Falta de linhas de transmissão retira mais de 700 projetos de leilão de geração
A restrição atinge Bahia, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul - consideradas regiões de grande potencial eólico e solar. Diante da constatação da nota técnica, 758 projetos nos três Estados ficarão de fora do leilão de geração previsto para dezembro. No total, esses empreendimentos somam mais de 7 mil megawatts (MW) de energia (eólica e solar), impedidos de sair do papel.
O potencial comprometido com a falta de capacidade do sistema de transmissão pode ser ainda maior. Isso porque, mesmo nos Estados onde o ONS mostra alguma folga na rede, há gargalos que vão restringir os investimentos. "Se o Ceará, por exemplo, usar um porcentual da capacidade da rede, o Piauí não poderá usar, pois há restrição nessa região (que limita o escoamento da produção)", afirma a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum.
Mudança
No passado, vários projetos de energia eólica foram construídos e ficaram meses parados por atraso na entrega das linhas de transmissão. Para evitar a repetição desse problema, o governo mudou a regra, diz Elbia. "Atualmente, só vão a leilão os parques que tenham parecer de acesso (que comprovem ter linha para escoar a energia)."
A mudança, no entanto, não resolveu a grave crise do setor de transmissão de energia no Brasil. Além da frustração dos leilões de concessão, cujos lotes não têm atraído o interesse do investidor, a derrocada da espanhola Abengoa piorou a situação. A empresa tem uma série de projetos no Nordeste que atenderia a novas usinas eólicas e solares. "Os parques eólicos contavam com as linhas da Abengoa. A operação atual já sofreu impacto", afirma Elbia.
Na Bahia, segundo a nota técnica do ONS, todos os empreendimentos - em operação ou em construção - vão sofrer "restrição no escoamento da geração". O operador destaca ainda que a regra vale até mesmo para quem tem contrato assinado com clientes. Uma fonte do setor afirma que há situações no Nordeste em que a margem de escoamento da energia é negativa. Ou seja, as usinas e parques eólicos estão operando com risco de contingência.
Nos últimos anos, a energia do vento tem atraído grandes volumes de investimentos para o País, sendo o Nordeste o principal destino deles. Atualmente, a energia eólica responde por cerca de 30% do consumo da região. Em alguns momentos do dia, os parques conseguem abastecer até 15% da energia consumida em todo o País, como ocorreu no domingo passado. A energia solar ainda está no início, mas também tem atraído interessados. Essa relevância das fontes alternativas, no entanto, fica bastante comprometida com as restrições de transmissão, problema que não deve ser resolvido em menos de três anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.