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Morte de Berezovsky segue envolta em enigmas e intriga russos

17:54 | 25/03/2013
Tido por uns como carismático e por outros como "gênio do mal", ex-oligarca exilado no Reino Unido era, sobretudo, um inimigo de Putin. Morte em circunstâncias misteriosas faz lembrar caso Alexander Litvinenko. Quem lê as reações russas à súbita morte do empresário e crítico do Kremlin Boris Berezovsky se depara com a imagem de um oligarca financeiramente abalado e cheio de arrependimento. "Não há nada que eu deseje mais do que retornar à Rússia. Eu mudei muitos de meus pontos de vista", teria dito ele a um correspondente da revista econômica russa Forbes em entrevista supostamente feita poucas horas antes de sua morte e ainda sem previsão de publicação. Em diversas entrevistas à imprensa nacional, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, diz que Berezovsky pediu desculpas ao presidente Vladimir Putin por seus erros e expressou a vontade de voltar ao país. Em janeiro de 2013, uma carta sua, escrita à mão, teria chegado a Putin, mas Peskov mantém sigilo sobre as eventuais reações do chefe de Estado. O outrora poderoso oligarca russo morreu no último sábado (23/03), aos 67 anos de idade. Seu corpo teria sido encontrado por um guarda-costas no banheiro de sua casa, nos arredores de Londres. A causa exata da morte ainda não foi esclarecida. Segundo a polícia britânica, as primeiras investigações mostram que Berezovsky não foi vítima de crime violento. Tampouco foram encontradas na casa substâncias suspeitas radioativas ou químicas. No entanto, ainda é preciso aguardar o resultado definitivo da autópsia e da perícia, segundo as autoridades locais. Ao que tudo indica, o exame para detectar material químico, biológico ou radioativo foi motivado pelo caso de Alexander Litvinenko. O ex-espião russo, confidente de Berezovsky e igualmente opositor do Kremlin, foi envenenado com a substância radioativa polônio em 2006, em Londres. No caso do antigo oligarca, especulou-se também se trataria-se de suicídio ou de morte por motivos de saúde. O ativista da oposição Serguei Parkhomenko registrou em seu blog: "Não posso imaginar que tenha sido suicídio". Entre Yeltsin e Putin Na década de 1990, Boris Berezovsky assumiu um papel importante na política russa. Após a queda da União Soviética, o doutor em Matemática se tornou um dos assim chamados "oligarcas" poderosos empresários com conexões com a política. Entre outras atividades, ele faturava milhões com a venda de carros de Ladas russas a limusines Mercedes importadas da Alemanha. Além disso, controlava alguns bancos, firmas de petróleo, a companhia aérea Aeroflot e diversos veículos de mídia, inclusive a ORT, mais popular emissora de televisão do país. Testemunhas da época asseguram que sua influência sobre o então presidente Boris Yeltsin teria sido enorme. Segundo a imprensa nacional, foi Berezovsky o responsável por, em 1999, sugerir o então pouco conhecido Vladimir Putin ao adoentado Yeltsin como seu sucessor à frente do Kremlin. Contudo, após a vitória eleitoral de Putin, no ano seguinte, ambos romperam a relação. Mais tarde, Berezovsky conseguiu asilo no Reino Unido, transformando-se num dos mais severos críticos do sistema político russo. Ainda assim, foi condenado à revelia a 13 anos de prisão no país natal por crimes econômicos outros processos contra ele seguiam em andamento. Estima-se que, nos últimos anos, a conta bancária do ex-bilionário tenha encolhido significativamente. Em 2011, a Forbes estimou sua fortuna em 700 milhões de dólares em 2008 ela supostamente ainda era o dobro. No final de 2012, Berezovsky sofreu uma amarga derrota, quando um tribunal londrino indeferiu sua queixa contra um outro oligarca russo, Roman Abramovitch, por suposta fraude na compra de ações de uma companhia petroleira. Como consequência, Berezovsky teve que arcar com custos judiciais de 53,3 milhões de dólares. Personalidade intrigante A notícia da morte do ex-oligarca intrigou os russos. Muitos o consideravam um "gênio do mal". "Que final inesperado, estou chocada", escreveu em seu blog a jornalista Ksenia Larina, da emissora de rádio Echo Moskwy. Embora não tenha conhecido Berezovsky pessoalmente, ela conta que pôde sentir o seu carisma durante uma entrevista por telefone. Segundo o porta-voz Peskov, o empresário não teve influência sobre a política russa atual. Essa opinião é compartilhada pelo oposicionista Boris Nemtsov. Em entrevista à Deutsche Welle, ele afirmou que Berezovsky jamais apoiou financeiramente a oposição política em seu país. Segundo outros veículos de imprensa, contudo, isso não seria verdade. De todo modo, não há provas em nenhum dos dois sentidos. "Há dez anos Berezovsky estava isolado da política russa", afirma à DW Dimitri Oreshlin, sociólogo moscovita e antigo membro do Conselho Presidencial de Direitos Humanos. Em sua terra, o oligarca exilado era visto como um "príncipe mítico dos infernos". Assim, alguns políticos insistiam que ele estava por trás da controvertida banda punk Pussy Riot alegação que Berezovsky sempre desmentiu. Em dezembro de 2012, o canal de TV estatal Rossiya 1 divulgou que Berezovsky teria ordenado alguns assassinatos, entre os quais o de um apresentador de televisão e o de um parlamentar. As investigações ainda estão em curso.

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