"A volta inteira com o revólver apontado pra mim", diz o áudio encontrado no celular de mulher morta por companheiro

Apontado como autor do crime, o cabo PM Manoel Bonfim dos Santos Silva, teve uma defesa alegando insanidade mental e o processo está suspenso. A família da vítima pede celeridade no caso e quer o agente de segurança fora da PMCE

Quatro meses depois do crime que vitimou Ana Rita Tabosa Soares, os parentes divulgaram áudios do aparelho celular dela, que descrevem situações ameaçadoras vividas durante o relacionamento com o suspeito do crime, o cabo da Polícia Militar do Ceará, Manoel Bonfim dos Santos Silva. A mulher foi morta a tiros no dia 8 de outubro dentro de um automóvel na avenida Silas Munguba, Serrinha, em Fortaleza. O casal voltava de uma churrascaria. A defesa alega insanidade mental e o processo foi suspenso.

"Quando ele chegou em casa aqui ontem do nada ele se arrumou e dizendo que ia embora para não fazer merda. Eu vendo ele com o revólver apontado pra mim e eu vendo a hora dele atirar. Eu não sei quem foi que pegou ele aqui. Eu sei que ele não está em casa, pois sei que o irmão dele perguntou por ele. Enfim", diz em um dos áudios.

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"Na volta inteira o revólver apontado pra mim. Ele ficava tipo dançando e o revólver apontado. E o revólver dele não tem trava, porque tem que ser muito ágil. Por um fio eu vi uma merda acontecer", relata em outro áudio enviado a uma amiga. 

De acordo com uma familiar de Ana Rita, o casal estava junto há dois anos. Bonfim foi morar com a vendedora de loja de joias. Ela já vivia com a filha de 13 anos e a mãe, aposentada. Aparentemente, os dois eram felizes. No entanto, após o crime, os parentes começaram a pesquisar e descobriram que Rita vivia um relacionamento abusivo e cheio de situações ameaçadoras, que foram cumpridas no dia do crime.

Ana havia se afastado das amigas, o companheiro não aceitava a aproximação das colegas. Ela deixou o emprego na joalheria para dar mais atenção ao Bonfim e buscava um trabalho que a deixasse de folga nos fins semana, ela queria estar presente na vida de Bonfim, que gostava de festas e barzinhos.

O objetivo de Ana Rita era que ele se divorciasse oficialmente da ex-companheira para que os dois pudessem se casar perante a Justiça. No dia do crime, Bonfim havia saído de casa com a documentação afirmando que iria na Associação de Cabos e Soldados para dar entrada na separação. No entanto, ele foi para um bar e o casal teve uma longa discussão.

Mensagens da vítima para Bonfim descrevem relacionamento abusivo
Mensagens da vítima para Bonfim descrevem relacionamento abusivo (Foto: Arquivo pessoal )

A tarde, ambos foram para uma churrascaria no intuito de conversar. A noite seria aniversário de uma das filhas do agente de segurança. No estabelecimento, o casal discutia e a confusão era percebida por todos.

Áudios de WhatsApp

As fotografias dos dois eram na praia, em eventos, no carro e ambos pareciam felizes. As imagens escondiam o que a vítima estava passando. Os relatos sobre o comportamento do cabo da PM eram descritos de forma confidencial a algumas amigas. Sempre relatando momentos em que o policial usava a arma para ameaçá-la. 

Nas mensagens escritas, também no aplicativo WhatsApp, de dois meses antes do crime, ela tentava terminar o relacionamento e afirmava que havia perdido a confiança no companheiro. Ana descrevia que estava com crises de pânico e chorava de lembrar o que havia passado com o PM.

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Luta na Justiça 

Bonfim foi preso em flagrante no dia do crime. Ele está, atualmente, no quartel do 5º Batalhão da Polícia Militar, recolhido. A defesa do agente de segurança alegou insanidade mental e o processo foi suspenso. A família da vendedora juntou uma série de atestados médicos de Bonfim em que ele apresenta problemas de saúde, no entanto, nenhum desses documentos faz referência a problemas psicológicos.

Para os parentes da vítima, esses documentos seriam um indício de que o PM não possui insanidade mental e que deve ser julgado, expulso da Polícia Militar do Ceará e perder todos os benefícios. Conforme familiares da vítima, caso seja comprovada a insanidade mental dele, o policial deve ser aposentado e continuará no quadro de pagamentos da PMCE. 

CGD 

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) se manifestou por meio de nota informando que em referência ao processo disciplinar para apuração na seara administrativa, conforme portaria anteriormente publicada no Diário Oficial, o PM encontra-se na fase de instrução processual. O policial militar está afastado.

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