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IBGE: Ceará é o terceiro do Nordeste com mais trabalhadores assalariados; média salarial é uma das piores do País

Os dados são das Estatísticas do Cadastro Central de Empresas (Cempre) relativas ao ano de 2018 e foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Apesar de deter o segundo maior número de empresas do Nordeste e ocupar a posição de terceiro estado nordestino com mais trabalhadores assalariados, o Ceará tem uma das piores remunerações do Brasil, com média mensal de 2,3 salários mínimos. A média do País é de 3,1 salários mínimos, o que coloca o Estado na 25ª posição nacional, no mesmo patamar de Paraíba e Alagoas. Os dados são das Estatísticas do Cadastro Central de Empresas (Cempre) relativas ao ano de 2018 e foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 25.

Em 2018, as unidades locais empresariais totalizavam 141.691 distribuídas em todo o território cearense, sendo o segundo maior índice do Nordeste. Além disso, pelo menos 1,63 milhão de pessoas estavam empregadas no Ceará, sendo 1,4 milhão delas assalariadas e 168.281 sócios ou proprietários de negócios, conforme o IBGE. Entretanto, o salário médio mensal dos trabalhadores cearenses é de 2.236,53, estando na sétima posição entre os nove estados do Nordeste.

Para Alexsandre Lira Cavalcante, analista de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), a baixa remuneração no Ceará é um problema histórico e estrutural, reflexo da baixa escolaridade da maioria dos trabalhadores locais.

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“A oferta de mão de obra no Ceará é grande, mas com baixa qualificação, isso faz com que você achate a curva de salários e tenha uma remuneração abaixo da média no Brasil. A baixa escolaridade faz com que a média salarial caia comparada ao País”, observa.

Ele salienta também que existem, nos diferentes setores econômicos, acordos de piso salarial fixados entre os sindicatos trabalhista e patronal. Porém, nem todas as empresas se submetem ao piso da categoria.

Doutor em Economia pelo Centro de Pós-graduação em Economia (CAEN) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cavalcante analisa ainda que a média salarial trazida pelo IBGE pode esconder muito da realidade dos trabalhadores cearenses. Isso porque a distribuição de salários pagos é bastante assimétrica, ou seja, existem muitas pessoas ganhando pouco, enquanto poucas recebem altos salários, o que acaba elevando um pouco a média estadual para cima, segundo o especialista.

Ainda de acordo com ele, a maioria dos empregados nos setores de indústria e comércio ganha menos que a média de 2,3 salários mínimos mensais, por exemplo. Por outro lado, pessoas que atuam em áreas que exigem maior qualificação, como Engenharia ou Indústria Química, são mais bem pagas.

Para o analista do Ipece, os tipos de empresas que mais atuam no Ceará também elucida a disparidade entre o grande número de empregados e a baixa remuneração apresentada. “Temos muitas empresas, muita gente ocupada, mas o que explica essa baixa média de remuneração é o tipo de empresa que atua no Estado. São empresas tradicionais de alimentação, do setor têxtil e de calçados”, completa.

Nesse sentido, Cavalcante acredita que o Ceará precisa avançar na qualificação da mão de obra, porém, o mercado deve estar em condições de abarcar esses trabalhadores. “Muita gente do Ceará se qualifica e acaba sendo ‘exportado’ para outros estados e países. Isso gera um problema no Estado porque, por falta de mão de obra qualificada e de um mercado para absorvê-la, o Ceará termina se mantendo no nível de baixo desenvolvimento”, aponta. Conforme o especialista, é necessário investir em políticas para atrair empresas de alta tecnologia e, consequentemente, atrair o capital humano mais qualificado no Estado.

Empresas fecham, mas assalariados aumentam

Pelo menos 4.751 empresas fecharam as portas de 2017 para 2018 no Ceará. Contudo, houve um aumento de 19.822 pessoas empregadas. O analista Alexsandre Lira Cavalcante recorda que 2018 foi um ano de recuperação econômica, depois de uma crise iniciada em 2014, e aprofundada em 2015 e 2016, quando o País registrou quedas históricas no Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com ele, em 2018, as empresas mais fracas “sumiram do mapa”, e as que sobreviveram à crise, se reestruturaram e houve aumento de contratação de pessoas. O contexto era de recuperação econômica.

No entanto, a pesquisa do IBGE também mostra que Fortaleza registrou a maior queda de pessoal assalariado no Estado entre 2014 e 2018, terminando esse período com saldo negativo de 58.374 vagas de emprego a menos. A Capital passou de 825.189 para 766.815 trabalhadores assalariados, conforme o IBGE (Ver gráfico). Cavalcante também atribui esse dado aos efeitos da crise, experimentados com mais força em 2016.

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“A crise 2015-2016 no Ceará foi muito mais profunda que a do Brasil e o movimento de recuperação do Ceará foi mais lento, e tem sido até hoje. A crise no Estado foi muito mais concentrada em Fortaleza. O interior conseguiu salvar mais empregos”, comenta.

Caucaia vem logo a seguir no ranking de saldo negativo de acordo com os dados do IBGE, passando de 41.442 para 36.006 empregados (Ver gráfico). No mesmo período, o município de Quixeramobim apresentou o maior saldo positivo do Ceará na geração de empregos, saltando de 4.603 em 2014, para 10.504 pessoas empregadas no ano de 2018. Na sequência, Maranguape teve crescimento de 12.730 para 15.063 nos assalariados do município. Aquiraz, Itapipoca e Granja foram outros municípios que mais tiveram saldo positivo no período considerado.

