Após 21 anos, dois policiais vão a julgamento por tentar matar 11 pescadores em Acaraú

Réus são acusados de torturar e tentar matar pescadores a mando de uma empresa de pescados denunciada pela comunidade por provocar destruição do manguezal da região

15:06 | Nov. 21, 2025

Por: Mirla Nobre
Imagem meramente ilustrativa. Réus serão julgados na próxima segunda-feira, 21, pela 1ª Vara do Júri de Fortaleza (foto: Alex Costa/TJCE )

Dois policiais serão julgados por tentativa de homicídio contra 11 pescadores na comunidade Curral Velho, no município de Acaraú, no norte do Estado. No entanto, três são envolvidos no caso. O crime aconteceu em setembro de 2004.

O julgamento está marcado para a próxima segunda-feira, 24, sendo os réus julgados pela 1ª Vara do Júri de Fortaleza.

Nesta sexta-feira, 21, a Justiça do Ceará decidiu pelo adiamento do julgamento de um dos réus, um subtenente da Polícia Militar do Ceará (PMCE). Ele teve o júri adiado devido a condições de saúde após pedido da defesa do réu. A data do novo júri não foi definida.

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Os réus são Luciano Barreto Coutinho Benevides, na época, um delegado da Polícia Civil; José Roberto Lira da Silva, subtenente da PM (júri adiado); e José Werbster Gonçalves de Sousa, um escrivão. 

Eles são acusados de torturar e tentar matar pescadores da comunidade, entre eles, adolescentes.

À época do crime, os três policiais eram lotados no município de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), e teriam agido a mando da empresa de pescados denunciada pela comunidade por provocar destruição do manguezal da região.

De acordo com a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), destacado pela Defensoria Pública do Ceará (DPCE), o crime aconteceu em um viveiro de camarão da empresa, onde os réus, que faziam segurança privada utilizando armas do Estado, efetuaram disparos, torturaram as vítimas e ameaçaram de morte outros moradores.

Ainda segundo a denúncia, o ataque teria sido motivado pela resistência da comunidade à entrada de máquinas da empresa em uma área de mangue então interditada judicialmente e reconhecida como área de proteção ambiental.

No crime em que os réus são acusados, três pessoas foram atingidas pelos disparos, e outras relataram terem sido submetidas a agressões físicas e golpes de pau e cassetete.

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Ainda segundo o órgão, foi apreendido com os acusados um arsenal composto por armas particulares e armamento pertencente ao Estado, incluindo pistolas, revólveres, espingardas, grande quantidade de munição, coletes e algemas.

O episódio criminoso é considerado um dos conflitos socioambiental em virtude do avanço da carcinicultura no litoral cearense. O julgamento está mobilizando movimentos de defesa dos direitos humanos e instituições como a Defensoria Pública, o Escritório de Direitos Humanos e a Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar e demais entidades.

A mobilização busca garantir os direitos das comunidades tradicionais e originárias de nosso litoral, bem como a integridade física e o direito à vida de quem se organiza em sua defesa.

O POVO procurou à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) para saber se os policiais acusados do crime foram demitidos ou expulsos das corporações diante das acusações. 

O órgão informou em nota que, à época dos fatos, ainda não existia. "Naquele período, a apuração era de responsabilidade da então Corregedoria, que conduziu a investigação e aplicou a sanção correspondente à transgressão cometida. Os demais questionamentos cabem ao Poder Judiciário", completou.