No 7 de Setembro, Grito dos Excluídos discute democracia, direitos e soberania

No 7 de Setembro, Grito dos Excluídos discute democracia, direitos e soberania

O 31º Grito dos Excluídos e Excluídas aconteceu neste domingo, 7, na Praça Dom Helder Câmara, na Praia do Futuro

O 31º Grito dos Excluídos e Excluídas, manifestação que desde 1995 se organiza como contraponto popular ao 7 de Setembro oficial, exibiu cortejo neste domingo, 7, na Praia do Futuro, em Fortaleza. 

Com o tema “Cuidar da Casa Comum e da Democracia é luta de todo dia”, o ato reuniu manifestantes na Praça da Paz Dom Hélder Câmara, de onde seguiu em caminhada até a Comunidade Raízes da Praia, no bairro Vicente Pinzón. 

A manhã foi de falas firmes, performances artísticas, memória coletiva e resistência organizada.

É o desfile das urgências sociais. Cartazes cobravam justiça pelos 11 jovens mortos na Chacina do Curió, em 2015; faixas defendiam o fim da violência institucional, a taxação dos super ricos e a preservação do meio ambiente.

As falas, vindas de lideranças religiosas, movimentos populares e ativistas ambientais, carregavam o peso de quem não apenas observa a realidade. Mas a vive e resiste.

O arcebispo de Fortaleza, dom Gregório Paixão, esteve no evento, cumprimentou os membros das pastorais sociais, leu uma passagem bíblica e deu uma benção. Estava presente também dom Edmilson da Cruz, conhecido por sua firme defesa dos direitos humanos. 

Para Eliana Almeida, da Casa Chiquinha Gonzaga e integrante da organização do evento, o Grito é uma ferramenta viva de mobilização popular. “A gente vem às ruas para reafirmar a nossa democracia, os nossos direitos, a nossa soberania. Para dizer que soberania existe com políticas públicas, com justiça fiscal, com cuidado com o povo e com a terra”.

Ela também chamou atenção para o cenário geopolítico atual: “O País está sendo ameaçado por tarifas, pela especulação internacional. Estão tentando fazer com que o povo pague a conta de crises globais. Nós dizemos não”.

“O Brasil é dos brasileiros e das brasileiras. Nossa independência precisa ser real e construída com participação popular. O Grito dos Excluídos é uma ação que nasce da fé, mas se realiza na política do cotidiano. Ele é espiritual e radicalmente concreto”, declara.

Vozes da resistência

Entre os participantes, o sentimento era de pertencimento e urgência. O professor Flávio Gonçalves, veterano em diversas edições do Grito, destacou o momento como essencial para a democracia. “Cuidar da casa comum é também cuidar da democracia, da justiça ambiental. Quem defende o meio ambiente, defende a vida. Mesmo quem não é de movimento, quem não está ligado a partido ou pastoral, pode e deve estar aqui. Somos todos responsáveis”, enfatizou Flávio.

Ana Paula, empreendedora, e Rafael Viana, contador, participaram do Grito pela primeira vez. Vieram, segundo eles, movidos pela necessidade de se posicionar diante das ameaças à democracia: “A gente vê o País sendo comandado por gente que fala em nome da democracia, mas quer perdoar crimes e apagar a história. Não dá mais para ficar calado. Viemos porque precisamos gritar. Não aceitamos anistia. Democracia de verdade exige Justiça”, observou a empreendedora.

Rafael reforçou o papel da democracia como base da justiça social: “Só num país democrático se constrói política pública que chegue na ponta, que olhe para quem mais precisa. Tirania não cuida de pobre. Cuidar da casa comum é cuidar de todos, do meio ambiente, das crianças, das comunidades. Isso é o Brasil que a gente quer”, afirmou Rafael.

O casal também comentou sobre a experiência de estar no Grito: “É libertador. Aqui a gente se sente ouvido. A violência está presente no cotidiano, mas aqui a gente se sente em segurança para se manifestar”.

Uma Maria Bonita do povo

Entre as presenças mais marcantes estava a de Andrea Rocha, servidora pública, atriz e palhaça, que participou caracterizada como Maria Bonita. Seu personagem levou ao Grito a força simbólica do cangaço e da mulher nordestina.

“Deixei Lampião em casa fazendo o almoço e vim procurar meus meninos e meninas que ainda sofrem. Que ainda não têm seus direitos reconhecidos", disse a artista.

“O 7 de Setembro oficial não nos contempla. O Grito é a nossa independência possível, aquela que ainda está por vir. Como mulher, como artista, como nordestina, eu digo: nós existimos e não somos invisíveis. E vamos continuar ocupando os espaços”, observou a servidora pública. “Se não cuidarmos da nossa casa comum, não vamos sobreviver. O planeta está gritando. E quem mais precisa, sofre primeiro. A recuperação é urgente”.

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