Aumento da Light reforça tendência de ajuste alto mas não muda quadro de inflação
Segundo os analistas, as surpresas de alívio nos preços de alimentos neste início de ano é um dos fatores que podem limitar avanço da inflação deste ano, assim como a permanência da bandeira verde nas contas de luz, que não tem cobrança extra aos consumidores.
Nesta terça, a Aneel autorizou reajuste médio de 10,36% nas tarifas da Light, que atende a 3,8 milhões de unidades consumidoras no Rio de Janeiro e outros 30 municípios do Estado. Para consumidores conectados à alta tensão, o aumento será de 13,40%, e para a baixa tensão, a alta será de 9,09%. Para consumidores (B1), classe residencial, a elevação será de 9,35%. Os aumentos passam a vigorar nesta quinta-feira, 15.
A analista Izabel Faez, da LCA Consultores, diz que esperava um aumento de cerca de 8,30% nas tarifas da Light, na comparação com reajuste autorizado de 9,35% para os consumidores residenciais. Contudo, ela pondera que a elevação não altera a projeção para o IPCA deste ano, que prossegue em 3,8%. "Como ficou perto, não muda as estimativas, não altera a dinâmica de inflação favorável", avalia, ao estimar impacto de 0,04 ponto porcentual no IPCA deste ano.
"Por hora, a alta não altera nossa projeção para inflação, mas adiciona preocupação em relação aos próximos reajustes das outras elétricas. Veio maior e está acima da inflação", avalia o economista Leonardo França Costa, da Rosenberg Associados, que mantém estimativa de 3,50% para a inflação fechada deste ano. "Os preços de Alimentação estão indo muito bem, no sentido de surpreenderem para baixo", completa, justificando a manutenção da estimativa de IPCA. Depois de fechar 2017 em 2,95%, a inflação acumulada em 12 meses até fevereiro de 2018 é de 2,84%.
"Ainda estamos com 4,1%, mas vamos revisar por causa de alimentos muito baixos em fevereiro", acrescenta o analista Everton Carneiro, da RC Consultores.
Segundo o economista Wellington Ramos, da Austin Rating, o impacto estimado do reajuste da distribuidora energética do Rio é de 0,05 ponto porcentual. Por isso, diz, a projeção para o IPCA de março passou para 0,26%. "Porém, para o ano não muda. Continua em 3,8%", diz. Se a estimativa for confirmada, ainda ficará um pouco abaixo do IPCA de fevereiro, que fora de 0,32%.
Considerando o aumento de 9,09% para consumidores de baixa tensão, o economista-sênior do Haitong Banco de Investimento do Brasil, Flávio Serrano, estima elevação de 0,03 ponto porcentual no IPCA dividida entre este mês e abril. Como o impacto é pequeno e o economista já colocava em suas planilhas alta na faixa de 7% para o reajuste da Light, Serrano manteve suas projeções preliminares para a inflação deste mês (0,15%) e do mês que vem (0,40%), assim como do ano (3,90%).
"O ponto mais importante desse aumento da Light é que está reforçando os reajustes mais altos de energia do que era imaginado. O que deve 'salvar' os preços de energia este ano é a bandeira, que pode ficar verde a maior parte do tempo e até terminar nesse nível", avalia o economista do Haitong.
Segundo França Costa, da Rosenberg, o que de certa forma tem limitado mais encarecimento na conta de luz dos brasileiros é o fato de a bandeira em vigor ser a da cor verde. "Se mudar, tende a alterar o cenário. Além disso, estamos esperando para ver quanto será o reajuste da Cemig", afirma.
Na semana passada, a Aneel propôs reajuste médio de 25,87% nas tarifas da Cemig, o que surpreendeu o mercado, que esperava um aumento menor. Se essa alta for aprovada, o impacto no IPCA estimado é de até 0,10 ponto porcentual na inflação deste ano. Por enquanto, a Rosenberg e o Haitong esperam altas de 4,5% e de 6,0%, respectivamente, para energia no IPCA deste ano após 10,35% em 2017.
Dentre as três principais participações na composição do IPCA, São Paulo é a capital que tem a maior peso, de 30,7%, seguida por Rio de Janeiro (12,1%) e Belo Horizonte (10,9%).
Agência Estado