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Oscar Maradiaga, um cardeal carismático e controverso

Hierarca da Igreja católica do país considerado o mais violento do mundo devido ao narcotráfico, fez chamados veementes a favor de construir uma nação melhor

11:00 | 12/03/2013
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Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, que com 70 anos figura pela terceira vez como "papabile", é o multifacetado cardeal hondurenho que catapultou seu prestígio na luta social contra a dívida externa, mas que foi arrastado pela divisão aberta em seu país pelo golpe de Estado de 2009.

O carismático arcebispo de Tegucigalpa, cujo nome é cotado como candidato latino-americano para substituir Bento XVI após sua renúncia, não se define nem de esquerda, nem de direita. Em fevereiro, diante da imprensa, criticou o marxismo por suprimir o individualismo e o "capitalismo selvagem" por "exagerar no individualismo".

Hierarca da Igreja católica do país considerado o mais violento do mundo devido ao narcotráfico, fez chamados veementes a favor de construir uma nação melhor: "Nossa Honduras foi um vale de lágrimas, diante de tanta violência e de tanta morte. Todos somos filhos do mesmo pai", disse recentemente.

O homem que sempre foi respeitado e admirado por todos viu sua imagem ser deteriorada após a deposição de Manuel Zelaya por uma aliança de políticos, empresários, militares e outros grupos conservadores, que criticavam o presidente de Honduras por sua proximidade com o presidente venezuelano Hugo Chávez e que o acusavam de querer se perpetuar no poder.

"Golpista"
Foi alvo de críticas depois que, em plena crise política de forte pressão internacional pelo restabelecimento de Zelaya - enviado ao exílio no golpe -, pediu para não retornar porque "poderia desencadear um banho de sangue".

De sorriso fácil, perdeu a compostura diante dos "zelayistas", que levavam em seus protestos de forma zombeteira um personagem com batina, lhe dedicavam grafites com insultos e, em uma ocasião, em uma visita a um bairro pobre, lhe laçaram ovos, pedras e sacos de lixo, chamando-o de golpista.

O religioso, que diz ser vítima do ódio e da divisão em seu país, chegou a denunciar publicamente ter recebido ameaças de morte depois de, segundo suas palavras, tomar "uma posição em defesa da democracia". Desconhecidos dispararam contra seu escritório, no centro da capital, embora ele estivesse fora do país.

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Carreira brilhante
Poliglota (fala espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, português, latim e grego), amante da música (saxofonista, pianista e guitarrista) e piloto de avião, Rodríguez Maradiaga nasceu em 29 de dezembro de 1942 em Tegucigalpa, no seio de uma família de classe média.

Quando era criança, "desejava ser piloto e com toda a minha alma aprendi a voar. E, ao fazê-lo, me aproximava mais de Deus", contou à imprensa o cardeal, que afirma que aos 14 anos pilotava uma aeronave Cessna, sem permissão de seus pais nem licença, por ser menor de idade.

Cursou o ensino fundamental e médio com os salesianos e em 1960 se formou como professor. Entrou na Congregação Salesiana de Dom Bosco em 1961 e no Seminário Maior de Tegucigalpa, onde estudou teologia, filosofia e música.

Vestiu pela primeira vez a batina de sacerdote em 1970 aos 28 anos na Guatemala, onde iniciou sua vertiginosa carreira ao assumir em 1975 o cargo de decano da Faculdade de Teologia da Universidade Francisco Marroquín.

Em 1981, retornou a Honduras e exerceu três anos como bispo da Diocese de Santa rosa de Copán, região do oeste onde então se refugiavam milhares de salvadorenhos que fugiam da guerra civil em seu país, a maioria dos quais eram a base social da guerrilha.

Converteu-se em seu guia espiritual e levantou sua voz contra a repressão das autoridades contra os refugiados e o uso feito pelos Estados Unidos do território hondurenho em sua luta para tirar os sandinistas (esquerda) do poder na Nicarágua.

Em 1993, foi nomeado arcebispo de Tegucigalpa. De 1996 e 1998, foi presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), de onde liderou a campanha "Globalização da solidariedade", para que a dívida dos países pobres fosse perdoada.

Suas gestões diante dos organismos financeiros internacionais e países credores frutificaram com a Iniciativa de Países Pobres Altamente Endividados (HIPC, em inglês), ao conseguir um perdão de 60% da dívida externa para essas nações.

Em fevereiro de 2001, João Paulo II o nomeou cardeal em reconhecimento por sua trajetória a favor dos pobres e em junho de 2007 Bento XVI o nomeou presidente da Caritas International, cargo que ainda ocupa.

Após a morte de João Paulo II, em 2005, Rodríguez Maradiaga figurou entre os candidatos para substitui-lo. Agora, após a renúncia de Bento XVI, seu nome volta a surgir.

Se mantém em excelente condição para sua idade. Seu esporte favorito é a natação e caminha uma hora todos os dias.

AFP

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