Os perigos do uso da inteligência artificial na escrita literária
O uso da IA no campo criativo tem potencial de ser uma aliada. Porém, há riscos referentes à qualidade e originalidade das obras
A presença da inteligência artificial (IA) na vida cotidiana já não causa estranhamento. Em casa, no trabalho, na rua, a ferramenta é usada para a realização de diversas tarefas onde quer que seja. No campo criativo não é diferente. Nas obras literárias, por exemplo, ela é fonte de pesquisa e de ideias, sendo, por vezes, a própria autora.
O cenário é alvo de preocupação. Até que ponto uma máquina pode ajudar ou atrapalhar no processo criativo?
O professor Artur Franco, dos cursos de Análise de Desenvolvimento de Sistemas, de Segurança da Informação e de Ciência de Dados da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a tecnologia tem potencial para se tornar uma aliada, mas não sem riscos.
Para ele, um dos usos mais comuns da IA para escrita é a geração de ideias, “pelo fato dela ser treinada por diversas fontes”. Porém, um perigo citado por Artur “acontece quando tratamos a IA como um agente especializado”.
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“Isso nos deixa à mercê de possíveis vieses que desconhecemos dos modelos”, ressalta. Acrescentando que se deve ter cuidado ainda com a falta de transparência dessas tecnologias, pois as fontes de treinamento delas, às vezes, não são disponibilizadas.
Outro ponto levantado pelo professor é a qualidade das obras, devido ao perigo de se “cair no senso comum ou gerar uma estilística sem expressividade e originalidade”. O que, segundo o especialista, inunda o mercado de obras, principalmente de médio e longo porte, que não trazem a imersão do leitor, já que “possuem tendências de construções de frases genéricas e com repetições de palavras”.
Assim, ele reforça que um melhor uso dessa tecnologia seria um mais direcionado. “Por exemplo, um escritor quer trabalhar com uma temática associada à navegação e à marinha, para tal, ao invés de simplesmente perguntar à rede ideias e problemas com esta temática, poderia dar uma série de documentos sobre o tema, oficiais ou fictícios, e pedir para a rede elaborar suas ideias em cima desses documentos”.
Artur ressalta que, em vez de resultar em ideias genéricas, essa prática poderia guiar soluções a partir de problemas reais já identificados, servindo como um tipo de assessoria ou especialista ao escritor.
“Imagino que a melhor forma de se aproveitar do modelo é sempre (agir) de forma crítica e estar pronto para descartar o que a IA retorna ao usuário. Então, ao contrário de pensar na melhor forma de extrair uma resposta do modelo, creio que o escritor deva pensar em quais sentimentos e sensações ele quer passar ao leitor ao longo do consumo de sua obra”, orienta, ressaltando que não é escritor.
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