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Profissionais que atuaram na tragédia do Edifício Andrea falam sobre "renovar a esperança no ser humano"

Profissionais que atuaram durante os cinco dias de operação desde o desabamento do Edifício Andrea, no bairro Dionísio Torres, na terça-feira, 15, falam sobre "renovar a esperança no ser humano" diante de um momento em que todos se uniram em prol da solidariedade aos familiares e vítimas do desabamento

Em meio a uma tragédia que deixou nove pessoas mortas e resgatou sete com vida, os profissionais que atuaram durante os cinco dias de operação no desabamento do Edifício Andrea, no bairro Dionísio Torres, na terça-feira, 15, falam sobre "renovar a esperança no ser humano" diante de um momento em que todos se uniram em prol da solidariedade aos familiares e vítimas do desabamento.  Confira na integra os depoimentos: 

HERLON BRAGA
HERLON BRAGA (Foto: fotos acervo pessoal)

Socorrista Herlon Braga - Samu Fortaleza

 "A sensação é de dever cumprido, de saber que eu pude ajudar a salvar vidas, mesmo com exaustão estampada na fisionomia, de todos que estavam lá no meio do concreto, ferro retorcido, muita poeira e sem falar o sol escaldante, mesmo com todos os obstáculos a nossa vontade de encontrar os sobreviventes falaram mais alto. Uma cena que eu só tinha visto em filme, na televisão. Parecia que o prédio tinha explodido. Era inacreditável como poderia haver sobreviventes no local pela forma que ruiu o prédio, mas a gente sabe que para Deus nada é impossível. Tenho gratidão a Deus de me fazer utilizar todos os dias o bom senso e a empatia com o próximo e que possa sempre me utilizar para ajudar quem precisa no momento mais difícil. Um instrumento para aliviar a dor e ajudar as pessoas no momento mais difícil. Eu sou grato por ter a oportunidade, mesmo sendo nesse momento tão difícil de poder ter trabalhado lado a lado desses homens e mulheres que, incansavelmente, trabalhavam para encontrar as vítimas com vida e poder da um alivio a quem procurava seu ente querido. O apoio da população foi importante e isso fez com que alimentasse a nossa força de vontade e a esperança de encontrar sobreviventes".

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DAVI MAIA
DAVI MAIA (Foto: acervo pessoal)

 Davi Maia, socorrista voluntário

"Sobre a ocorrência em si eu cheguei no local de 20 a 30 minutos após o desabamento e consegui auxiliar no resgate de um das vítimas com vida. Nesse momento os profissionais que estavam envolvidos na ocorrência, a emoção tomou conta do local. Aquele foi o momento marcante. Quanto mais o tempo passava a incerteza tomava conta do local. A cada momento que passava ficava mais difícil, a cada momento que era pedido silêncio no local batia um desespero, quase todos os dias de ocorrência estive lá dando a minha contribuição como profissional de saúde. Foi bem delicado, foi bem difícil, um dos momentos que eu jamais vou esquecer era o momento que era pedido silêncio, naquele momento o silêncio era aliado. E mesmo com a tristeza, o luto, fica o aprendizado, muitos profissionais de saúde passaram horas, viraram noites e eu poso falar com certeza, uniu muito as categorias de saúde como de Segurança Pública. Sou grato a Deus de ter participado das buscas por sobreviventes de forma direta e indireta. Eu creio que essa ocorrência nunca irá sair da minha mente, ficará marcado não só na minha vida profissional, mas na pessoal".

RICARDO LIMA
RICARDO LIMA (Foto: acervo pessoal)

Ricardo Lima, socorrista voluntário

"A ocorrência entrou às 10h30min (rádio de comunicação) e eu estava em casa para pegar as meninas no colégio. entrou como ocorrência, após minutos chegou que era IMV (Incidente com múltiplas vítimas) fui até o local. Peguei meu carro e fui. O cenário parecia que tinha explodido uma bomba, era muita gente chorando, os familiares chorando, as pessoas paravam a gente e perguntavam pelo parente e a gente nem sabia o que dizer na correria. As Forças Unidas, o Samu, Bombeiros, depois chegou a Cruz Vermelha. Um fato marcante na carreira de cada um, uma coisa que você não esquece. Como socorrista voluntário, ser humano, você fica chocado em ver aquilo ali. Por muitas vezes eu me afastei e fui em uma loja para chorar escondido, pois não podia chorar no meio da multidão (...) Ali não existia católico, protestante, ateu, não existia shalom, Igreja Universal, ali existia amor ao próximo. E o voluntariado é isso. A gente passava e eles perguntavam se estava bem e se queriam água. Uns faziam questão de passar e só abraçavam a gente, não diziam nada. É como se passassem uma energia pra gente. Eu recebia um abraço e parecia revigorado. Eu, quantas e quantas vezes sentava em frente aos entulhos e ficava olhando, eu profissional sabia que não ia acontecer, mas eu ser humano, queria ver uma mão acenando, ouvir um grito. Os bombeiros trabalhavam com o momento do silêncio, ao meu ver foi uma expectativa que foi absolvida pela multidão. Na hora parece que Fortaleza parava, você não ouvia carro, não ouvia buzina, nada. Eu já participei do IMV do trem (colisão do VLT), do IMV da Osório de Paiva (acidente com veículos), mas aquilo ali me marcou, primeiro pelo livramento de Deus, pois se aquele prédio cai a noite estaríamos procurando vítima até hoje. E teve alguns momentos, ontem teve um momento que acharam uma bíblia. O bombeiro parou e fez uma oração. A bíblia sem poeira. Você imaginar ali, toneladas e toneladas de entulho e a bíblia isolada. Veio a força para todo mundo lutar (...) Quando eu fui buscar minhas filhas no colégio e disse que aconteceu um acidente muito grande, elas pegaram as mochilas e saíram correndo na minha frente. Os coleguinhas chamando e elas dizendo, peraí (sic) que meu pai tem que ir ali salvar vidas. O que eu aprendi com essa tragédia foi uma coisa que eu tenho dentro de mim, a esperança no ser humano. Se tiver técnica, conhecimento e não tiver amor ao próximo não funciona. Uma coisa que está gravada na minha roupa e no meu coração, uma passagem bíblica, ali tinha pessoas de fé e de crenças e aplicaram a passagem: A fé sem obras é morta".

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