A história do comerciante que transformou o mercadinho em instrumento para estimular a vacinação

Senso de coletividade na pandemia: jovem utiliza comércio para cadastrar moradores no saúde digital

Há cerca de sete anos, Ygor Castro, de 25, entrou para assumir o negócio da família: um mercadinho localizado no bairro Vila Velha, em Fortaleza. À época terminando o ensino médio e prestes a iniciar o curso de Estatística na Universidade Federal do Ceará (UFC), o jovem se desdobrou entre os estudos e o trabalho, que realizava aos fins de semana.

Com o passar do tempo, o estudante trocou de curso e começou a cursar administração, aplicando o conhecimento no comércio — onde já passava a trabalhar em um período semanal. Há um ano, já formado, ele enfrentou as dificuldades trazidas pela pandemia, que afetou grande parte da economia no Estado.

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Conseguindo manter o comércio de pé, Ygor viu a campanha de vacinação ser iniciada e, com o passar dos dias, começou a ser procurado por moradores que não sabiam como se cadastrar, por falta de acesso à Internet. A procura lhe despertou uma ideia: utilizar o comércio para tirar dúvidas e cadastrar moradores no site Saúde Digital, de vacinação contra a Covid-19. A boa ação, sinalizada por uma plaquinha tira-dúvidas colada no notebook de trabalho, repercutiu e ganhou proporções maiores do que o jovem poderia imaginar.

OP - Como surgiu a ideia de utilizar o mercadinho para ajudar a população no cadastro da vacinação contra a Covid-19?

Ygor Castro - A ideia surgiu ainda no auxílio emergencial, em que muitas pessoas tiravam dúvidas comigo quanto a cadastramento e etc. Na vacinação, as dúvidas ficaram mais frequentes e pertinentes. Me vi na obrigação de fazer a plaquinha e ajudar o máximo de pessoas possível.

OP - Chega gente de toda idade? Qual o perfil dessas pessoas?

Ygor - Chegam em sua grande maioria pessoas acima de 45. É a idade em que se está vacinando né? Eles veem os amigos de mesma idade tomando vacina e se interessam em ir atrás também. Já cadastrei pessoas de todas faixas etárias, infelizmente a internet ainda é um bicho papão pra uma galera.

OP - Quais são as principais dúvidas dos moradores sobre o processo?

Ygor - Dúvidas são as mais diferentes que você imaginar (risos). Começa logo na pergunta se paga algo pra se cadastrar comigo e eu digo logo que é 0800. Mas em dúvida de escolha de local. Essa eu acho pertinente visto que muitos daqui acabam indo parar longe demais, escolha de vacina, dúvida da documentação que precisa pra se vacinar e assim vai. A gente tenta responder na maior paciência e clareza pra que ninguém fique pelo caminho nessa corrida da vacinação.

OP - Quantas pessoas costumam ir ao mercadinho cotidianamente para tirar dúvidas e quantas vão se cadastrar?

Ygor - Olha, tirar dúvidas é bem mais rápido e fácil, creio que umas 40, 50 pessoas por dia tiram dúvidas comigo. Cadastro como é algo que leva um pouco de tempo eu faço umas 8 a 10 por dia. Já cheguei a fazer uns 20 no dia mais movimentado.

OP - O que a sua família achou da sua iniciativa? Teve alguém que se dispôs a ajudá-lo?

Ygor - As pessoas da família parabenizam, mandam os links das matérias online no grupo que a gente tem e assim vai. Quanto a ajuda, aqui em frente tem o comércio do meu tio e meu primo Rafael que trabalha lá sempre me dá uma ajuda. Quando tô cheio de gente atendendo oucadastrando, eu pergunto logo se ele tá livre lá e já encaminho a pessoa. Bem simples, é só passar a rua (risos).

OP - Pretende continuar com esse “serviço” até o fim da vacinação ou vai atender até uma data específica?

Ygor - Pretendo seguir até o final, é importantíssimo essa contribuição de cada um para podermos ter uma maior porcentagem de pessoas vacinadas e continuando a usar máscaras mesmo vacinados até que o vírus deixe de circular para podermos voltar a uma certa normalidade de antes. A combinação vacina, máscara e distanciamento nos levará a ficarmos juntos de novo mais rápido.

OP - Por que você acha que sua atitude chamou tanta atenção?

Ygor - Eu não faço ideia do porque essa repercussão toda (risos) mas já que repercutiu, espero que o poder público consiga enxergar seu papel e chegue nas comunidades mais carentes. É preciso dar mais ouvidos e assistência as regiões periféricas. É aqui que ele precisa chegar mais massivamente. Tem que chegar junto de verdade com políticas públicas que dê todo suporte à população da periferia.

OP - Durante esses dias de “mutirão”, teve algum episódio que mais marcou você?

Ygor - O episódio na verdade me marca diariamente. Infelizmente no entorno do comércio, temos vários moradores em situação de rua que infelizmente não têm perspectiva alguma de vacinação. Assim como em vários bairros, o número crescente de pessoas em situação de rua preocupa devido a muitos não terem família, não terem mais seus documentos. E aí, vai fazer o que com eles? Muitos até querem se cadastrar comigo, mas infelizmente por não portar documento algum, não consigo fazer.

 

OP - Qual tipo de mensagem você deseja que sua ação passe? Como você espera influenciar as pessoas?

Ygor - Bom, espero que muitos que estão lendo se sintam tocados a ajudar o próximo. Um vizinho mais idoso que tem medo do "bicho papão" internet, o zelador do prédio, o porteiro da empresa. Se você pode ajudar, tem ali uns 10 minutinhos, não custa nada fazer o bem ao próximo. Pra finalizar, não dê ouvidos ao presidente, use máscara.

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