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Medidas econômicas anticrise invertem prioridades, diz economista

Em artigo de opinião enviado ao O POVO, a vice-presidente do Corecon-CE, Silvana Parente, aponta as dificuldades das empresas e trabalhadores em decorrência da pandemia do novo coronavírus e diz que o Governo Federal está colocando o sistema financeiro como prioridade
15:55 | Abr. 14, 2020
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Tipo Opinião

A velocidade de resposta e o volume de recursos anunciados pelo Governo Federal para proteger o sistema financeiro é inversamente proporcional à decisão e efetivação das medidas de proteção da renda das populações afetadas. A primeira iniciativa de maior impacto (R$ 650 bilhões) prevê que o Banco Central conceda empréstimos aos bancos tomando letras financeiras como garantia.

Isso, juntamente com redução de depósitos compulsórios e impostos, significa injeção de recursos nos bancos, mas não necessariamente que vai chegar crédito nas empresas. Na prática, as empresas não estão conseguindo rolar suas dívidas e, quando muito, conseguem a taxas mais elevadas e mediante garantias extras.

Enquanto isso, foi preciso o protagonismo do Congresso Nacional para elevar o valor e a amplitude do benefício da renda básica emergencial para R$ 600 (estima-se valor total de R$ 150 bilhões), o qual ainda enfrenta retardo e dificuldades de operacionalização. Enquanto os bancos recebem injeção de vultosos recursos e reduzem seus riscos, as empresas precisam se ajustar para pagar suas obrigações, inclusive demitir. Os trabalhadores de baixa renda e a população vulnerável lutam pela sobrevivência, à espera da ação do Governo.

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Mas o pior está por vir com a PEC 1020 enviada ao Congresso na última semana, a qual pega carona do salutar Orçamento de Emergência, para autorizar o Banco Central a comprar títulos das carteiras de bancos e corretoras, os quais antes sequer podiam ser aceitos em garantia. São títulos de baixa qualidade negociados em mercado de balcão sem nenhuma referência de preço nem liquidez, o que significa livrar os bancos de qualquer prejuízo com suas posições especulativas de investimento do passado.

Isso não significa que esses recursos vão parar nas empresas, nem vão proteger o pequeno investidor, o qual já está protegido com o Fundo garantidor de ate R$ 250 mil. Uma coisa é garantir a liquidez do sistema financeiro, outra coisa é o Banco Central assumir prejuízo de bancos, os quais distribuíram R$ 52 bilhões de dividendos ano passado. A prioridade está invertida.

Silvana Parente

Doutora em Economia, vice-presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE) e ex Secretária do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag)

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