O que se sabe sobre a prisão do advogado suspeito de ser "pombo-correio" do CV

O advogado foi capturado em quadra de beach tennis no interior do Ceará.  

19:05 | Dez. 19, 2025

Por: Jéssika Sisnando
Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), localizado no complexo prisional de Itaitinga II (foto: Mateus Dantas, em 11/11/2016)

A prisão do advogado Victor de Alencar Gomes Magalhães, de 29 anos, realizada na terça-feira passada, 16, em uma quadra de beach tennis no município de Iracema, no Ceará, apontou uma investigação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

O profissional é apontado como peça central na engrenagem de comunicação da facção criminosa Comando Vermelho (CV), atuando como o elo entre a cúpula encarcerada e os criminosos nas ruas.

O mandado de prisão preventiva cumprido ontem é relacionado ao caso do dia 22 de outubro de 2024, quando Victor foi interceptado ao tentar entrar na Unidade Prisional Professor Clodoaldo Pinto (UP-Itaitinga 2).

O advogado escondia três cargas de caneta (azul, preta e verde) dentro do sapato, sob a meia. Segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE), esse material seria usado para a confecção de bilhetes com ordens da facção, burlando a segurança do presídio.

Clientes da cúpula do CV 

As investigações mostraram que, no dia do flagrante das canetas, Victor tinha atendimentos agendados com dois detentos apontados como chefes do Comando Vermelho, sendo Francisco Clever Carneiro Freitas, conhecido como "Careca", Leonardo Nascimento de Medeiros, o "Leo Coringa".

Conforme a denúncia obtida pelo O POVO, a Draco concluiu que o advogado não prestava apenas assistência jurídica, mas funcionava como um "pombo-correio". As mensagens transportadas clandestinamente possuem, segundo o MPCE, "comandos de assassinatos, assaltos a bancos e ações de grupos organizados".

Um Habeas Corpus foi impetrado alegando ilegalidade nas buscas pessoais e ausência de justa causa para a investigação. No entanto, as instâncias superiores do Judiciário negaram o pedido, validando as provas colhidas e considerando que havia indícios robustos da prática criminosa para manter as medidas cautelares.

O advogado manteve rotina social e foi localizado por equipes do 31º Batalhão da PMCE enquanto jogava beach tennis.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ao perceber o cerco da Polícia Militar, Victor identificou-se com o nome do próprio irmão para tentar despistar os agentes e tentou esconder o celular, no entanto o aparelho foi apreendido. 

Defesa descreveu acusado como jovem advogado e com histórico promissor 

No dia da prisão, em entrevista ao O POVO, o advogado Cleto Gomes, responsável pela defesa de Victor de Alencar, informou o cliente seria recambiado para Fortaleza.

O advogado reafirmou a exigência de que  sejam garantidas todas as prerrogativas inerentes ao exercício da advocacia durante o recolhimento.

A defesa destacou o perfil do acusado, descrito como "um jovem de 29 anos, réu primário e de bons antecedentes, que construiu um histórico profissional promissor, com passagens como estagiário pelo Ministério Público e Defensoria Pública, sem nunca ter registrado intercorrências anteriores".

"A advocacia criminal é uma atividade difícil e acreditamos que enclausurar uma pessoa com esse perfil, que nunca teve qualquer intercorrência, não é a melhor alternativa. O próprio Código de Processo Penal valoriza as medidas diversas da prisão", ressaltou