Violência contra a mulher: 4 em cada 10 vítimas sofrem há mais de seis anos

Pesquisa da Defensoria Pública do Estado do Ceará com 518 mulheres retrata o perfil das vítimas atendidas pelo órgão

Quebrar o ciclo da violência doméstica é uma tarefa difícil e complexa para muitas vítimas. De acordo com o Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem) de Fortaleza, da Defensoria Pública do Estado do Ceará, 40% das 518 mulheres que participaram de uma pesquisa sobre o perfil da vítima desse tipo de violência sofrem há mais de seis anos com as agressões.

A supervisora do Nudem Fortaleza e defensora pública Jeritza Braga explica que a violência nem sempre começa com a agressão física. Segundo a pesquisa que foi realizada pelo núcleo em 2022, mais de 88% dos casos começam com violência psicológica. “É uma coisa mais velada”, afirma.

Xingamentos, assédio moral, falta de respeito e ataques à autoestima, ciúme exacerbado e comportamento controlador são algumas das primeiras atitudes do agressor. “Nesse momento ela já está vivendo num relacionamento abusivo e não percebe”, diz. Depois disso, as agressões tendem a evoluir para ameaças, empurrões e chega à violência física e até ao feminicídio.

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Mesmo depois da mulher se enxergar como vítima da situação e perceber que precisa de ajuda, denunciar e sair do convívio do agressor não é simples. Até mesmo terminar o relacionamento, em alguns casos, não é o suficiente para se livrar das violências, já que 45,3% dos agressores são ex-companheiros.

“Muitas chegam [na Defensoria] adoecidas psicologicamente, com ideação suicida, autoestima lá embaixo, crise de ansiedade, depressão. E você quer que ela, nessas condições, tenha forças para romper esse ciclo. Sem falar quando elas são ameaçadas e perseguidas. É preciso todo um trabalho conjunto da sociedade, da família e do poder público para conseguir ajudar essa mulher”, afirma Jeritza.

Por isso, uma das principais ações da Defensoria para prevenir a violência e ajudar mulheres que estejam nesse cenário é a educação em direitos. Jeritza relata que o órgão faz visitas a escolas, comunidades e empresas para divulgar material informativo, explicar a existência da Casa da Mulher Brasileira, onde funciona o Nudem em Fortaleza, e dos dispositivos legais que podem proteger as vítimas.

O desconhecimento da Lei Maria da Penha abrange 72% das mulheres que responderam a pesquisa. Essa realidade chega a ser utilizada pelos agressores como forma de manipular as vítimas. Segundo a defensora, homens dizem que as mulheres vão perder a guarda dos filhos se saírem de casa, que a ação seria um abandono do lar. “Isso é uma inverdade. A mulher não perde direito algum”, garante Jeritza.

“A gente sempre fala que a primeira coisa que não deve fazer é julgar”, explica a defensora sobre o estigma que mulheres vítimas de violência sofrem pela dificuldade de quebrar o ciclo de agressões.

61% das vítimas admitem que filhos presenciam violências

 

Das mulheres que afirmaram ter filhos com os agressores, 61% admitiram que as crianças presenciaram os momentos de violência dentro do lar. Isso pode induzir à normalização da dinâmica da violência doméstica, segundo Jeritza, com meninos reproduzindo a agressão e as meninas acreditando ser natural sofrer esse tipo de crime.

“Além desses números, a pesquisa revelou que 20% das mulheres ouvidas vivenciaram violência doméstica na casa dos pais quando criança ou adolescente. Elas sabem da dificuldade. Pensam ‘se minha mãe suportou, eu também posso suportar’”, diz a defensora. “É um crime que atinge as futuras gerações e nos demonstra que cada vez mais todos os órgãos que compõem a rede de proteção a essa mulher precisam estar juntos para que as pessoas não tenham isso como algo comum.”

Perfil das vítimas

  • 31,08% das vítimas da pesquisa tinham entre 26 a 35 anos
  • 82% são pretas ou pardas
  • 37,45% possuem ensino médio completo
  • 19,4% estão desempregadas
  • 67,76% têm renda mensal de até um salário mínimo

Onde procurar atendimento para vítimas de violência doméstica

JUAZEIRO DO NORTE
ONDE: avenida Padre Cícero, nº 4.455, no bairro São José (Casa da Mulher Cearense)
TELEFONE: (85) 9.8976.7750

QUIXADÁ
ONDE: rua Luiz Barbosa da Silva esquina com a rua das Crianças, no bairro Planalto Renascer (Casa da Mulher Cearense)

SOBRAL
ONDE: avenida Monsenhor Aloísio Pinho, s/n, no bairro Cidade Gerardo Cristino (Casa da Mulher Cearense)

CAUCAIA
ONDE: estrada do Garrote, nº 1.310, no bairro Cabatan
TELEFONES: (85) 3194.5068 ou 3194.5069 – 8h às 14h
E-MAIL: [email protected]

MARACANAÚ
ONDE: avenida 1, nº 17, no bairro Jereissati I (Shopping Feira Center)
WHATSAPP: 85 9.8400.6261 – 9h às 15h
LIGAÇÃO: 85 3371.8356 – 9h às 15h
E-MAIL: [email protected]

FORTALEZA
ONDE: rua Tabuleiro do Norte, s/n, no bairro Couto Fernandes (Casa da Mulher Brasileira)
TELEFONE: (85) 3108.2999 (24 horas)

CRATO
ONDE: rua André Cartaxo, nº 370, no Centro
TELEFONE: (88) 3695.1751 / 3695.1750

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violência doméstica violencia contra a mulher defensoria pública

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