Em crise, sistema de ônibus de Fortaleza pode deixar de atender áreas deficitárias, diz Sindiônibus

Em crise, sistema de ônibus de Fortaleza pode deixar de atender áreas deficitárias, diz Sindiônibus

| TRANSPORTE PÚBLICO | Com a falência da Santa Cecília, cinco das 14 empresas vencedoras da concessão do transporte coletivo de Fortaleza já não operam mais

O encerramento das atividades da empresa de ônibus Santa Cecília ressalta uma crise que se arrasta há anos no sistema de transporte urbano de Fortaleza. Mas, para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Dimas Barreira, caso a situação continue se deteriorando, soluções mais drásticas podem ser necessárias para preservar o sistema e as empresas, como a redução da área de atendimento na Cidade.

Com o fim das atividades da Santa Cecília após quase 80 anos de mercado, cinco das 14 empresas vencedoras da concessão pública do transporte coletivo de Fortaleza já não operam mais.

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Dimas afirma que o problema é nacional e requer atuação do Governo Federal, já que a capacidade de financiamento de estados e municípios para o sistema de transporte não tem sido suficiente.

"Tem faltado capacidade de prefeituras e governos para sustentar a operação com a qualidade que a população demanda, com toda razão".

Enquanto esse "socorro" não chega, algumas cidades, como o Rio de Janeiro, implementaram soluções emergenciais para não colapsar seus sistemas de ônibus coletivos: deixar de atender áreas deficitárias na cidade.

Com mais uma empresa de transporte falida em Fortaleza, cresce a possibilidade de medida similar ser adotada.

"O que está acontecendo em várias cidades do Brasil, como em Teresina, Natal e no próprio Rio de Janeiro, é que partes da cidade já não são mais atendidas porque não se viabilizam", pontua.

Sobre a realidade de Fortaleza, ele comenta que das mais de 300 linhas de ônibus existentes, aproximadamente 80 são superavitárias, menos de 1/3.

Desde a pandemia, o número de passageiros do transporte coletivo reduziu mais de 50%. Em 2024, O POVO realizou levantamento que revelou que o número de viagens também diminuiu, sendo que mais da metade das linhas tiveram redução - aumentando o tempo de espera.

Outro fato que também está relacionado com essa crise foi o fim da função de cobradores de ônibus, com a adoção de catracas eletrônicas e com os motoristas assumindo a dupla função.

O presidente do Sindiônibus ainda detalha que a falta de financiamento sustentável para o sistema é refletida na qualidade do serviço. Segundo ele, a frota de ônibus de Fortaleza "nunca foi tão antiga" porque quase totalidade das empresas não tem condições de renovar a frota a contento.

"Essa é uma questão que a gente vem chamando a atenção. O que não queremos é que chegue ao caos no sistema".

Conforme O POVO apurou, outra empresa, a Siara Grande, também estaria em dificuldades - por enquanto não tão sérias quanto a que extinguiu a Santa Cecília.

Em meio às dificuldades financeiras das empresas que compõem o sistema, o rastro deixado pelo caminho é de precarização e dívidas.

No caso da Santa Cecília, um processo de reintegração de posse no início deste ano sacramentou o início do fim da empresa. Em dezembro de 2024, decisão do juízo da 2ª Vara da Comarca de Itaitinga autorizou a apreensão de ônibus da empresa por parte do Banco Volvo.

Ao todo, foram 14 ônibus apreendidos após a empresa não conseguir pagar parcelas do financiamento. E, segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário do Estado do Ceará (Sintro-CE), a medida motivou a demissão de 60 trabalhadores, em fevereiro.

O presidente do Sintro-CE, Domingos Neto, afirma que, apesar das promessas da empresa, esses profissionais seguem sem receber as parcelas das verbas rescisórias após acordo. Agora, com a dispensa de mais de 200 profissionais, o sindicato acionará mais uma vez o Ministério Público do Trabalho (MPT) para mediar a situação.

"A Santa Cecília descumpria suas obrigações há um bom tempo, mas de uns três anos para cá piorou. Já fizemos várias denúncias, mas a empresa deixava de pagar salários, férias", continua.

Ainda segundo Neto, a empresa só realizou o pagamento da primeira quinzena de junho. Desde então, os funcionários ficaram sem receber e, após 11 dias de trabalhos paralisados, a empresa anunciou sua falência na última sexta-feira, 8.

O POVO procurou a Prefeitura de Fortaleza para questionar sobre a crise no sistema. Quem respondeu foi a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), informando que acompanha a operação de 31 linhas que eram operadas pela Santa Cecília com cerca de 45 ônibus. Como solução inicial, dez ônibus reservas foram colocados no lugar para garantir o cumprimento das viagens.

Sobre a crise descrita no sistema de transportes de Fortaleza, a Etufor informou que a Prefeitura informou que "está em diálogo com o Sindiônibus para desenvolver soluções de apoio às empresas e melhorar a qualidade do transporte público ofertado na Cidade".

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