Um mês após receber 20 facadas do ex-companheiro, mulher fala sobre recuperação

Após ser leisonada, a mulher de 48 anos tem dificuldade para cuidar da filha autista. Ela precisou de 283 pontos na cabeça, teve tendões rompidos e passou por uma cirurgia de nove horas

15:36 | Ago. 27, 2025

Por: Jéssika Sisnando
CASA da Mulher Brasileira funciona como rede de proteção (foto: AURÉLIO ALVES)

Um mês após ter sido vítima de tentativa de feminicídio no bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza, a mulher de 48 anos de idade, de nome preservado, tenta um difícil e longo recomeço. No último dia 21 de julho, ela estava na casa da mãe e teve a casa invadida pelo ex-companheiro, com quem se relacionou durante seis meses. A mãe da vítima, de 72 anos, fraturou duas costelas ao tentar intervir nas agressões.

A vítima havia terminado o relacionamento depois de ser agredida. Ela não denunciou o caso e resolveu se afastar do agressor, no entanto, ele a procurou e a esfaqueou. Francisco Ricardo Damásio Oliveira foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. 

O recomeço para a mulher, que é mãe de duas filhas, é marcado por feridas físicas e emocionais. Ela foi esfaqueada mais de 20 vezes, foram 283 pontos na cabeça, todos os tendões do braço esquerdo rompidos e uma cirurgia de nove horas no Instituto Doutor José Frota (IJF).

A sobrevivente está sem o movimento do braço esquerdo, sem os movimentos da mão e terá que passar por um tratamento, que pode durar aproximadamente três anos.  Em entrevista ao O POVO, ela descreveu a dificuldade de ser vítima de uma tentativa de feminicídio.

"O que mais dói é não poder cuidar da minha filha. Ela é autista não verbal, a gente não sabe o que está passando pela cabeça dela. Está com problemas para dormir", relata. 

 

Vítima havia terminado relacionamento após ter sido agredida  

As agressões aconteceram na casa da mãe dela. O homem, inconformado com o término, invadiu a residência pulando o muro.

"Fui para a casa da minha mãe e ia voltar à noite, mas minha mãe pediu que eu ficasse durante o fim de semana. É perto da minha casa, então resolvi que ia ficar o restante das férias da minha filha na casa da minha mãe. Por volta das 16 horas, a campainha começou a tocar e eu fui ao portão, olhei pelo olho mágico e era ele", lembra.

A mulher havia sido agredida anteriormente e relata que optou por não denunciá-lo e se afastar. No entanto, o homem a procurou novamente, inconformado com o término. 

"Resolvi não atender a porta. Na casa estava eu e meu sobrinho, minha filha de sete anos e minha mãe estava no quarto. Quando entrei no quarto só ouvi uma pancada, que foi quando ele pulou o muro e já estava na área da casa da minha mãe", explica. 

"Perguntei porquê ele tinha pulado o muro, mas ele não respondia nada. Estava com um semblante ruim e tirando uma faca de dentro da mochila. E foi para cima de mim, me deu vários golpes, foi horrível. Escorreguei e ele ficou em cima de mim me golpeando", relembra. 

Vizinhos impediram que homem matasse a companheira 

O agressor não teria dito uma só palavra durante a ação criminosa. E só foi impedido de matar a vítima por causa da interferência dos vizinhos. 

Conforme o relato da vítima ao O POVO, o sobrinho dela, que é uma criança, conseguiu abrir a porta e correu pedindo socorro. "Um vizinho de frente entrou e tirou ele de cima de mim, levou ele lá pra fora, meu irmão chegou mais rápido que a ambulância e me socorreram ao IJF", descreve. 


"Está sendo difícil, fica o medo e estou com medo de sair, com pânico de sair, não consigo ficar sozinha, tenho pesadelos. Eu peço a Deus que ele não saia de lá, que pague por esse crime que ele cometeu", finaliza.