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Marc Ouellet, cardeal de ferro e grande conhecedor da América Latina

Em 2011, quando um jornal o questionou sobre as possibilidades de virar Papa, Ouellet respondeu: "Seria um pesadelo... uma responsabilidade esmagadora"

11:20 | 12/03/2013
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O cardeal canadense Marc Ouellet já chegou a afirmar que virar Papa "seria um pesadelo", mas este defensor ferrenho da ortodoxia, que viveu muitos anos na Colômbia e comanda a Pontifícia Comissão para a América Latina, é considerado um dos favoritos para suceder Bento XVI.

Ouellet, um teólogo de prestígio, de 68 anos, provocou fortes polêmicas em Quebec, a província francófona do Canadá, ao defender nos anos 2000 as posições do Vaticano contra o casamento gay e contra o aborto, inclusive nos casos de estupro, e criticar a "decadência" de uma sociedade na qual duas em cada três crianças nascem fora do matrimônio.

A imprensa canadense o apelidou de "cardeal de ferro".

"É o único cardeal que se encontra com o Papa todas as semanas", disse o arcebispo aposentado de Montreal Jean-Claude Turcotte, ao comentar a relação de confiança de Ouellet com Bento XVI, que renunciou oficialmente em 28 de fevereiro ao pontificado.

O cardeal poliglota (que fala francês, inglês, espanhol, português, alemão e italiano), bronzeado pelo sol da Itália, é discreto e não tem perfil midiático. Tem a reputação de homem de ação, que não esconde suas convicções, a ponto de tentar convencer quem não as compartilha.

Terceiro de uma família de oito filhos, Marc Ouellet nasceu em junho de 1944 em uma área do norte de Quebec que na época tinha colonização recente. Uma região de lenhadores e de minas de ouro.

Seu pai era diretor de escola. Aos 17 anos, ao ler "Introdução à vida devota", de São Francisco de Sales, este jovem forte e atlético, fã de hóquei e natação, decidiu virar padre.

"Uma responsabilidade esmagadora" Ouellet se formou em Teologia em Montreal no momento em que a sociedade de Quebec começava a dar as costas à Igreja Católica, guardiã da língua e das tradições francesas desde a conquista britânica em 1760. Em 1968 foi ordenado padre.

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Entre os anos 1970 e 1980 passou longas temporadas na Colômbia, onde formou milhares de religiosos como reitor e professor dos Seminários de Manizales, Cali e Bogotá.

Após sua designação como reitor do Grande Seminário de Montreal, em 1990, sua carreira conhece uma ascensão fulgurante. Em 2001 foi nomeado bispo e um ano depois arcebispo.

Em 2003, João Paulo II o nomeia cardeal e dois anos depois quando este morre, aparece pela primeira vez entre os candidatos com possibilidades de virar Papa.

Bento XVI o designa em 2010 prefeito da Congregação para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, um organismo da Cúria Romana (o governo do Vaticano).

No fim do mesmo ano, brilhou pela capacidade e temperamento no congresso internacional "Ecclesia in América", o evento que abriu o Ano da Fé decretado por Bento XVI.

Em 2011, quando um jornal de Quebec o questionou sobre as possibilidades de virar Papa, Ouellet respondeu: "Seria um pesadelo... uma responsabilidade esmagadora".

No entanto, esta semana admitiu, em entrevista a Rádio Canadá, que por sua posição deveria "estar preparado" para qualquer eventualidade.

"Devo ir ao conclave pensando: 'e se acontecer...', 'e se acontecer...'. Confesso que isto me faz pensar, orar, inclusive provoca um pouco de temor", confessou, antes de destacar que o futuro papa deveria abordar, entre outros grandes temas, os novos meios de comunicação, por sua grande influência sobre os jovens.

Mas um obstáculo maior pode surgir em um eventual caminho de Ouellet até o Trono de Pedro: vítimas de abusos sexuais do clero publicaram esta semana uma lista de 12 papabile que teriam acobertado tais crimes, na qual o canadense aparece ao lado de cardeais da Argentina, Austrália, Estados Unidos, Gana, Honduras, Itália, México e República Tcheca.

"Queremos estimular os prelados católicos a deixar de fingir que o pior passou a respeito dos abusos sexuais do clero e que deixem de esconder crises", afirmou David Clohessy, diretor da Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres (SNAP), com sede nos Estados Unidos.

"Tragicamente, o pior quase com certeza está para acontecer", completou.

AFP

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