Tarifaço: setor do coco se mostra preocupado com preços
Governo estadual não tem como manter os mesmos valores praticados no mercado externo e ideia é evitar prejuízos maiores
12:56 | Ago. 07, 2025

Ter a água de coco incluída nos itens de compras públicas pelo Estado do Ceará como forma de atenuar os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros agradou a agroindústria do setor no Estado, mas despertou uma preocupação também: se o governo pegará o mesmo preço que o importador americano comprava.
O texto aprovado na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) não apresenta os valores que devem ser pagos nem diz como devem ser calculados, o que elevou a incerteza sobre o assunto.
Mas, ao O POVO, o governador Elmano de Freitas (PT) informou que a taxa de lucro não é a mesma e que o principal objetivo é evitar que as empresas percam seus produtos e, prioritariamente, mantenham os negócios com o mercado americano.
"É muito importante que a empresa cearense mantenha negócio com o mercado americano. Pode não ser do mesmo patamar que tem hoje, mas isso é muito importante para que em outro momento, em outra conjuntura econômica, os contratos econômicos tenham sido mantidos", pontuou.
O gestor também frisou que vê a possibilidade de o próprio mercado interno comprar produtos dos exportadores, para além do passo do próprio Estado adquirir os insumos.
"Então, eu acho que é um esforço da sociedade, do governo, para ajudar essas empresas, porque elas geram empregos no Ceará e elas são importantes. Mas a taxa de lucro não necessariamente será a mesma", disse.
A exportação de água de coco do Ceará para os Estados Unidos movimentou mais de US$ 8 milhões nos primeiros seis meses de 2025 e está entre os oito principais itens da balança comercial com os americanos. Uma redução no valor faria com que a cadeia tivesse que se reajustar ainda mais.
“É preciso manter esse preço, porque se for para achatar ainda mais o preço o produtor vai ser ainda mais sacrificado”, alertou Rita Granjeiro, fundadora da Associação Nacional dos Produtores de Coco (Aprococo).
Compras públicas
Fazer parte da merenda escolar e de refeições do Ceará Sem Fome deve demandar uma produção relevante da indústria. Apenas no distrito irrigado Curu-Paraipaba, um dos mais relevantes do Estado, a produção mensal de cocos soma 4,5 milhões de frutos.
“Tudo isso ajuda porque você diminui o impacto. Os produtores ficaram muito entusiasmados com a proposta”, contou Rita.
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Hoje, disse, os prejuízos estão sendo divididos entre a cadeia produtiva, desde a redução no preço do litro da água de coco - que baixou de R$ 1,80 para R$ 1,60 nos contratos anuais, mas chega a custar R$ 1 na venda avulsa.
Além da compra pelo governo cearense, há ainda a sugestão de compras federais feita pelo governador Elmano de Freitas. A opção de o mercado nacional absorver a produção de água de coco que iria para os Estados Unidos agrada mais à empresária, por achar mais factível a adesão e o consumo corresponderem à produção.
Mercado internacional
Sobre uma possível entrada no mercado chinês, ela classifica como pouco provável. A explicação está na vizinhança da China. Vietnã e Filipinas tem produção robusta do fruto e são muito mais próximos, o que tornaria a competição bem difícil para as agroindústrias cearenses.
Rita aponta a entrada na União Europeia como mais coerente. Sem produção próxima em larga escala, com uma distância menor e semelhante à ida aos EUA e com logística apta ao envio, o mercado europeu seria mais atrativo.
“Eu acredito que possa dar certo. Mas, agora, abrir um mercado novo em menos de um ano, com todas as certificações, exigências, burocracias… É muito difícil. Para mim, quem ainda é comprador e tem capacidade de comprar ainda mais, são os Estados Unidos”, afirmou, confiando ainda na inserção do produto na lista de exceções do tarifaço. (Com informações do correspondente do O POVO em Brasília, João Paulo Biage)