Estados Unidos. Tudo se volta contra Assange A confissão e o processo de Manning até trazem alguma atenção para o Wikileaks, avalia o blogueiro da área de política e especialista em internet, Markus Beckedahl. Mas atualmente o portal gira muito em torno de si mesmo e do seu polêmico fundador. "O Wikileaks só terá chance se eles retornarem para o propósito inicial do portal. É preciso haver um lugar seguro para onde as pessoas possam enviar documentos e apontar irregularidades", acrescenta. Além disso, a plataforma deve cuidar para que as informações fiquem disponíveis sem censura na internet, completa ele. Assange encontra-se asilado desde julho de 2012 na Embaixada do Equador, em Londres. O país sul-americano ofereceu-lhe refúgio após o pedido de extradição feito pela Suécia, país onde ele teria que responder judicialmente por crimes sexuais. Os Estados Unidos também o acusam de ter revelado documentos confidenciais. Canais de informação bloqueados O Wikileaks foi fundado em 2006 e despertou a atenção internacional para si, quando trouxe à tona diversas publicações altamente sigilosas. Entre elas, dez mil relatórios da diplomacia americana sobre governos e políticos de todo o mundo, o que ficou conhecido como "cablegate", além de detalhes sobre a Guerra do Iraque. Por diversas vezes páginas específicas do portal foram bloqueadas. Desde setembro de 2010 nenhum arquivo pôde ser mais enviado para lá. Mas nos círculos internos sabe-se que ainda há meios mandar documentos explosivos a Assange e seus colaboradores, acredita Markus Beckedahl. Wikileaks um exemplo O blogueiro cita como grande serviço prestado pelo Wikileaks o fato de o portal ter definido uma tendência: publicar documentos originais. "Textos jornalísticos sempre mudam alguma coisa. Por meio dos textos originais nós podemos checar o trabalho dos jornalistas, e isso torna o jornalismo melhor", diz. Beckedahl espera que, com isso, uma nova geração de jornalistas publique mais originais na internet. Por outro lado, Beckedahl é crítico quanto aos métodos adotados pelo Wikileaks. Por conta de algumas revelações, pessoas teriam ficado em perigo. "Deveriam ter tido mais cuidado e retirar, por exemplo, o nome de pessoas que vivem em sistemas repressivos e que conversaram com a Embaixada dos Estados Unidos", pondera. Ele acredita, porém, que isso teria sido impossível ao Wikileaks, já que eles detinham um grande fluxo de informação. Vários seguidores A ideia de democracia que fundamentou a criação do Wikileaks é, segundo Beckedahl, representativa. Nesse contexto, muitos partilham não somente da ideologia como seguem os passos do portal. "Existem numerosos exemplo das chamadas plataformas de vazamento de dados, inclusive em mídias tradicionais. Jornais online já oferecem esse serviço." Há, ainda, segundo ele, o surgimento de novos portais especializados, como "Balkanleaks". "Eles estão causando furor nos Bálcãs, pois trabalham na mesma linha do Wikileaks. Eles têm um acompanhamento jornalístico e apontam corrupção e problemas nos países daquela região", explica. O antigo funcionário do Wikileaks, Daniel Domscheit-Berg, também fundou um portal, em 2011. A plataforma, chamada "Openleaks", é uma espécie de intermediária com informações abertas para grupos de interesse. Mas segundo Beckedahl, o fundador do Openleaks não poderia e nem gostaria de seguir os passos da sua antiga empresa. "Trata-se de uma nova plataforma à disposição de organizações e da imprensa. Hoje parece que o Openleaks oferece principalmente treinamentos e aconselhamentos", diz Beckedahl. A questão em si expor falhas por meio da publicação de documentos secretos não seria uma novidade, afirma Markus Beckedahl. "Mas o Wikileaks mostrou ao mundo como se parecem os informantes do século 21". Autoria: Günther Birkenstock (jo) Revisão: Francis França

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