Jovem em estado grave no IJF foi baleado por engano, diz família

Adolescente de 17 anos estaria voltando do cabeleireiro, em Aquiraz, quando se deparou com perseguição a um suspeito; policiais afirmam que o jovem estava armado

A família de um jovem de 17 anos baleado em intervenção policial rebate a versão apresentada pelos policiais de que o adolescente estava armado e trazia consigo materiais ilícitos. Conforme relatam, o jovem voltava de um cabeleireiro e foi atingido na cabeça durante perseguição a um outro homem. Ele está em estado grave no Instituto Dr. José Frota (IJF). O caso ocorreu na última sexta-feira, 10, em Iguape, distrito de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza.

O jovem foi autuado por atos infracionais análogos aos crimes de tentativa de homicídio, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. A Justiça decretou a internação provisória dele. Em depoimentos idênticos, aos quais O POVO teve acesso, os três policiais civis que participaram da ação narraram que foram até Iguape após receberem informação sobre o paradeiro de pessoas com mandado de prisão em aberto. Conforme eles, a facção Comando Vermelho atua no local e vem praticando crimes como homicídios, tráfico e expulsões de moradores.

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Ao chegar no local, eles se depararam com duas pessoas, que tinham "compleição física similar", sendo "magros, altos e cor de pele parda". Os dois teriam sacado armas de fogo e passado a fugir. Na perseguição, teria ocorrido um tiroteio; em determinada altura, um dos jovens atirou e um dos policiais, ainda na viatura, revidou, usando uma carabina. Esse disparo atingiu o outro jovem; o alvo do tiro conseguiu fugir.

Os policiais ainda afirmam no depoimento não saber de onde os disparos saíram, já que também o jovem que conseguiu fugir atirou. Eles disseram, porém, acreditar "fortemente" que o tiro veio do criminoso, já que o tiro atingiu a boca do adolescente, "veio de frente para trás" e a vítima da bala estava entre os policiais e o atirador. Após ele ter sido ferido, os policiais teriam cessado a perseguição e o socorrido por conta própria. Com ele, os policiais dizem ter encontrado uma bolsa, que continha maconha, crack, cocaína, carregador e munição de pistola e uma balança. A arma que o jovem teria não foi apreendida.

Com base em depoimentos de testemunhas, a família apresenta uma outra versão. Conforme o advogado dos parentes, que pediu para ter a identidade preservada, o jovem recebeu voz de parada e não reagiu. Conforme o advogado, existe o relato de que um dos policiais chegou a dizer: “vou acabar com a tua raça” e “vou dar um tiro na tua cara agora”. Após isso, houve o disparo contra o adolescente.

Uma filmagem feita por moradores mostra minutos depois do tiro. As imagens flagram diversas pessoas gritando e um policial tentando isolar o local. O jovem aparece prostrado no chão, agonizando, em meio a uma poça de sangue. O POVO opta por não reproduzir o vídeo, devido à violência das imagens.

O advogado ainda denuncia que policiais militares foram acionados e recolheram cápsulas da cena do crime. O advogado acrescenta que o jovem não tem envolvimento com crimes e sequer possuía passagens pela Polícia. “Infelizmente, ele só estava na hora errada e no lugar errado quando foi abordado pelos policiais”. Após o fato, a família estaria recebendo intimidação por parte de policiais. A um familiar do jovem, policiais, que parentes não souberam dizer se são os mesmos que participaram da abordagem, teriam dito, em tom ameaçador, que ele “deveria ter cuidado”.

Conforme um familiar do jovem, de identidade preservada, o adolescente era “um menino maravilhoso, que nunca mexeu com ninguém”. “Todo mundo gostava dele, por isso, todo mundo está revoltado com o que aconteceu com ele”. Instrutor de surfe, ele havia parado de estudar por causa da pandemia, conta o parente. “Só quero pedir justiça. O que eles fizeram foi muito errado”.

Em nota, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informa que “instaurou procedimento disciplinar para devida apuração dos fatos na seara administrativa”. Já a Polícia Civil afirmou que “um procedimento policial para apurar a ocorrência decorrente de oposição à intervenção policial foi instaurado e a arma utilizada pelos policiais civis na ação foi apreendida e encaminhada para perícia”.

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