Baixa movimentação no Mercado dos Peixes é o retrato da crise sanitária

Vendedores afirmam que as vendas estão muito abaixo do que é esperado para o período da Semana Santa

A crise sanitária ocasionada pelo Coronavírus atinge os mais diversos pontos da sociedade. A economia não escapa dos efeitos negativos gerados pela pandemia. Em 2021, mais uma vez, o período da Semana Santa será cercado de restrições e cuidados sanitários para evitar a propagação do vírus.

A tradicional venda de pescados, que antecede a sexta-feira santa, costuma movimentar o Mercado dos Peixes, localizado na Avenida Beira-Mar, na orla de Fortaleza. Entretanto, a movimentação tranquila no local serve de retrato do atual momento.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

"Nosso movimento está um pouco defasado pela pandemia, não tem chegado nem em 10% do nosso movimento. Nessa semana sempre vem bem mais gente. Era pra isso aqui estar lotado, 100% lotado. Em um ano normal, em uma diária de quarta-feira da Semana Santa, eu tirava uns R$ 1.800, hoje, a gente não tira R$ 500", conta a vendedora de peixes Meire Monteiro.

Meire, que vive da venda de pescados há mais de 10 anos, ainda nutre esperanças de que o movimento aumente nos próximos dias, mas reconhece que as chuvas e o preço elevado da mercadoria também estão prejudicando as vendas.

"Amanhã pode melhorar, eu tenho encomenda para quinta-feira. A chuva atrapalha bastante. O preço do peixe subiu muito e do camarão baixou. O camarão foi de R$ 25 para R$ 20 e o peixe aumentou, porque os barcos não estão indo para o mar, acaba ficando escasso. O pargo foi de R$ 25 para R$ 35, cavala foi de R$ 20 para R$ 35, o sirigado de R$ 35 foi para R$ 40", explica.

Clique na imagem para abrir a galeria

LEIA TAMBÉM | No bimestre, Cariri tem chuvas acima da média histórica; veja situação nas regiões

Para esta semana, grades de contenção foram instaladas na frente do mercado. O objetivo é organizar o fluxo de pessoas que passam pelo local. Nas duas passagens disponíveis para acesso dos consumidores, funcionários medem a temperatura de todos que entram no mercado.

"Atrapalhou bastante, se deixassem uma entrada dessa, com a verificação de temperatura, em cada corredor de galeria seria bem melhor, só duas entradas não é bom", reclama Meire, por sentir-se prejudicada por seu quiosque estar distante das entradas temporárias.

Para o sócio-diretor da administradora do Mercado, Pedro Otoni, as medidas são necessárias para evitar que o local se torne um ponto de propagação do vírus.

"Nessa páscoa, nós buscamos fazer uma operação especial, porque sabemos que a movimentação no mercado dos peixes é bem maior nessa época. Estamos fazendo esse controle de multidão, pedindo o espaçamento das pessoas. Tentamos fazer nossa parte, estipulamos duas entradas para o mercado. Tudo isso é para prevenir, diante dessa crise sanitária da Covid e buscando evitar qualquer problema. Acredito que seja uma medida positiva", explica.

Para José Lourenço, que possui seu ponto de venda há mais de 20 anos, as medidas sanitárias não são as culpadas pela queda das vendas, mas sim o efeito da pandemia na economia da cidade.

"A movimentação caiu muito, era pra isso aqui estar lotado. Você está vendo o movimento fraco, era pra ser bem mais intenso. Não acho que é porque colocaram essa cerca aí não, o povo está sem condições mesmo, o peixe tá caro. A baixa movimentação acaba influenciando também, chega pouco peixe e fica caro. Ano passado a gente já tava nessa crise, mas esse ano está pior", lamenta Lourenço.

LEIA TAMBÉM | Pagamento do auxílio emergencial de R$ 250 começa em 6 de abril, anuncia Bolsonaro

O vendedor afirma que nunca havia passado por uma crise como essa nos últimos 40 anos.

"A maior crise que já vi foi essa. Era para sair uns 200 kg de peixe por dia. Hoje, eu consegui vender uns R$ 300. Em uma época dessa eu faturava 4 mil reais por dia. Nesses anos em que estou aqui, o preço mais caro está sendo esse ano. Pargo de R$ 35, fica complicado", lamenta.

Mário Francisco é outro que viu suas vendas caírem drasticamente. O vendedor não tem esperança de que o quadro possa melhorar.

"Tenho 40 anos vendendo aqui e nunca vi isso. Hoje, eu só vendi 1 kg de camarão. Nesse mesmo dia, no ano passado, já tinha vendido mais de 100 kg de camarão. Não coloco a culpa na chuva não, é o povo que não tem dinheiro mesmo. Mas fazer o quê? A pandemia está aí, não acho que vai melhorar muito não, o povo está sem dinheiro. E o peixe ainda está caro", afirma.

O consumidor que escolheu ir ao Mercado dos Peixes no último dia de março sentiu o aumento dos preços durante este ano.

"Deu uma aumentada nos preços, viu? Sempre compro peixe aqui porque é mais fresco. O movimento está fraco, não sei se a chuva atrapalhou hoje. O camarão está num preço bom, se você procurar vai encontrar um preço que cabe no seu bolso. Agora, o peixe está caro, parece que fizeram foi tabelar, R$ 35, tudo que é peixe", avalia Alice Feitosa que, apesar dos preços, conseguiu levar o peixe pargo que procurava.

A esteticista Arisa Gondim, que costuma comprar pescados no Mercado, também notou uma movimentação atípica durante o ano de 2021.

"Infelizmente, esse ano parece que as pessoas não estão vindo comprar os peixes. Claramente teve uma queda, ano passado estava lotado. As pessoas estão colando barreiras de contenção, isso é bom. Infelizmente, a doença está grande por aí, a Covid está matando muita gente, acaba deixando um buraco muito grande na economia. Sei que tem muita gente passando necessidade, tem muita gente perdendo emprego", lamenta.

LEIA TAMBÉM | Suspeita de chefiar tráfico de drogas no bairro Bom Jardim é presa em operação

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

venda de peixes mercado dos peixes semana santa

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar