Minerais de Quixeramobim têm propriedades inéditas, descobre cearense
Doutor da Universidade Federal do Ceará descobriu fenômeno óptico inédito ao estudar minerais de Quixeramobim; entenda
O doutor em Geologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Isaac Gomes de Oliveira, descobriu em sua pesquisa que minerais coletados em Quixeramobim, quando atravessados pela luz, apresentam características visuais inéditas.
A inovação apresentada na pesquisa está relacionada com as figuras de interferência - padrões formados pela superposição de ondas, neste caso, a luz. Até então, a ciência considera a existência de 10 figuras de interferência, mas a figura encontrada por Isaac se diferencia delas.
O estudo contou com a colaboração de Lucilene dos Santos, do Departamento de Geologia, Carlos William Paschoal, do Departamento de Física, ambos da UFC, a doutora Laryssa Carneiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e do professor Lee Groat, da University of British Columbia (UBC), no Canadá.
Entenda sobre a descoberta e sua importância para a mineralogia Ciência que estuda os minerais - propriedades físicas, origem e locais de ocorrência.
e gemologia Ciência que estuda as gemas, ou seja, as pedras preciosas e semipreciosas.
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Do que trata a pesquisa feita nos minerais de Quixeramobim?
Isaac começou a estudar esses cristais ainda na graduação, quando ele criou um aparelho exclusivo para as análises.
Assim, ele foi se especializando na área dessas pedras preciosas até sua pesquisa de doutorado, que teve como foco as grossulárias da região de Quixeramobim, a 203 quilômetros de Fortaleza, no Ceará. Esses minerais são formados por cálcio e alumínio que se apresentam em forma de cubo.
Sobre a importância da utilização desses materiais, Isaac explica que elas “fornecem informações fundamentais sobre o sistema cristalino, o comportamento óptico e a propagação da luz nos minerais”.
"“Estamos falando de uma característica única, observada até agora em um único tipo de mineral e em uma região muito específica do mundo”."
Isaac Gomes de Oliveira (Doutor em Geologia)
Nas grossulárias foi descoberto um novo padrão de figura criada quando a luz passa esses elementos, ou seja, uma nova figura de interferência, diferente das que já eram conhecidas na mineralogia. Ela foi batizada de “mosaico”; entenda mais sobre ela.
Entenda o que é a figura “Mosaico”
Baseando-se nas propriedades das grossulárias, o pesquisador nomeou a possível nova figura de interferência de “Mosaico”, em referência à figura formada.
O “Mosaico” ocorre, pois os cristais possuem múltiplas fases cristalinas coexistentes em um único cristal. No entanto, essa característica é rara, já que essas gemas pertencem ao sistema cúbico e não deveriam produzir figuras de interferência.
Isaac Gomes ilustra: "Para visualizar essa figura de interferência, imagine uma grande casa. Cada cômodo dessa casa foi desenhado e arquitetado por um arquiteto diferente, com gostos distintos e formas diferentes de trabalhar, sem que estes arquitetos tivessem conversado entre si em nenhum momento”.
“Ao final, cada cômodo terá estilo, cor e personalidade únicos, completamente distintos uns dos outros. Em minerais convencionais, a grande maioria dos minerais se assemelha a uma casa totalmente padronizada, com cômodos alinhados e homogêneos”, continua.
Mas a figura de interferência apresentada nos cristais coletados em Quixeramobim se diferencia delas: “No caso das grossulárias do Ceará, temos uma 'casa' totalmente atípica, onde cada cômodo é diferente, refletindo a organização interna complexa e heterogênea que caracteriza a figura de interferência Mosaico”, completa o especialista.
Essa organização complexa se manifesta como “uma rede intrincada de áreas coloridas, azuis, roxas e amarelas, que se organizam de maneira irregular, lembrando um mosaico ou vitral medieval”.
Quais são as implicações da descoberta dos minerais de Quixeramobim?
Apesar de ser o início de uma descoberta científica, é possível analisar as possíveis implicações dos novos aspectos das grossulárias no campo da gemologia - ciência que estuda as pedras preciosas e semipreciosas.
“Essa possível nova figura de interferência, por ser inédita e exclusiva, passa a ser uma ferramenta a mais nesse processo de autenticação e proveniência… É como enxergar uma luz no fim do túnel, ainda não sabemos tudo o que vamos encontrar lá, mas o caminho já começou a se iluminar”, finaliza Isaac.