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Espacialistas consideram que Hezbollah quer manter governo libanês a qualquer preço

17:13 | 23/10/2012
BEIRUTE, 23 Out 2012 (AFP) -O Hezbollah xiita libanês quer manter a qualquer preço o governo de Najib Mikati, que ele domina, para evitar uma investigação sobre o seu arsenal militar e para ser acobertado pelo Estado em caso de confronto com Israel, acreditam alguns especialistas.

Enquanto a oposição anuncia a sua intenção de derrubar o governo e acusa o primeiro-ministro de acobertar o "crime" após o assassinato de um chefe da polícia sunita anti-Síria, o partido de Hassan Nasrallah espera.

"Nós acompanhamos o que está acontecendo. Não temos nada a dizer. Que Deus proteja o Líbano", afirmou na segunda-feira à AFP uma fonte ligada ao Hezbollah, enquanto a sua emissora de televisão Manar simplesmente cobria os eventos falando de "gangues do Movimento Futuro", um movimento do ex-primeiro-ministro Saad Hariri.

Para o cientista político Amal Saad Ghoraeib, "o Hezbollah se mantém quieto até que tensão diminua".

"Ele sabe que, se a oposição voltar ao poder, ou em caso de um governo de unidade nacional, sua posição se tornará mais difícil em relação ao seu arsenal e ao tribunal internacional que julga os assassinos de Rafik Hariri", explica.

Quatro membros do Hezbollah são acusados de envolvimento no assassinato do ex-primeiro-ministro em um atentado em 2005.

Fortemente armado, o Hezbollah não tem a intenção de se separar de seu arsenal, assegurando que necessita dele para lutar contra Israel, enquanto a oposição o acusa de contar com ele para colocar pressão sobre a política libanesa.

Em caso de mudança, o Hezbollah também teme que o novo governo ofereça "ajuda oficial aos rebeldes sírios ou coloque pressão sobre Damasco", segundo Ghoraeib, autor de "Hezbollah: política e religião".

"No Líbano, a Síria tem problemas com os partidos políticos, mas se o governo mudar, ela terá problemas com o Estado libanês, como já que tem com a Turquia", explica.

Maioria "artificial" O Hezbollah, que conta atualmente com o apoio de 18 ministros dos 30, também quer manter esta cobertura do Estado em caso de um conflito com Israel, explica Wadah Sharara, professora de Sociologia da Universidade Libanesa em Beirute.

"Ele insiste absolutamente, em caso de ataque israelense ou de guerra entre Israel e Estados Unidos de um lado e do outro o Irã, de quem é o mais fiel aliado, em participar da guerra com a vantagem do apoio do Estado libanês", assegura.

Durante a guerra travada em 2006, o partido xiita pró-iraniano tinha criticado o governo, então liderado por Fouad Siniora, próximo a Saad Hariri, de não ter fornecido apoio suficiente.

"Pouco importa a postura e declarações da oposição. O que conta para ele é que a atual maioria, totalmente artificial, construída inclusive com chantagem e ameaças, o apoie", considera Sharara, autor de um livro intitulado "O Estado do Hezbollah".

Para isso pode contar com o líder druso Walid Jumblatt, que é um grande opositor do presidente sírio Bashar al-Assad, mas que tem muito medo de um Hezbollah na oposição e que permitiu a formação do gabinete atual abandonando o lado de Hariri em junho de 2011.

"Atacar o governo (...), e ligar todas as etapas seguintes a uma renúncia do atual governo, vai expor o país a uma desestabilização e fará o país cair de volta na armadilha do regime sírio, que quer criar um vácuo no Líbano", declarou nesta segunda-feira o líder druso.

Além disso, o Hezbollah sabe que a comunidade internacional não quer uma mudança de governo e seus oponentes não podem atacá-lo de frente.

Para Ghassan al-Azzi, professor de ciência política na Universidade Libanesa, o campo de Hariri "concentra seus ataques em Najib Mikati, porque é um rival político para o cargo de primeiro-ministro, e evita atacar frontalmente o Hezbollah porque isso se transformaria diretamente em um confronto entre sunitas e xiitas".

"Atacar diretamente o Hezbollah significa inequivocamente ser claramente a favor da guerra civil", alertou.

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