Moradores de bairros com mais casos de chikungunya reclamam de lixo e água parada

Fortaleza é a cidade do Brasil com mais casos de chikungunya. Pontos de lixo acumulados podem ser denunciados pela população para a Prefeitura

O bairro Prefeito José Walter foi o local de Fortaleza que registrou a maior quantidade de casos de chikungunya na Capital em 2022. Foram 189 registros de pessoas com a arbovirose de janeiro até o início de junho. O dado é de resultados de exames laboratoriais de sorologia divulgados no Sistema de Monitoramento Diário de Agravos (Simda) de Fortaleza. 

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No bairro, os moradores reclamam de pontos de descarte irregular de lixo e de locais com água parada, que podem ser propícios para a criação de focos do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença.

Trabalhando na praça da Terceira Etapa do José Walter, a vendedora Daniele Pereira, 28, reclama do lixo deixado pela população no local. “Esse lixo é tirado todos os dias. Já passou um caminhão mais cedo, mais tarde passa outro. Mas amanhã você pode vir que tá tudo lotado”, afirma.

A dona de casa Meyrilandes Campelo Bessa, 47, precisa andar pelo asfalto quando passa em frente ao Centro de Educação de Jovens e Adultos do José Walter, à caminho da escola do filho. O motivo é a quantidade de lixo acumulado no entorno do Ceja do bairro, que também tem um canal com água poluída.

Sapatos, pedaços de madeira, recipientes de plástico, sacos e restos de comida são jogados na margem do canal. Ela conta que sente frustração ao organizar a casa para não deixar água parada, mas ainda assim encontrar pontos de lixo próximos a sua residência.

“Conheço muitas pessoas com chikungunya. Minha mãe está com a doença, tem 74 anos. Hoje ela tá andando, mas sentindo dor. O carro da Prefeitura até limpa, mas as pessoas não têm consciência. Isso traz doenças, mas não estão nem aí”, reclama Meyrilandes.

Jardim das Oliveiras é vice-líder em casos de chikungunya

No bairro Jardim das Oliveiras, que tem o segundo maior número de casos da Capital, com 149 registros, a dona de casa Jamile Alves de Andrade, 41, também compartilha que todos os moradores da sua rua pegaram a doença. Ela atribui a grande quantidade de focos a uma parte da rua que constantemente tem água parada, mesmo após aterramento.

“Aqui estava tendo muito mosquito, na minha rua começou a ter muito caso de pessoas que estavam ficando doentes. A gente começou a passar inseticida, repelente, só que a gente não consegue dar conta de todos [os mosquitos]. Acabou que a gente pegou”, relata. Os sintomas começaram no dia das mães, no início de maio, em Jamile e seus dois filhos pequenos. Depois de um mês, ela ainda segue sentindo dores.

Jamile também relata que nas proximidades de sua casa têm pontos de lixo que são limpos de forma recorrente, mas a população continua colocando descartes. Após uma agente de saúde afirmar que na casa dela não havia focos do mosquito depois de uma vistoria, Jamile acredita que os criadouros estão nesses locais da vizinhança.

Procurada pelo O POVO, a Secretaria da Gestão Regional de Fortaleza (Seger) afirmou que programou para esta quarta-feira, 8, o envio de equipes de limpeza para realizar o recolhimento do lixo colocado de maneira irregular nos pontos visitados pelo O POVO no bairro Prefeito José Walter. A pasta alertou para que a população descarte o lixo de forma adequada e apenas nos dias em que a coleta é realizada. Solicitações de limpeza podem ser feitas pela população por meio da Central 156, por telefone ou aplicativo, ou na sede das secretarias regionais.

 

Surto começou na Regional VI

De acordo com o coordenador de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, Nélio Morais, o surto de chikungunya de 2022 em Fortaleza começou nos bairros da Regional VI e II, como Jardim das Oliveiras, Cidade dos Funcionários e Sapiranga. No entanto, a partir do fim de março, um novo surto começou a ser registrado na Regional V, em bairros como Prefeito José Walter, Mondubim e Planalto Ayrton Senna.

“Esse surto hoje já tem mais casos do que o da Regional VI. E por isso nós estamos, desde janeiro, fazendo inúmeras intervenções especiais nessas áreas”, afirma. Fortaleza tem 4.923 casos e registrou um óbito por chikungunya neste ano, o que acende um alerta para o coordenador. “Isso é um alerta sobretudo para a população da terceira idade.” O número de registros já é 80 vezes maior do que o de 2021 no mesmo período.

Segundo Nélio, a impossibilidade de realizar visitas domiciliares durante a pandemia e a desmobilização de ações para combater as arboviroses durante 2020 e 2021 são fatores que influenciam na quantidade de casos registrados na Capital. Nélio não descarta a possibilidade de uma epidemia de chikungunya em Fortaleza, já que o mês de junho é considerado decisivo para intensificar as ações de combate às arboviroses e chegar a uma estabilidade de casos em julho.

Pessoas com sequelas de chikungunya podem procurar policlínicas e hospitais

Além de ter uma fase aguda complicada, com sintomas como febre, fadiga, náusea, vômito e dores no corpo, a chikungunya pode fazer com que os pacientes fiquem com dores nas articulações por um longo período de tempo após a doença. Nélio orienta que essas pessoas busquem as policlínicas e hospitais de Fortaleza para uma consulta com especialistas, como um reumatologista, e ter acesso a exames. Tratamentos que atenuam os sintomas podem ser receitados.

Confira os bairros com a maior quantidade de casos de chikungunya em Fortaleza

  1. Prefeito José Walter: 189
  2. Jardim das Oliveiras: 149
  3. Cidade dos Funcionários: 108
  4. Luciano Cavalcante: 64
  5. Mondubim: 63

 

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