"Morro de medo de ele me matar", disse estudante vítima de feminicídio

Dias antes de ser morta, Bárbara relatou a uma colega o medo de ser vítima de feminicídio e a insistência do ex-companheiro em procurá-la para reatar relacionamento

"Morro de medo de ele me matar porque não quero mais ele". O relato foi enviado a uma amiga por Bárbara Bessa, mãe de três crianças que foi morta aos 25 anos. A estudante confessava a preocupação de se tornar vítima de feminicídio, o que aconteceu no dia 15 de abril, no Centro de Fortaleza. O principal suspeito é o ex-companheiro.

Os áudios das conversas foram obtidos pelo O POVO e descrevem o temor da jovem em relação ao homem com quem se relacionou. "Eu morro de medo de ele me matar porque não quero mais ele, mas eu não vou me prender a ele porque eu tenho medo de morrer não. Está nas mãos de Deus. Se eu disser para você que estou sofrendo eu não estou. A única coisa que e tenho medo é dele me matar, mais nada. Parece que eu saí foi do presídio. Eu tentei de tudo", relatou.

"Do jeito que o mundo está hoje, eu não confio não, em ninguém. E ele tem arma, não é só uma, ele tem é quatro, se ele quiser matar  com quatro armas ele mata. E homem é inconsequente", relata.

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É mais um relato recorrente que mostra a realidade do feminicídio. Homens com comportamento abusivo, excesso de álcool e drogas, ciúme descontrolado, renúncia a aceitar o término de relacionamento. O POVO contou a história de 11 vítimas de Fortaleza, em 2022, e constatou as histórias repetidas, ainda que únicas.

Durante a conversa com a amiga, Bárbara comenta que o ex-companheiro estava "louco" e que há três dias estava tentando contato com ela e mandando recado por outras pessoas. A estudante disse que o homem havia mandado uma cesta para ela e pontuou que, durante o relacionamento, ele nunca havia feito isso.

Bárbara destacou, ainda nas mensagens, que estava fazendo um curso e que planejava comprar uma casa. Amigas dela haviam relatado ao O POVO que a jovem estava decidida a mudar de vida. A vítima havia terminado o relacionamento com o companheiro e era mãe de três crianças, fruto do casamento anterior. Ela foi morta a tiros no Centro de Fortaleza.

Conforme uma familiar, cujo nome será preservado, os parentes não concordavam com o relacionamento e a estudante havia se afastado do grupo familiar por influência do então companheiro. O principal suspeito do crime se evadiu não foi preso. O POVO não revela o nome por tratar-se de investigação em curso.

Neste sábado, 22, ocorre a missa de sétimo dia do falecimento de Barbara Bessa, na Capela Santa Filomena, no bairro Meireles. A família pede Justiça em relação ao crime. A mulher, que completaria 26 anos em setembro, deixa três filhos, de três, cinco e 10 anos de idade. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Mais um feminicídio em Fortaleza

No mesmo fim de semana do crime, outra mulher foi vítima de feminicídio em Fortaleza. Cristiane dos Santos Pereira, de 46 anos, foi morta no sábado, 15. A filha dela foi a primeira a entrou em casa e encontrou a mãe no chão, despida e morta, com diversos golpes de faca e gargalo de garrafa.

O principal suspeito do crime, o namorado de Cristiane, Francisco Edson da Silva, de 51 anos, fugiu para Quixeramobim, no Sertão Central, mas resolveu se entregar na delegacia do município e foi autuado em flagrante.

O homem tem antecedente por um feminicídio ocorrido no ano de 2004 contra outra ex-companheira. O inquérito foi realizado no 32º Distrito Policial, área do Bom Jardim, em Fortaleza. Ele foi preso, cumpriu pena e estava em liberdade. Segundo levantamento do O POVO, 68 mulheres foram mortas no Ceará em 2023 até o último dia 12 de abril. Destes, 11 foram considerados feminicídios até março, segundo o Painel Estatístico da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), da SSPDS.

 

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Feminicídio Ceará Fortaleza Departamento de Homicídios Polícia Civil Ceará

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