Golpe do FGTS ainda passa despercebido; saiba como identificar

O POVO detalha o procedimento típico dos fraudadores, lista dicas para se prevenir, como checar e o que fazer caso tenha sido vítima

Trabalhadores precisam redobrar a atenção diante da recorrência de golpes relacionados ao saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A fraude que tem passado despercebida pelos contribuintes é a que envolve o uso do aplicativo Caixa Tem para saque emergencial do FGTS sem o conhecimento da vítima. O POVO detalha o procedimento típico dos fraudadores, lista dicas para se prevenir, como checar e o que fazer caso tenha sido vítima.

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Com CPF e nome completo das vítimas, conseguidos muitas vezes após vazamento de dados, os fraudadores realizam cadastro por meio do aplicativo Caixa Tem e assim ganham acesso a contas digitais dos verdadeiros donos dos dados roubados.

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A fraude se intensificou quando a Caixa passou a utilizar o aplicativo como principal ferramenta para disponibilização de recursos emergenciais, como o auxílio emergencial ou ainda a autorização para o saque emergencial do FGTS, liberado em 2020 como forma de atenuar os impactos econômicos gerados pela pandemia. 

Fornecendo as informações roubadas e completando o cadastro com telefone, e-mail e endereço de posse dos fraudadores, os golpistas passaram a ter acesso ao saque emergencial do FGTS, sem que a vítima ou a Caixa desconfiasse da aplicação do golpe. De forma silenciosa, ainda em 2020, os fraudadores realizaram saques, transferências e outras movimentações financeiras com o dinheiro do fundo. 

A descoberta do golpe

Sem nenhum contato com a vítima ou com pontos de atendimento presencial da Caixa, a fraude pode permanecer encoberta por anos ou mesmo nunca ser descoberta. A professora universitária Estéfanni Alves foi uma das vítimas no Ceará e afirma que somente descobriu o golpe há um dia.

Ela comenta que não possui o costume de verificar rotineiramente o saldo do FGTS, mas que precisou realizar uma consulta nesta quarta-feira, 30 de junho, e que o aplicativo informou que havia tido um saque em julho de 2020.

"Eu achei que o dinheiro tinha entrado automaticamente na minha conta da Caixa, joguei na internet e vi que a recomendação era checar a conta pelo aplicativo Caixa Tem. Quando fui tentar me cadastrar, dizia que meu CPF já estava sendo utilizado, e os outros dados, e-mail, telefone, nada disso era meu", detalha a pedagoga ao dizer que somente a partir de então passou a suspeitar que havia sido vítima de um golpe. 

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A professora precisou se deslocar até um agência para conseguir acesso ao cadastro feito com seus dados e confirmou que um saque em dinheiro de R$ 1.045 foi feito de sua conta na cidade de São Paulo. "Meu sentimento imediato foi de insegurança, né, de estar exposta. A gente fica se perguntando, que sistema é esse que só com o CPF e nome completo libera acesso a conta, a saque, a tudo", reforça. 

Estéfanni não é a única no Ceará a ser vítima do golpe, ela conta que ao relatar o ocorrido no grupo do trabalho, outras duas pessoas foram checar e identificaram saques indevidos em suas contas. "De ontem pra hoje, cinco pessoas já me procuraram dizendo que foram consultar e já estavam cadastradas, sem nunca nem terem instalado o Caixa Tem, e eu não tenho muitos contatos assim, então o número deve ser ainda maior", comenta. 

Quantidade de fraudes

A quantidade exata de fraudes não foi informada pela Caixa, que, ao ser procurada pelo O POVO, afirma que tais detalhes são repassados exclusivamente para as autoridades de segurança competentes. 

A estatal pontua ainda que sempre atua em conjunto com a "Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública na identificação e investigação de casos suspeitos e prevenção a fraudes e golpes". 

O banco acrescenta ainda que desde que identificou falhas na segurança do aplicativo tem atuado diariamente em atualizações no sistema, buscando fortificar a base de segurança e prestar apoio aos clientes.

A instituição indica que caso o cliente tenha suspeita de ter sido vítima de um golpe, estes devem buscar contato com as entidades de segurança e informar o banco por meio dos canais de atendimento ao cliente, tais como SAC/Ouvidoria, pelo número 0800 726 0101 ou em qualquer uma das agências.

Para além do aplicativo, a professora cearense é categórica ao relacionar o golpe sofrido com os grandes vazamentos de dados ocorridos no País. "Eu não tenho dúvida que está relacionado, eu sempre fui muito atenta e cuidadosa com tudo isso, tinha o hábito de sempre checar duas vezes, olhar todas as transações financeiras, tudo, e agora vou redobrar minha atenção", detalha. 

