Cabos submarinos de fibra óptica serão alvos de exercício inédito da Marinha em Fortaleza
Operação para testar protocolos de defesa e segurança de cabos eletrônicos do Brasil ocorrerá em Fortaleza em novembro. Veja como irá funcionar
07:00 | Set. 15, 2025
Fortaleza, maior ponto de conexão de cabos submarinos de fibra óptica da América do Sul e segundo do mundo, será palco de um exercício inédito da Marinha do Brasil voltado à proteção dessa infraestrutura estratégica, que garante a conexão de internet de todo o País.
A operação, prevista para novembro, ocorrerá nas proximidades da Praia do Futuro e reunirá militares, órgãos do governo e empresas de telecomunicações para testar protocolos de defesa e resposta a incidentes que possam comprometer a rede responsável por manter o país conectado ao mundo.
A escolha de Fortaleza para sediar o exercício não é casual. A capital cearense é um ponto estratégico para as telecomunicações internacionais: mais do que qualquer outra cidade da América do Sul, Fortaleza concentra conexões submarinas que interligam continentes, com cabos vindos da África, Europa, América do Norte e de outras partes do Brasil.
"O cuidado e a manutenção dessa rede são considerados questões de segurança nacional e econômica. Proteger a rede de dados de internet por onde cerca de 181 milhões de brasileiros navegam diariamente é um desafio gigantesco", ressalta o especialista em proteção de cabos submarinos do Comando Naval de Operações Especiais da Marinha do Brasil, Capitão de Fragata Paulo Ricardo Rodrigues dos Santos.
Estudos da Telegeography apontam que passam pelo menos 16 cabos ligando o país a diversos destinos do mundo, ultrapassando 150 mil quilômetros. Ela permite que os usuários acessem a internet, façam transações financeiras, consumam entretenimento e utilizem serviços essenciais.
Se esses cabos forem danificados por acidentes, causas naturais ou ações deliberadas, o impacto pode ser gigantesco.
O que será feito no exercício inédito
O exercício adotará metodologia inspirada em modelos europeus, aderindo ao lema “Conhecer, vigiar e Agir (quando necessário)”. O projeto busca aperffeiçoar protocolos de segurança, com integração entre Marinha, autoridades marítimas, setor privado de telecomunicações e órgãos reguladores.
Estarão envolvidos o Comando de Operações Navais, o Comando de Proteção Marítima e Proteção da Amazônia Azul, o Comando Naval de Operações Especiais, Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ministério das Comunicações, além de empresas como Angola Cables, Blue Marine e Huawei Marines Networks.
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A operação terá duas frentes de atuação. Em terra, unidades dos Fuzileiros Navais atuarão na vigilância e proteção das instalações que recebem os cabos, e também na possível retomada e resgate da estação terrestre de sistemas como o da Angola Cables.
No mar da Praia do Futuro, navios-patrulha, mergulhadores de combate do Grupamento de Mergulhadores de Combate (Grumec) e o navio de socorro de submarinos “Guillobel” serão mobilizados para proteger os pontos onde os cabos possuem estruturas mais vulneráveis a agressões.
Segurança nacional com novas tecnologias
Essa ação se insere num contexto maior, segundo a Marinha. Em agosto, foi realizado o 2º Workshop sobre Proteção de Cabos Submarinos em Niterói (RJ), com participação de dezenas de empresas e órgãos públicos. Um dos resultados foi reforçar a percepção de que proteção de infraestrutura digital é matéria de segurança nacional.
Também se discutiu a adoção de cabos inteligentes, capazes de fornecer dados tanto de segurança quanto científicos, e políticas mais robustas de resposta a incidentes. Esses cabos incorporam sensores que permitem monitorar em tempo real mudanças físicas no ambiente marinho, ajudando tanto na proteção contra ameaças quanto na coleta de informações ambientais.
A integração dessas tecnologias à rede brasileira pode elevar o nível de resiliência e prevenção diante de ataques ou acidentes.
Qual a infraestrutura de cabos submarinos em Fortaleza?
Dados da Telegeography indicam que a rede de distribuição de dados a partir de Fortaleza envolve:
- 2 cabos conectam à África Ocidental: SAIL e SACS;
- 1 cabo conecta à Europa: Ellalink;
- 8 cabos conectam à América Central e à América do Norte: Globe NET América Central, Américas – II, SAC, SAM-1, AMX-1, BRUSA, MONET, GlobeNET América do Norte;
- 5 cabos conectam outros hubs brasileiros, como Praia Grande (SP), Salvador e Rio de Janeiro (RJ): SAM-1, AMX-1, SAC, 02 Globe NET.