 

No Ceará, os dados do IBGE mostram que os setores de comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas concentram as empresas com 60.403 unidades locais registradas. Por sua vez, o maior número do pessoal ocupado assalariado está nos setores de administração pública, defesa e seguridade social, com 310.414.

Cenário nacional

De acordo com o IBGE, até o dia 31 de dezembro ano de 2018, as 4,9 milhões de empresas e outras organizações ativas no País ocupavam 52,2 milhões de pessoas, distribuídas em 5,4 milhões de unidades locais. Destas pessoas, 45,5 milhões estavam como assalariadas (87%). Outros 6,8 milhões de brasileiros ocupavam a posição de sócio ou proprietário (13%) das empresas. Os salários e outras remunerações pagos totalizaram R$ 1,8 trilhão naquele ano. Já o salário médio mensal foi R$ 2.952,87, equivalente a 3,1 salários mínimos (média nacional).

No Brasil, os estados com os maiores salários médios mensais, conforme o IBGE, foram Distrito Federal (5,5 salários mínimos), Amapá (3,9 salários mínimos), além de Rio de Janeiro e São Paulo (3,6 e 3,5 salários mínimos, respectivamente), todos com valores acima da média nacional.

Na comparação com o ano anterior, houve redução do total de empresas e outras organizações ativas, que recuou 1,8%, representando 91,2 mil dessas unidades. O pessoal ocupado total teve aumento de 0,5%, ou seja, cerca de 278,3 mil pessoas, sendo que o pessoal ocupado assalariado cresceu 0,9% (386,0 mil pessoas), porém os sócios e proprietários diminuíram 1,6% (107,6 mil pessoas). O total de salários e outras remunerações subiu 0,7%, e o salário médio mensal, 3,3%, em termos reais.

Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, a redução do número de empresas, em termos relativos, foi mais significativa nas regiões Nordeste (2,5%) e Centro-Oeste (1,6%), enquanto a região Sul apresentou a menor variação relativa em número de unidades locais (1,0%). Quanto ao pessoal ocupado assalariado, registrou-se os maiores aumentos nas regiões Nordeste (1,2%), Norte e Sul (1,1%). Na região Sudeste, o ganho foi de 0,6% e na região Centro-oeste, 0,5%.

De maneira geral, as regiões Norte e Nordeste apresentaram os maiores ganhos relativos de pessoal ocupado total e assalariado e salários e outras remunerações, em decorrência principalmente, do comportamento positivo do pessoal total e assalariado no Maranhão (3,4% e 3,7%), na Bahia (1,4% e 2,1%), no Ceará (1,2% e 1,9%), no Amazonas (1,9% no pessoal total e assalariado) e Pará (1,5% e 1,9%).

Os maiores crescimentos nos salários e outras remunerações ocorreram no Maranhão (7,1%), Amazonas (5,3%) e Acre (5,0%), estados com forte participação da atividade de administração pública, defesa e seguridade social.

Em termos absolutos, as maiores quedas no número de unidades locais foram observadas nas regiões Sudeste (-33,5 mil) e Nordeste (-21,5 mil). Os maiores ganhos de pessoal assalariado aconteceram também nas regiões Sudeste (144,2 mil) e Nordeste (104,0 mil), assim como os ganhos de pessoal ocupado total, com variação de 83,1 mil pessoas no Nordeste e 80,3 mil pessoas no Sudeste.

Os estados que mais contribuíram para os ganhos de assalariados nessas regiões foram São Paulo (130,0 mil), Bahia (45,0 mil), tendo como destaque atividades administrativas e serviços complementares; Minas Gerais (43,4 mil), Ceará (27,4 mil), com destaque para o setor de construção e Maranhão (26,1 mil), principalmente na atividade de administração pública.

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Perfil do assalariado no Brasil

Dos 45,4 milhões de assalariados do País em 2018, 25,1 milhões são homens (55,4%) e 20,2 milhões são mulheres (44,6%). Além disso, pelo menos 34,7 milhões de pessoas não tinha ensino superior, correspondendo ao percentual de 76,5%, ao passo que 10,6 milhões de pessoas tinham escolaridade superior (23,5%).

Sobre a pesquisa

O Cadastro Central de Empresas (Cempre) reúne informações cadastrais e econômicas de empresas e outras organizações formalmente constituídas, e presentes no Brasil, inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), da Secretaria da Receita Federal, e suas respectivas unidades locais, isto é, seus endereços de atuação.

Os principais dados cadastrais das empresas que o Cempre fornece são: razão social, código da natureza jurídica, classificação da atividade econômica principal e ano de fundação, além de endereço completo e de nome fantasia para as unidades locais. O Cempre contém ainda informações econômicas como pessoal ocupado total, assalariado e assalariado médio anual; salários e outras remunerações; e, para as empresas oriundas das pesquisas, existe também a informação de receitas bruta, líquida e de bens e serviços.

A análise dos resultados pelo IBGE apresenta o cenário macroeconômico em 2018, um panorama geral das empresas e outras organizações ativas e suas variáveis econômicas no ano e em comparação com o ano anterior, e a sua evolução no período de 2007 a 2018.


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