Procurada pelo O POVO, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS) informou que não tem os dados de fraudes no Caixa Tem, porque registram tudo como estelionato e não possuem filtro para informar o número de casos específicos destes casos.

Após realização de ocorrência, a professora deu entrada no processo administrativo de contestação do saque. Medida levará um mês para ser julgada e avaliada por técnicos da Caixa, que mediante comprovação da fraude, irá ressarcir a cearense.

"Eu entendo que tudo tem um processo, mas e se eu estivesse precisando do dinheiro agora? E como assim, "se for comprovado", os dados estão lá, as informações de contato e saques não são minhas, a gente se sente refém de tudo isso", complementa. 

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Como saber se fui vítima de fraude no saque do FGTS?

>> Instale o aplicativo do FGTS, baixando diretamente da loja de aplicativo oficial de seu celular, seja ele Android ou iOS

>> Consulte o histórico de movimentação e caso identifique alguma transação suspeita, cheque a conta digital do Caixa Tem 

>> Caso ao tentar acessar o Caixa Tem, o aplicativo informe que seu CPF já está em utilização e você não reconheça tal cadastro, procure um dos canais de atendimento da Caixa 

>> Para dar entrada no processo de contestação do saque e solicitar o ressarcimento do valor sacado por terceiros é necessário registrar um boletim de ocorrência e apresentá-lo em uma agência do banco. 

>> A Caixa terá um mês para analisar o caso e então decidir pelo ressarcimento ou não. 

Outros tipos de golpes relacionados ao FGTS estão se estruturando mais fortemente pelas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas como o WhatsApp. A maioria relacionada com consultas falsas de saldo e autorizações que prometem liberação do saque aniversário antecipado ou ainda acesso total ao benefício.

A forma mais básica do golpe consiste na divulgação em massa de um link que promete realizar a consulta do saldo do FGTS ou ainda dar entrada no saque emergencial do benefício, medida implementada em 2020, mas que não foi prorrogada este ano. Nos cinco primeiros meses, o laboratório especializado em segurança digital da PSafe (dfndr lab) detectou cerca de 10 mil tentativas deste tipo de golpe

Ao preencher os dados solicitados na página falsa, os usuário têm suas informações roubadas e usadas em tentativas de saque ou mesmo empréstimos bancários. Além do cadastro, os sites falsos pedem ainda que os usuários compartilhem com seus contatos o serviço antes de supostamente concluir o procedimento desejado, ação aumenta a divulgação e as probabilidades de alguém ser enganado. 

O compartilhamento exigido promete ainda o recebimento mínimo de R$ 3,9 mil do FGTS do usuário que enviar o link para toda sua agenda de contatos. Como forma de diminuir suspeitas, os fraudadores criaram sites que se assemelham ao site original da Caixa Econômica Federal, apresentando ainda uma série de comentários de usuários falsos alegando que tiveram sucesso no recebimento dos valores.

A Caixa destaca que atualiza constantemente a aba de dicas de segurança em seu site, orientando clientes sobre práticas fraudulentas. Instituição repassou ao O POVO uma lista de procedimentos e dicas que ajudam na prevenção de outros tipos de golpe e que podem evitar o vazamento de dados, confira: 

Como se proteger e evitar cair no golpe do FGTS ?

  • Não forneça senhas ou outros dados de acesso em sites ou aplicativos não oficiais, bem como em ligações telefônicas.

  • Links suspeitos podem levar à instalação de programas espiões, que podem ficar ocultos no celular ou computador, coletando informações de navegação e dados do usuário, então não abra qualquer link enviado por canais não oficiais do banco como aplicativos de mensagem ou rede social. 

  • Utilizar sempre navegadores e softwares de antivírus atualizados e jamais forneça dados pessoais e bancários em sites que não sejam verificados e oficiais. 

  • A Caixa afirma que jamais solicita senha e assinatura eletrônica numa mesma página, sendo a assinatura digitada somente por meio da imagem do teclado virtual, assim, desconfie de qualquer situação fora deste padrão.

  • A Caixa não envia SMS com link e só envia e-mails se o cliente autorizar, assim, qualquer solicitação de cadastro feito de tal forma deve ser considerada suspeita. 

  • A Caixa não solicita ao cliente o desbloqueio ou cadastramento de novos celulares, caso algum aplicativo ou link solicite tal serviço, desconfie da ação. 

*Com dicas elaboradas pela Caixa

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