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'Peixe das nuvens' corre risco de extinção com aterramento em Aquiraz, dizem pesquisadores

A espécie é considerada como vulnerável, com risco alto de extinção na natureza, na lista oficial de espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados do Brasil

Uma espécie de peixe endêmica da caatinga pode desaparecer nos próximos dias, caso obra que aterra uma poça temporária na CE-025, no município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), continue sendo realizada, conforme denuncia o biólogo Sanjay Veiga. O pesquisador produz tese de doutorado sobre a espécie popularmente conhecida como peixe das nuvens, cujo nome científico é Hypsolebias longignatus.

Sanjay esteve no local onde as obras estão acontecendo nessa quarta-feira, 23, e foi informado por uma equipe de fiscalização ambiental do município de Aquiraz que as intervenções aconteciam com autorização da Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Sema). Ele contesta, contudo, o prejuízo ambiental que a intervenção pode causar caso seja não seja interrompida.

 

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“É um bicho ameaçado a nível internacional e a espécie pode ser extinta até o próximo sábado”, disse o biólogo. Nesta quinta-feira, 24, o pesquisador foi ao local novamente e acionou a Polícia Ambiental, que iniciou fiscalização do andamento da obra. Ele acrescentou que foi identificada uma espécie de ave que está em processo de construção do ninho, o que garante que pelo menos um terço da poça não seja aterrada. 

O biólogo ainda encontrou outras espécies de anfíbios no local, o que também deve contribuir para que a obra seja paralisada. A mobilização com outros pesquisadores e órgãos representativos deve continuar nos próximos dias. "Vários colegas do Brasil inteiro estão horrorizados com o que está acontecendo neste caso", reforçou Sanjay.

Ele disse que conseguiu acionar o Ministério Público do Ceará (MPCE), que solicitou que os órgãos competentes revisassem as licenças concedidas. Sanjay teme, porém, o tempo necessário para conclusão dos trâmites burocráticos, devido à velocidade das obras no local. Em dois dias, a área de aterramento aumentou consideravelmente, de acordo com vídeos enviados pelo biólogo ao O POVO. É possível ver ainda caminhões caçamba com areia para o aterramento e maquinários transitando pelo local.

Em ofício enviado à Promotoria de Aquiraz, o gabinete do vereador de Fortaleza Gabriel Aguiar (Psol) requereu a suspensão imediata das obras até que seja divulgada uma manifestação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Ainda, que seja averiguado qual empreendimento está realizando as obras denunciadas.

Há pelo menos três processos de licenciamento para obras/empreendimentos na referida região: a obra de duplicação da CE-025, e mais dois empreendimentos privados, sendo um deles a construção de um shopping center.

Em nota, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) disse que se posicionou de forma favorável à construção da estrada desde que sejam atendidos todos os critérios técnicos para a execução do monitoramento das populações de Hypsolebias longignatus (peixe da nuvens) no entorno da área de intervenção. O órgão informa ainda que o processo seguiu todas as fases inerentes ao licenciamento ambiental da obra e apresentou a documentação necessária à emissão da Licença de Instalação para o empreendimento.

O POVO entrou em contato com a Secretaria do Meio Ambiente (Sema), por e-mail, na noite dessa quarta-feira, 23, e aguarda retorno.

Espécie tem risco alto de extinção, conforme lista oficial

O divulgador científico Telton Ramos, membro do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes Rivulídeos Ameaçados de Extinção, do ICMBio, disse que a localidade que está sendo aterrada é o espaço em que o peixe foi descoberto, aumentando o risco de extinção da espécie. O animal é atualmente classificado como Vulnerável, com risco alto de extinção na natureza, na lista oficial de espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados do Brasil.

“As espécies de Hypsolebias possuem ciclo de vida curto, atingindo rapidamente a maturidade sexual (cresce e se reproduz em pouco tempo) e morrem rapidamente devido ao período de seca, que faz com que as poças sequem. No entanto, os ovos mantêm-se no substrato e eclodem nas próximas chuvas, quando as poças voltam a encher”, esclarece o pesquisador, explicando porque os animais são conhecidos como peixes das nuvens ou peixes da chuva, devido à crença das pessoas de que os peixes viriam do céu durante precipitações.

Veja vídeo gravado pelo biólogo Sanjay Veiga no habitat da espécie em agosto de 2021

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