Comunidade do Conjunto Ceará organiza movimento contra descaso em obras do polo de lazer

Com o nome S.O.S. Conjunto Ceará, o movimento visa a retomada de obras do polo de lazer do bairro pelo Governo do Estado e a possibilidade de utilização por pessoas da própria comunidade

O polo de lazer do bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza, se tornou sede colaborativa dos movimentos sociais e culturais do local. Na tentativa de preservar o espaço, que passa por obras há três anos, o movimento S.O.S. Conjunto Ceará realizará um ato simbólico nesta sexta-feira, 23. 

A situação vem sendo enfrentada pela população há três anos. Desde 2018, a comunidade do bairro sofre com o descaso por parte do Governo do Estado com obras que foram iniciadas, mas nunca finalizadas no equipamento.

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Além das obras inacabadas, que prejudicaram empreendedores locais, a comunidade sofre com a possibilidade de entrega do prédio localizado no polo, conhecido como Território Criativo, para uma organização de outro bairro. A construção sempre foi ocupada e utilizada por coletivos que realizam ações sociais no local, lojistas que trabalhavam com arte e cultura, além de funcionar como centro cultural na região, oferecendo oficinas que são geridas pela própria comunidade do Conjunto Ceará.

O movimento acontece nesta sexta-feira, 23, às 18 horas, na praça do polo de lazer do bairro. Coletivos criativos e culturais que atuam no local participarão do ato visando obter respostas, além de fazer com que o caso ganhe visibilidade e mais mobilização por parte da população. Até o momento, o ofício organizado conta com 100 assinaturas de instituições, associações, coletivos, sindicatos etc.

Johnson Sales, morador do bairro e membro do coletivo Território Criativo, conta que o movimento é um chamado à comunidade para que ela se mobilize na defesa da história cultural do Conjunto Ceará e do cumprimento dos acordos que o governo fez com a sociedade. "O movimento é um ato que vai reunir vários coletivos e figuras públicas do movimento cultural e político do Estado. A ideia é chamar a atenção da sociedade e também chamar a responsabilidade do Governo do Estado", explica.

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Entenda o caso

A situação começou em 2018, ano em que alguns prédios pertencentes à Companhia de Habitação do Estado do Ceará (Cohab) iriam ser leiloados. Dentre eles, os prédios Território Criativo e o Centro Cultural Patativa do Assaré, utilizados pela comunidade do Conjunto Ceará, que movimentavam o comércio local, enriqueciam a cultura do lugar e promoviam oficinas gratuitas aos jovens. Para que eles não fossem leiloados, surgiu o movimento S.O.S. Conjunto Ceará, formado por 68 coletivos e movimentos de juventude da cidade de Fortaleza.

“Quando o leilão veio à tona, foram conclamados todos os movimentos de juventude da cidade de Fortaleza, que lutaram até conseguir derrubar dois deles. Foram feitas várias reuniões de articulação com o Governo do Estado para lutar não somente pelo Centro Cultural Patativa do Assaré, mas pelo polo de lazer como um todo”, explica Flor Fontenele, defensora dos direitos humanos e colaboradora do movimento.

Nas negociações, foram realizadas reuniões com a Cohab, Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) e outros órgãos públicos, com a finalidade de lutar pela reforma do polo de lazer do Conjunto Ceará e do prédio. Após ampla mobilização, foi feito um acordo com a Casa Civil, onde foi elaborado um projeto de reforma. O governador do Estado, Camilo Santana (PT), compareceu em 2018 ao bairro e assinou a ordem de serviço.

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No entanto, as obras, avaliadas em R$ 4 milhões, nunca foram finalizadas. Na época, as chaves do prédio Território Criativo foram entregues à construtora para que passasse por reforma e servisse de acomodação para os operários durante o período. “Estávamos esperando a obra andar, pois ela estava muito lenta. De repente, fomos surpreendidos com o abandono da obra. A construtora sumiu, abandonou a obra, o polo ficou às escuras. Fizemos alguns movimentos reclamando da situação”, conta Flor.

O local permaneceu abandonado por três anos, quando, de repente, uma nova placa com aviso de retomada de obras foi colocada no bairro. Ainda, um novo documento, elaborado pela Cohab e pela Seplag, determinava que o prédio passaria pelas reformas com a finalidade de ser cedido para uma organização do bairro Barroso, também em Fortaleza.

“Foi elaborado um termo de cessão de uso, como se estivessem liberando e repassando o prédio para uma outra organização no bairro Barroso, chamada Associação Comunitária Conjunto Sítio Estrela, no Barroso. Tivemos acesso a esse documento, que doa o nosso prédio que estava na mão do Estado para reforma, para ser usado até 2025 por outra organização. Isso é um absurdo, porque além de destruírem e deixarem abandonado, ainda elaboraram um termo para que ele seja cedido para outra organização use”, esclarece a defensora.

O movimento

Com a finalidade de reivindicar que as reformas sejam feitas para permitir o uso do polo de lazer e do prédio à população do bairro, o movimento S.O.S. Conjunto Ceará visa expor e denunciar a situação de descaso enfrentada pela comunidade desde então. “Nós queremos explicações, queremos saber que entidade é essa que vem lá do Barroso e está querendo tomar o prédio que pertence à comunidade do Conjunto Ceará, que está conosco desde 1998, sendo muito conhecido no lugar”, explica Flor.

O movimento organizou um ofício que já conta com mais de 100 assinaturas que demonstram apoio de instituições, associações, coletivos, sindicatos etc. Dentre o pontos exigidos no documento, os envolvidos pedem a apresentação do projeto a ser executado no polo de lazer; garantia de que os empreendedores poderão retornar ao antigo local de trabalho; entrega do polo e do prédio para continuar sendo gerido e utilizado pela comunidade local; definição de políticas públicas e ações governamentais que voltados para os jovens que frequentam o local; e a retomada do diálogo e negociações entre o governo e a comunidade para resolver os impasses.

"Não dá para desconhecer a história e a força do movimento cultural do Conjunto Ceará, não dá para descumprir acordos que foram feitos em uma mesa de negociações entre a sociedade civil e o Governo do Estado. Então, o ato foca na qualificação da relação entre o governo e a comunidade para a reforma do polo de lazer", completa Johnson.

No Facebook, há uma página criada para dar voz ao movimento, dispondo de publicações, fotos, vídeos e documentos que explicam mais detalhadamente não somente o ato, mas a causa dele. A página pode ser acessada por meio do link.

O POVO entrou em contato com a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) para obter um posicionamento por parte do órgão, mas até o presente momento não recebeu resposta.

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