Fortaleza é a 2ª capital em número de pessoas que usam moto para ir ao trabalho

A moto é o terceiro meio de transporte mais usado na capital por trabalhadores, atrás do ônibus e do carro

06:00 | Out. 13, 2025

Por: Lara Vieira
Adesão ao uso de moto por trabalhadores de Fortaleza é a 3ª do Nordeste (foto: FCO FONTENELE)

Fortaleza é a segunda capital do Brasil com o maior número absoluto de trabalhadores que usam motocicleta para se deslocar ao trabalho. Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta quinta-feira, 9, cerca de 110 mil pessoas que moram e trabalham na capital cearense utilizam a moto como principal meio de transporte.

O quantitativo faz Fortaleza ficar atrás apenas de São Paulo em números de trabalhadores que vão com motocicletas ao trabalho, que lidera o ranking com 163 mil usuários.

Os dados fazem parte da pesquisa “Deslocamentos para trabalho e estudo”, do IBGE, que detalha como os brasileiros se deslocam diariamente para suas atividades laborais e educacionais.

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Conforme o IBGE, o ônibus ainda é o principal meio de transporte usado por quem mora e trabalha em Fortaleza, com cerca de 227 mil pessoas (28,41%) utilizando os coletivos como principal forma de deslocamento entre casa e trabalho.

Em segundo lugar vem o carro, escolhido por 220 mil trabalhadores (27,53%), seguido pela motocicleta, utilizada por 13,75% dos trabalhadores fortalezenses — o equivalente a um em cada sete usuários.

O percentual coloca a Capital como a 10ª cidade do País com maior adesão ao uso de moto por trabalhadores e a 3ª do Nordeste, atrás apenas de Teresina (27,99%) e João Pessoa (16,98%).

Confira os meios de transporte mais utilizados para deslocamento ao trabalho em Fortaleza

Ônibus - 227.839 pessoas (28,41%)
Carro - 220.883 pessoas (27,53%)
Moto - 110.319 pessoas (13,75%)
Bicicleta - 56.079 pessoas (6,99%)

Já os que fazem o trajeto casa-trabalho a pé somam 109.476 pessoas, o que representa 13,65% dos trabalhadores da Capital.

O levantamento também separou algumas categorias específicas de transporte. O BRT (ônibus de trânsito rápido) foi indicado por 2,2 mil pessoas, enquanto vans, peruas ou veículos similares foram mencionados por cerca de 3 mil usuários.

Para o chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ademar Gondim, o crescimento do uso de motocicletas está diretamente ligado à perda de qualidade e de oferta no transporte público coletivo.

“Até 2012, nós tínhamos uma frota de ônibus com média de 3 anos e meio de uso e 1,2 milhão de passageiros por dia. Hoje, a frota tem idade média superior a 8 anos e transporta apenas 500 mil. Para onde migraram esses 700 mil passageiros? Provavelmente para a moto ou para os transportes por aplicativo”, aponta.

Ele explica que a escolha pela motocicleta é, na maioria, uma resposta à falta de alternativas acessíveis e eficientes.

“Se o transporte público não oferece conforto, segurança e regularidade, as pessoas procuram outra opção. O automóvel atende ao conforto e segurança, mas tem um custo muito elevado. A moto se torna a alternativa mais fácil e financeiramente acessível”, observa Gondim.

O especialista destaca, porém, que a motocicleta não deve ser vista como solução para o deslocamento urbano, sobretudo quando para o transporte de passageiros. “Quando se leva passageiro, o risco aumenta muito. Um acidente de moto envolve um veículo que não oferece equilíbrio e exige habilidade. Quem mais sofre, geralmente, é quem está na garupa”, explica.

Em 2024, conforme a AMC, 184 pessoas perderam a vida vítimas de acidentes de trânsito nas vias de Fortaleza. Os motociclistas foram as principais vítimas, representando 55% do total de mortes. Em seguida, aparecem os pedestres (32%), ciclistas (8%) e ocupantes de veículos de quatro ou mais rodas (5%).

Na última segunda-feira, 6, o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), anunciou o projeto Faixa Azul. O objetivo é criar faixas prioritárias para motos em ruas e avenidas mais movimentadas da cidade, Com o intuito de aumentar a segurança e reduzir acidentes.

A ação deve ser implementada, inicialmente, nos bairros Pici e Cocó. Segundo a gestão, elas não serão exclusivas nem obrigatórias, apenas prioritárias, e os motoqueiros deverão seguir todas as regras de trânsito da via.

Para o professor Ademar Gondim, o caminho para reduzir a dependência de transportes individuais passa por uma política de reestruturação do sistema de transporte coletivo. “É preciso aumentar a oferta, com veículos novos, confortáveis e tarifas acessíveis. Não adianta oferecer um serviço se a pessoa não pode pagar”.

No Ceará, a moto é o principal meio de transporte dos trabalhadores

A motocicleta é o principal meio de transporte para grande parte da população ocupada no Ceará, sendo usada por 31,46% dos trabalhadores no trajeto casa-trabalho. O uso da moto é mais intenso em cidades do Interior, com destaque para São João do Jaguaribe (70,71%, 845 pessoas), Tabuleiro do Norte (67,88%, 5.073 pessoas) e Milhã (67,18%, 1.795 pessoas).

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Em contraste, nas cidades mais urbanizadas e próximas à Capital, o percentual de trabalhadores que usam motocicleta é bem menor: Caucaia (18,52%) e Eusébio (17,30%). Apesar de Fortaleza concentrar o maior número absoluto de motociclistas do Estado, o uso proporcional à população ocupada é o mais baixo.

Em termos regionais, o Nordeste concentra o maior número absoluto de trabalhadores que utilizam a motocicleta para ir ao trabalho, com 3,5 milhões de pessoas, o que representa 23,93% do total. No entanto, quando comparado aos demais modais de transporte, a região fica abaixo do Norte, onde 27,53% dos trabalhadores usam moto no trajeto casa-trabalho.