Três meses após incêndio, vagão da antiga Estação Otávio Bonfim segue abandonado
Local acumula lixo e mau cheiro, e gera insegurança nos moradores do entorno. Incêndio destruiu a estrutura de madeira do vagão em setembro últimoO solitário vagão enferrujado se destaca na paisagem dourada do pôr do sol na praça do bairro Farias Brito, em Fortaleza. Pessoas caminham e se exercitam ao redor, mas o mau cheiro da estrutura abandonada acua qualquer um que tenha interesse em se aproximar.
O que restou da antiga estação Otávio Bonfim segue causando trastornos aos moradores do cruzamento da Bezerra de Meneses com a José Jatahy. Equipamento foi desativado em 2009.
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O POVO acompanha a situação do equipamento desde maio, antes do incêndio que destruiu toda sua estrutura de madeira, em setembro deste ano. Três meses depois, a parte metálica segue no local acumulando lixo e mau cheiro, relatam os moradores.
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Alzira Porfírio, 67, mora no bairro há 50 anos, costuma levar uma cadeira para sentar-se nas sombras das árvores da praça e acompanhar o movimento de carros e pessoas. Ela conta que adorava viajar nos trens da estação, mas depois que foi desativada, o vagão que restou causou apenas dor de cabeça.
“Ninguém pode passar ali por conta da catinga”, comenta. Alzira relata que pessoas em situação de rua usam o local para fazer suas necessidades, dormir e acender fogueiras para cozinhar.
Maria Fernandes, 77, é residente do local há dez anos. Soube do incêndio por meio de mensagens no WhatsApp de outros moradores. Ela relata que enquanto caminhava chegou a presenciar um casal tendo relações sexuais no vagão. "Eu apressei o paço e não voltei mais lá no mesmo horário, (o local) só estava servindo para isso."
Moradores do entorno querem que vagão seja retirado
Apesar da relevância histórica, os moradores expressam alivio e satisfação com o incêndio. “Ainda bem que tacaram fogo, agora ta melhor porque conseguimos ver o outro lado”, diz Katia Gomes, 50. Ela conta que quando fazia caminhada na praça, apelidou o local de “cagódromo”, devido às fezes no local.
Outros habitantes da região compartilham da mesma visão de Katia. “Foi a melhor coisa que aconteceu com esse vagão. Ele perdeu a parte de madeira e agora conseguimos ver o outro lado, não tem mais como (alguém) se esconder”, diz Antônio de Pablo, 50.
“Foi ótimo terem queimado, agora só falta tirar”, completa Maria Rosali, 64. Ambos moram no bairro há mais de 40 anos e acompanham desgostosos a série de ocorrências que afetam o vagão e a população em torno.
Em 2019, a Prefeitura citou que o compartimento seria transformado em uma biblioteca. Os moradores mencionaram a promessa que nunca foi para frente e acreditam que “se transformassem ele (o vagão) em alguma coisa seria bom. Caso não, o melhor é tirar”, conclui Antônio Pablo.
Vagão recebe "serviços de zeladoria" semanalmente, diz Seger
Por meio de nota enviada ao O POVO, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) informa que "o vagão da antiga Estação Otávio Bonfim recebe, semanalmente, às segunda-feiras, os serviços de zeladoria". Sobre o incêndio no vagão, a pasta aguarda o resultado das investigações conduzidas pelas autoridades policiais.
A gestão municipal esclarece, ainda, que não existiu nenhum projeto de tombamento para o vagão e a estrutura citada foi cedida pela Transnordestina à Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) em 2018. "Projetos futuros para o local serão submetidos à próxima administração municipal", finaliza a nota.