Ecce Homo: como está a idosa considerada a "pior restauradora do mundo" 10 anos após restauração desastrosa

Em 2012, uma restauração malsucedida da imagem de Jesus no quadro "Ecce Homo", datado de 1930, virou meme.

A responsável pelo processo de restauração, Cecilia Gimenéz, com 81 anos na época, foi duramente criticada pelo deslize com a obra do professor de pintura Elías Garcia Martínez.

Entretanto, o que começou como chacota, mobilizou a cidade em defesa da idosa, gerou um afluxo de turistas e teve até reconhecimento por parte do governo local pelo feito da mulher. 

O início de tudo

Era 7 de agosto de 2012. Após uma publicação feita em um blog dedicado à cultura de Borja, uma pequena cidade da Espanha com pouco mais de 5 mil habitantes, a restauração ganhou notoriedade pelo resultado desastroso.

"Um acontecimento inqualificável", descrevia o site Centro de Estudos Borjanos.

Cecília Gimenéz, uma paroquiana do santuário de Borja, mesmo sem dominar as técnicas necessárias para reparar a obra, se ofereceu de boa fé para solucionar o problema de conservação, já que a pintura se encontrava deteriorada.

Logo, a imagem replicada milhares de vezes pelas redes sociais se tornou um assunto viral e ficou entre os assuntos mais comentados no mundo.

O trabalho, que ficou conhecido como “a pior restauração da história", alimentou noticiário, programas de humor e memes na internet em diversos países.

A repercussão foi tão grande que segundo a BBC, a pequena cidade espanhola recebeu mais de 40 mil visitantes de 110 nacionalidades de diferentes no primeiro ano após o ocorrido para apreciar a obra de 50 centímetros de altura por 30 de largura.

A vida de Cecilia após o meme

Cecilia, porém, ficou depressiva e chorou por vários dias após as brincadeiras envolvendo o seu nome.

Na época, a idosa disse que recebeu ameaças de processo judicial, pois as autoridades entenderam se tratar de um "ato de vandalismo".

Mas a senhora, conhecida pela comunidade local como uma mulher bondosa, foi acolhida pelos moradores da região, que passaram a defendê-la, pois ela "não merecia ser atormentada pela repercussão de seu erro involuntário".

Cecilia não teve uma vida fácil. Ela perdeu um filho de 20 anos de idade por causa de uma doença muscular rara e tem um filho com uma lesão cerebral, que o impossibilita de andar.

Na época, a associação do Santuário de Misericórdia de Borja divulgou uma nota dando "todo apoio" à idosa e solicitou que a prefeitura "mantivesse a pintura do Ecce Homo no estado atual". 

Já o prefeito da cidade, Francisco Miguel Arilla, declarou que a restauração havia sido feita "com todo amor e carinho do mundo" em "uma obra pequena e sem valor, que não está nem catalogada".

A pintura feita por Elías Garcia é uma reprodução da cena "Ecce Homo", ou “Eis o Homem”, que seriam as palavras atribuídas a Pôncio Pilatos ao apresentar Jesus Cristo aos judeus, segundo o Evangelho.

A cena já foi retratada em diversas outras obras de inúmeros pintores. 

De acordo com o jornal espanhol El País, a obra de Elías Garcia, de valor artístico modesto, só ganhou forte notoriedade após a tentativa de restauro feita pela senhora.

Passados dez anos do ocorrido, a idosa, agora com 91 anos de idade, está com a saúde bastante debilitada, mas continua ainda consciente e vive, junto com seu filho, em uma residência mantida pelo governo. 

No dia 10 de setembro, está marcada uma homenagem a Cecilia Gimenéz e ao pintor Elías García Martínez pelo reconhecimento ao impacto positivo causado na cidade pela obra.

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