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Eleição com humor, Berlusconi e incerteza define futuro italiano

12:08 | 22/02/2013
Com Europa atenta, país vai às urnas por dois dias para decidir se reinstaura o "Cavaliere" no poder ou se dá governo ao social-democrata Bersani. Ex-ator Beppe Grillo e premiê Mario Monti podem ser chave em coalizão. Ele fala como uma metralhadora. Livre, sem manuscrito, por mais de uma hora. O cabelo longo, grisalho e ondulado balança quando o homem atarracado, vestido numa parca acolchoada, sobe ao palco e agarra o microfone com a mão direita a esquerda ele usa para gesticular. Os gestos e as piadas encaixam. Beppe Grillo ganhou fama como humorista e ator, mas há alguns anos vem dando calafrios em políticos italianos consagrados. Seu movimento, o Cinco Estrelas, cresce cada vez mais e teve sucesso nas eleições regionais e municipais. Beppe Grillo quer agora entrar para o Parlamento nacional, através das eleições legislativas deste domingo e segunda-feira (24-25/02). As pesquisas de intenção de voto colocam seu movimento como a terceira força na corrida eleitoral, à frente do bloco do atual primeiro-ministro, Mario Monti. O ex-ator batizou de "Tsunami" o seu giro pela Itália em busca de votos. Ele mira nos insatisfeitos, não é de direita nem de esquerda, mas convence com teses populares. Diante de cerca de 70 mil pessoas em Turim, Grillo se lança contra o plano de austeridade do governo Monti, que defende a elevação da idade mínima de aposentadoria para 70 anos. "É ele que deveria se aposentar. Não queremos aposentadoria aos 70 anos, e sim aos 60. E basta!", diz, ovacionado, o ator, que descarta fazer parte de qualquer coalizão com grandes partidos. O movimento Cinco Estrelas, afirma, dará "uma esperança de mudança" para as crianças do país. Sem debates Na atual corrida eleitoral italiana, não houve debates televisivos, pois os outros candidatos de ponta se recusaram a aparecer ao lado do humorista. Cada um batalha individualmente, em suas respectivas entrevistas. Nesse aspecto, o milionário Silvio Berlusconi leva vantagem, já que controla a maior parte dos canais de TV privados da Itália. O conservador Berlusconi, forçado a renunciar em 2011 devido às fracas políticas implementadas em meio à crise europeia, busca um retorno. A última pesquisa publicada antes da eleição coloca a coalizão de centro-direita do "Cavaliere" entre cinco e sete pontos percentuais atrás do bloco de centro-esquerda do social-democrata Pier Luigi Bersani. Há indicações de que Berlusconi teria crescido mais, o que não se pode confirmar, já que as leis italianas não permitem a divulgação de pesquisas nas duas semanas precedentes ao pleito. Berlusconi, de 76 anos e respondendo, no momento, a três processos criminais, acusa a esquerda de mentir e ser responsável pela crise. Junto com o partido xenófobo Liga Norte, ele tenta angariar votos, usando de promessas nebulosas. "A primeira ação do meu novo governo será libertar os cidadãos dos impostos injustos e devolver as taxas de 2012", disse, com pose de estadista, durante a campanha em janeiro. Mario Monti introduziu os impostos na guerra contra a crise. Desde então, Berlusconi cresceu nas pesquisas, e a distância para os social-democratas diminuiu. Os atritos do ex-premiê com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, parecem ter caído bem. Até ameaças de deixar a zona do euro ele já fez aos alemães, caso o Banco Central Europeu não desse dinheiro à endividada Itália. Esquerda favorita Analistas eleitorais não se arriscam a prever uma volta de Berlusconi. "O particular sistema eleitoral italiano dá à bancada mais forte um bônus na divisão de cadeiras no Parlamento. Ela recebe, de qualquer maneira, uma maioria absoluta", explica uma porta-voz da direção eleitoral no Ministério do Interior. No atual panorama, o partido mais forte seria o social-democrata que, aliado aos verdes e a outra legenda de esquerda, daria o poder a Bersani. O ex-comunista e ex-ministro é quem tem mais chances de liderar o futuro governo. Bersani quer, em princípio, levar adiante a reforma política do tecnocrata Mario Monti, mas, ao mesmo tempo, fazer mais pelo crescimento e o emprego no país. "A Europa deve esperar que a Itália seja a solução, e não o problema", afirmou durante visita recente a Berlim. O chefe dos social-democratas brinca com as promessas do concorrente Berlusconi. "Isso é show humorístico, e para isso não tenho tempo", disse em entrevista à televisão. "A única coisa que Berlusconi pode fazer melhor é deixar o cabelo crescer", brincou, em referência à recente operação de beleza a que se submeteu o ex-premiê. De fato, Berlusconi exibe hoje um cabelo relativamente denso, em comparação com a calva de antes. "Bella figura" ou seja, causar uma boa impressão é uma paixão compartilhada também por muitos na Itália. O partido de Mario Monti é, por outro lado, apenas a quarta força. Ele não queria de forma alguma se envolver, mas agora pode desempenhar papel importante na coalizão dos socialistas. Seu apoio pode ser útil para impedir que a coalizão de centro-direita de Berlusconi consiga maioria no Senado. Novo governo, velho caminho? A economia está minguando, e o desemprego está alto. A dívida pública já chega a 130% do Produto Interno Bruto (PIB). Nesse contexto, diz o diretor da Câmara de Comércio Ítalo-Alemã em Milão, Norbert Pudzich, não há grande alternativa para a consolidação do orçamento estatal e para mais reformas na Itália. "Quando se olha para as declarações e o programa de cada partido, os grandes blocos de centro-esquerda e centro-direita concordam amplamente na apresentação dos objetivos. Mas todos aguardam ansiosos como isso será posto em prática no fim das contas", opina. Também na sede da União Europeia, em Bruxelas, esperam-se com ansiedade os resultados da eleição. Em janeiro, no Parlamento Europeu, o comissário europeu para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, alertou sobre uma possível volta de Silvio Berlusconi. No auge da crise financeira na Itália em 2011, disse o comissário, o então premiê fez promessas que não cumpriu. Isso levou a um impasse político. Até aqui, a Itália não recorreu a qualquer socorro financeiro da União Europeia. Pelo contrário: hoje, o país é o terceiro maior contribuidor dos fundos de resgate, atrás apenas da Alemanha e da França. As urnas fecham na segunda-feira, às 15h (11h em Brasília). Informações confiáveis sobre a distribuição das cadeiras no Parlamento só devem chegar à noite, devido ao complicado sistema eleitoral italiano. Segundo pesquisa do jornal Corriere della Sera, entre 25% e 30% dos eleitores ainda estão indecisos. Autor: Bernd Riegert (rpr) Revisão: Augusto Valente

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