Epidemiologistas projetam alta de óbitos na periferia de Fortaleza e criticam "fakedown"

Lockdown reduz transmissão da Covid-19, mas leitos de UTI continuam lotados, alertam especialistas

Atualizado em 02/04/2021 às 12h22min

Em evento online na manhã desta sexta-feira, 2, especialistas projetaram cenários para o contexto epidemiológico, da saúde ambiental e mental no Ceará. A epidemiologista Daniele Queiroz afirmou que a segunda onda da pandemia da Covid-19 ainda deve refletir no aumento do número de óbitos na periferia de Fortaleza. Hoje, segundo ela, a letalidade do vírus tem sido maior nas áreas nobres de Fortaleza.

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"Primeiro ocorre nos bairros de maior IDH para depois destroçar os bairros com menor índice. A gente ainda está vivendo um momento grave para os bairros mais ricos. A projeção é que esse agravamento ainda chegue em bairros mais pobres", disse.

Daniele pontua que a análise parte de dados disponibilizados nas plataformas do IntegraSus, vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará, e da Sala da Saúde, da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza. A estudiosa pontua que, inicialmente, o comportamento do vírus tem maior incidência nos bairros de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - sendo este o estágio atual de óbitos na capital - para depois chegar aos bairros mais pobres.

Conforme o último boletim da SMS, de novembro de 2020 a março de 2021, há distribuição espacial das mortes caracterizada, principalmente, por um grande aglomerado de alta intensidade que abrange bairros da regional II e IV, como Meireles e Aldeota, expandindo-se ao sul para os bairros Dionísio Torres, Joaquim Távora, José Bonifácio, Fátima e Benfica. Também identifica-se alguns clusters isolados. Um exemplo é o que foi detectado na confluência dos bairros José Walter e Planalto Ayrton Senna. Novo boletim epidemiológico de Fortaleza deve ser divulgado ainda nesta sexta-feira, 2.

De acordo com o IntegraSUS, a capital concentra 6.151 óbitos acumulados por Covid-19 desde o início da pandemia. A letalidade está em 3,79%. A média é de 28,09 mortes diárias. Em todo o Estado são 14.268 óbitos. A taxa de letalidade 2,66% - mais de 1 ponto percentual menor que em Fortaleza.

"Embora a gente perceba que, neste um mês de lockdown, redução no número de casos, é extremamente impactante a não redução da taxa de ocupação das UTIs", pontua ao relembrar que as taxas de ocupação reduziram durante o primeiro momento de isolamento social rígido em Fortaleza.

Daniele defendeu ainda a imposição de medidas complementares para impedir a transmissão da Covid-19 mesmo com a vacinação em curso. "O Chile traz o exemplo de que mesmo em processo de vacinação, é preciso investir em outras medidas. A proteção não avança da mesma forma que o vírus transmite. Isso não está sendo rápido bastante."

Também na conversa, o epidemiologista Luciano Pamplona criticou o isolamento social rígido o que chamou de "fakedown". Para ele é "um absurdo" comemorar 46% de isolamento social neste momento crítico da pandemia. "A Europa faz três semanas e baixa a transmissão. A gente faz 1 ano e finge que está fazendo. Na prática, as pessoas continuam saindo e acham que lockdown não dá certo."

Para ele, o desafio é entender a necessidade de isolamento e a de contato físico. Com isso, é preciso orientar a fazer isso de forma segura e reforçar o uso da máscara. "De fato, a gente precisa pensar na qualidade de vida e o emocional das pessoas".

O bate-papo é organizado por Magda Almeida, médica da família e comunidade, Mariano Lins, mestre em meio ambiente, e Renata Giaxa, mestre e doutora em psicologia.

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