Ex-ministro Nelson Teich agora atua no grupo Kora Saúde e Oto Crio

Ex-ministro Nelson Teich agora atua no grupo Kora Saúde e Oto Crio

Teich pretende contribuir para a implementação de uma nova abordagem no tratamento do câncer
Autor NeilaFontenele
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O médico oncologista Nelson Teich, ex-ministro da Saúde com uma breve passagem pelo cargo no governo Bolsonaro (deixou o posto em menos de um mês por divergir das políticas aplicadas), agora integra o conselho do grupo Kora Saúde e Oto Crio.

Durante visita a Fortaleza, ele conheceu a estrutura do grupo na cidade e concedeu uma entrevista à colunista do O POVO. Teich pretende contribuir para a implementação de uma nova abordagem no tratamento do câncer, com o objetivo de ampliar o acesso aos cuidados.

Teich defende que médicos não precisam entender de economia, mas das melhores maneiras para cuidar dos pacientes. Apesar disso, ele reconhece as difíceis escolhas do dia a dia, como o impasse entre o custo dos tratamentos e as melhores soluções para quem está sendo atendido.

O discurso de Teich lembra o clássico dilema do bonde, no qual há o problema ético entre salvar algumas pessoas ou salvar dezenas, dependendo das limitações dos recursos e das políticas aplicadas. Na área oncológica, com tratamentos cada vez mais modernos e com custos elevados, infelizmente essa é uma questão muito presente.

O especialista ressalta que a oncologia continua a ser a área com maior demanda por inovação e tecnologia, o que exige investimentos significativos. Ele lembra ter participado da criação da Lei do Câncer, sancionada em 2023, que define o cuidado oncológico no SUS. Apesar da sua importância, destaca a lacuna entre teoria e prática: "A lei funciona quase como uma lista de desejos; o maior desafio é fazer com que as coisas aconteçam", ressalta.

Ele observa, porém, um movimento positivo: "vejo que o governo hoje busca iniciativas voltadas para a área de câncer, você vê movimentações no ministério", afirma, notando o envolvimento de especialistas e organizações da sociedade civil na oncologia. No entanto, a questão crucial é transformar esse movimento em algo tangível e real na vida de quem depende da saúde pública.

O aumento no número de casos de câncer no Brasil é alarmante. Com o envelhecimento da população e a elevação da incidência da doença entre jovens, o câncer já é a segunda maior causa de morte no país e a primeira em mais de 800 cidades. Segundo Teich, esse crescimento está ligado a diversos fatores, como problemas ambientais, poluição, hábitos de vida pouco saudáveis, estresse e obesidade.

 

Lições não aprendidas da pandemia de Covid-19

Ao relembrar sua atuação no Ministério da Saúde e o período da Covid-19, quando também trabalhou com oncologia e avaliação de tecnologias, Teich avalia que a pandemia "mostrou as fragilidades de nossa capacidade de cuidar". Ele reforça que nenhum país estava totalmente preparado para a Covid-19 e que o Brasil, com recursos financeiros limitados, trabalha sempre no limite da eficiência, sem "muita sobra".


A sobrecarga do sistema de saúde impossibilitou uma adaptação rápida, resultando em um número "gigantesco" de mortes. O ponto principal, segundo ele, é que, enquanto a Covid-19 "saltou aos olhos" e visivelmente sobrecarregou o sistema, outras doenças igualmente graves — como as cardiovasculares e o próprio câncer, que causam centenas de milhares de mortes — não recebem a mesma atenção ou os mesmos recursos.

"A gente tem de ver tudo o que aprendeu com a Covid-19 e entender que isso se aplica em outras áreas da saúde, não só para outras pandemias", conclui.

Proposta de uma instituição independente para a saúde

Teich defende a criação de uma agência única e independente para definir as prioridades do país na área da saúde. Ele argumenta que a inovação é "tão crescente e tão cara, que vai ser impossível incorporar tudo".
Um órgão estratégico e independente seria fundamental para guiar as escolhas. A incorporação tecnológica, segundo ele, deve ser "consequência de uma estratégia de um país, não uma coisa que começa e termina nela mesma". Ele acredita que o Brasil precisa de uma "instituição de inteligência" para identificar as necessidades dos sistemas público e privado, a fim de direcionar melhor as decisões de saúde e, assim, aumentar a eficiência e a qualidade do atendimento à sociedade.

 

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