Mostra Sesc de Artes Visuais: onde o território encontra a arte?
Diálogos do segundo dia de Mostra Sesc de Artes Visuais de Sobral reverberam a potencialidade de olhar o entorno para encontrar os caminhos de uma arte autoral e criativa
Como o território pode ser potência inspiradora para as pessoas? Em Sobral, durante a Mostra Sesc de Artes Visuais, as narrativas de cerca de 28 artistas se cruzam nessa questão. Na região que é ladeada por todas as topografias: serra, sertão e mar, a produção se desenvolve como memória e registro desses ambientes.
“É antes de tudo se perceber no lugar, estar presente, estar vivo naquele espaço. E buscar estratégias de pausa, de percepção. E hoje a gente tem muitos instrumentos, seja a partir de um registro fotográfico, seja a partir do desenho. Isso vai aproximando e vai tornando possível que essa pessoa consiga se expressar criticamente a partir dessa observação inicial”, sugere Francisco Di Souza, sobralense, arquiteto, artista visual. No evento, Di Sousa apresentou a série “Topofilia” em que resgata a memória da cidade e fala sobre a subjetividade da paisagem do Norte do Ceará.
“Acho que tudo parte da vivência, da nossa história, da nossa leitura pessoal sobre o que tem naquele território. E é importante ressaltar também o território não como um espaço construído, mas também um espaço de vivências, de trocas, de possibilidades que a observação nos permite levar. Um tema que eu tenho estudado é a fenomenologia da percepção, e isso amplia muito mais para aquilo que já está construído”, disse em entrevista logo após a roda de conversa “Paisagens da Cidade: Encontros entre Arte e Memória”, no Centro Cultural de Sobral.
Na roda de conversa “Diálogo Institucional UVA, Uece e Sesc”, Denis Melo, professor de História e coordenador do programa de extensão da Universidade do Vale do Acaraú (UVA) apresentou ideias no campo das práticas culturais da cidade, entre eles, o movimento de remonumento de monumentos colonizadores. Em entrevista após a palestra, ele explicou que o território é fundamental, porque ele é o espaço das especificidades.
“Existe um historiador muito importante do Reino Unido, que ele começa contando a história da Inglaterra dizendo o fundamental: a Inglaterra é uma ilha. Então, a gente precisa pensar a arte aqui na perspectiva do Vale do Acaraú, como é que uma sociedade, um povo, se pensa, repensa, constitui espaços de exposição, de composição, e de disposição num vale, porque a gente está entre a serra, o sertão e o mar. Você está num grande balaio em que as diferenças vão se constituindo e vão produzindo beleza, reflexão, que é algo muito próprio da arte”, reflete Denis.
Ali, na entrada do Centro Cultural, Anderson Morais, sobralense, artista visual, graduado em Artes Visuais montou a instalação “Liberdade em Fios” em que trabalha com bordado pintura e desenho. “Já faz 20 anos de trabalho com artes visuais, tenho um trabalho voltado para questões de homoafetividade e de amor livre. Observei a criação dos ninhos dos pássaros pelas praças de Sobral e sempre uso pássaro como sinônimo de liberdade. Essa instalação é como se os pássaros estivessem voando e criando ninhos, o tema principal é falar da liberdade de amar quem você ama e tem essa relação com as praças de Sobral”, conta Anderson que comanda o ateliê 156, em Sobral.
Sábado
A Mostra Sesc de Artes Visuais segue até este sábado. Hoje, 29, às 15h, no Cine Falb Rangel, também haverá o lançamento da HQ Retrato, um livro ilustrado das músicas de Luiz Fidelis, referência da canção regional. Cada faixa de seu repertório foi interpretada visualmente por diferentes quadrinistas e transformada em HQ.
Na Praça São João, o Mistura Senac recebe Lucas Corazza, apresentador, palestrante, influenciador, chef confeiteiro, viajante e pesquisador da confeitaria brasileira e internacional. Ele vai compartilhar a receita da Torta Brasil, às 20h. Ao final da atividade, o público poderá degustar os pratos preparados durante as apresentações.