Justiça aceita novas provas contra réus da Chacina de Ibaretama

Áudios nos celulares dos acusados e depoimento de réu preso embasam o aditamento. Conforme MPCE, crime teve anuência de vereadora, que queria fim de crimes na região

A Justiça recebeu nesta quinta-feira, 21, aditamento à denúncia contra quatro acusados de envolvimento na chacina que deixou, em 29 de novembro último, sete mortos em Ibaretama, município do Sertão Central. As novas provas elencadas pelo Ministério Público Estadual (MPCE) são decorrentes da extração de áudios de celulares dos acusados feita pela Polícia Civil e depoimento de um dos presos pelo crime, João Paulo de Oliveira Campelo. Nas mensagens, conforme o MPCE, os réus falam sobre a logística e execução do crime. Já João Paulo confessou a participação e deu detalhes da empreitada.

Entre as conversas obtidas, a Polícia Civil se deparou com a informação de que Francisco Victor Azevedo Lima e sua mãe, Edivanda de Azevedo, vereadora eleita de Ibaretama pelo PT, deixaram comida para os executores do crime um dia antes da chacina. Também foi apurado que Edivanda manteve “longa conversa” com “Interior”, apelido de Wanderson Delfino de Queiroz, apontado como integrante da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e chefe do grupo que cometeu os assassinatos.

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Conforme a denúncia, Edivanda e sua família teriam tido as residências roubadas por integrantes da facção Guardiões do Estado (GDE). “Neste contexto, explica-se a anuência de Edvanda de Azevedo para que o grupo criminoso de 'Interior' dominasse o distrito de Pedra e Cal, acabando com as empreitadas criminosas de outro grupo criminoso na localidade de Ipueras, Zora Rural de Ibaretama, local onde a indiciada reside com sua familia e possui representatividade como vereadora”.

Em outro áudio obtido pelos investigadores, Francisco Victor celebra a chacina. “Para tu ter ideia, meu patrão, quem matou esses caras foram nove caras. Os caras estavam tudo armado. Os que morreram, mas não adiantou não (risos)”. Outra prova apresenta pelo MPCE é uma mensagem em que outro réu, Josenias Paiva Lima de Andrade, o "Zói", anuncia a Francisco Victor a chegada do grupo criminoso de Interior. Ele ainda pede para que ele avise Edivanda, no que Francisco Victor responde: “de novo”.

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O aditamento ainda traz aponta novas provas levantadas no depoimento de João Paulo, que teria sido um dos executores do crime. Ele confessou ser integrante do CV e disse que praticou o crime em vingança por membros da GDE terem invadido a casa de sua mãe, roubado uma moto e ainda terem apontado armas de fogos para as cabeças de seus sobrinhos, todos crianças. Os autores deste crime, diz João Paulo, teriam sido dois homens, sendo um deles morto na chacina: Edinardo de Lima Silva, 18, conhecido como Gaguim.

Conforme o depoimento, o crime foi praticado por nove pessoas, sob liderança de Wanderson. Ao chegarem no local, o grupo ordenou que as vítimas saíssem do imóvel. Entretanto, eles foram recebidos à bala pelos ocupantes da casa. Quando as munições deles acabaram, o grupo invadiu a casa e executou os criminosos. “O grupo, após ter atirado nas vítimas, subtraiu um revólver calibre trinta e oito e uma espingarda calibre doze que estava na posse destas”, afirma o aditamento.

STJ nega habeas corpus a réus

Quatro  pessoas já foram presas suspeitas de participação na Chacina de Ibaretama. Além de Edivanda, Francisco Victor e João Paulo, já foi preso Kelvin Azevedo Lima, filho de Edivanda. Wandeson tem contra si mandado de prisão em aberto e é procurado. Outro denunciado, que tem mandado de prisão em aberto contra si, é Edvan Lopes dos Santos Azevedo, irmão de Edivanda. Ele ingressou no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com pedido de liminar contra o mandado, alegando não haver "uma única prova objetiva" que o ligue ao crime. O ministro Humberto Martins negou o pedido afirmando que jurisprudência firmou não caber habeas corpus contra indeferimento de pedido de liminar em outra instância "salvo no caso de flagrante ilegalidade".

Edivanda também ingressou com pedido de habeas corpus no STJ. Ela argumentava que sua prisão era ilegal, já que também não existiriam provas de que ela teria participado da chacina. Ainda sustentou ser ré primária, mãe de duas crianças menores de 12 anos e ser portadora de lúpus. Em decisão de 29 de dezembro, o ministro Humberto Martins afirmou que o pedido não havia sido apreciado ainda no Tribunal de Justiça do Estado (TJCE). "Assim, o Superior Tribunal de Justiça não pode dela conhecer, sob pena de indevida supressão de instância". Em consulta ao sistema de consulta processual do TJCE, O POVO localizou dois pedidos de habeas corpus para os réus da chacina, nenhum dos dois ainda julgados, mas com negados em caráter liminar. O POVO não localizou a defesa dos acusados no fim da tarde desta quinta-feira, 21.

Conforme a Polícia Civil, a casa onde o crime foi cometido funcionava como uma espécie de ponto de apoio da GDE na localidade. Todas as vítimas seriam ligadas à facção — apenas Osvaldo da Silva Lima, de 24 anos, e Wilian da Silva Rodrigues, de apenas 6 anos de idade não teriam nenhum tipo de ligação com a facção, conforme a investigação.

Além de Osvaldo e Willian, foram mortos Wellington Lima Silva, irmão e sobrinho daqueles; Ednardo de Lima Silva, 18; Eduardo de Lima Silva, 19, ambos irmãos; Luana Melo da Costa, 19, cunhada deles dois; e Francisco Gabriel Pereira da Silva, 14. Uma outra mulher foi ferida e conseguiu sobreviver.

 

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