Idosos que moravam em hospitais de Fortaleza são transferidos para ILPI de Maranguape
Pacientes permeneciam internados mesmo após alta hospitalar porque não tinham lugar para ir; primeira ILPI pública da Capital deve ser entregue em janeiro
07:00 | Dez. 18, 2025
A Prefeitura de Fortaleza deu início na última quinta-feira, 11, à desospitalização de 20 idosos que estavam em unidades de saúde da Capital. Os pacientes permaneciam internados mesmo com melhora no quadro de saúde, já que sem contato com as famílias, não tinham para onde ir depois da alta hospitalar.
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Todos os 20 idosos estão sendo transferidos para o Instituto dos Pobres, Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) no município de Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A medida é realizada pela Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa e do Ministério Público (MPCE).
Até o momento, apenas um idoso, que estava internado na Santa Casa de Misericórdia, já se mudou para o novo lar. Outros oito novos moradores devem chegar na próxima semana, e o restante, até o dia 31 de dezembro.
O promotor de Justiça do Idoso do Ceará, Alexandre Alcântara, explica que o trabalho foi iniciado ainda no ano de 2024, quando MPCE e Prefeitura de Fortaleza identificaram 48 idosos que seguiam internados nos hospitais porque não tinham para onde ir. Em contato com as famílias, 28 pacientes conseguiram retornar ao lar, enquanto os 20 restantes terão estadia custeada pela gestão municipal na ILPI de Maranguape.
Ainda segundo Alcântara, as transferências buscam retirar os idosos do ambiente hospitalar, que pode ser nocivo a eles, ofertar uma melhor condição de vida e liberar vagas de internação no sistema público de saúde.
"Essa situação é ruim para o sistema de saúde porque ocupa vagas com pessoas que não precisam estar no hospital, é horrível para a pessoa idosa porque ali é um lugar inclusive perigoso de contaminação... não é um lugar para a pessoa estar morando. E socialmente isso é muito ruim. O que temos que fazer é trabalhar equipamentos socioassistenciais para que essas pessoas tenham um lar", pontua o promotor.
Devido aos históricos de vulnerabilidade das famílias e problemas de cunho pessoal que os separaram dos parentes, os 28 idosos que retornaram ao seio familiar também continuarão sendo acompanhados por equipes do MPCE e da Prefeitura de Fortaleza, a fim de identificar eventuais situações de maus tratos.
"Alguns realmente eram pessoas que viviam em situação de rua e outros têm família mas têm os vínculos totalmente fragilizados, e que mesmo depois de uma conversa e da atuação das equipes da assistência social foi identificado que essas famílias realmente não tinham como acolher essas pessoas idosas", explica a coordenadora de Políticas para a Pessoa Idosa de Fortaleza, Vejuse Alencar.
A Prefeitura ainda trabalha para identificar o número total de idosos que estão nessa situação na cidade. Esse levantamento está sendo feito pela Rede Municipal de Direitos da Pessoa Idosa (Remudipi) desde o outubro passado.
"Para esse levantamento é necessário um fluxo de atendimento, que o serviço social de cada unidade hospitalar, seja municipal ou estadual, deve realizar busca ativa de familiares. Caso não haja vínculos e o idoso apresente grau 3 de dependência (necessitando de cuidados integrais) ele será encaminhado para uma ILPI", afirmou a SDHDS, em nota.
O POVO entrou em contato com o Instituto dos Pobres solicitando entrevista com o primeiro idoso transferido, mas por ele ainda estar em período de adaptação ao novo lar, a ILPI optou por não autorizar a entrevista no momento
Falta de ILPIs públicas prejudica atendimento
A falta de ILPIs públicas ainda é um dos principais problemas para o o bom atendimento a esse grupo de idosos no Ceará. Com apenas duas instituições públicas, ambas administradas pelo Governo do Estado, uma em Brejo Santo, município na região do Cariri, e a outra em Fortaleza, a Terra da Luz se vê perante uma demanda muito superior à que pode atender.
Para Alcântara, essa baixa oferta do serviço pelos entes públicos tem aberto espaço para cada vez entidades privadas, que nem sempre prestam os devidos cuidados. Nos três primeiros meses deste ano, o MPCE interditou uma casa de repouso e recomendou o fechamento de outras duas em Fortaleza, sob denúncia de más condições de funcionamento.
Os casos agravaram um quadro denunciado já em 2024, quando 25 ILPIs da cidade foram identificadas operando com documentações vencidadas.
"A ausência de equipamentos públicos leva a um crescimento de equipamentos privados e empresariais, por vezes muito ruins. Esses equipamentos públicos têm que ter uma certa qualidade até para serem referência no cuidado", avalia o promotor.
A transferência de 20 pacientes para uma outra cidade é resultado dessa ausência de ILPIs públicas em Fortaleza. Mesmo com mais de 360 mil idosos dispostos por toda a cidade, a Terra do Sol ainda não dispõe de nenhum equipamento municipal que preste o serviço de longa permanência a essa população.
A expectativa é de que isso comece a mudar em janeiro de 2026, para quando é prevista a entrega da primeira ILPI pública da Capital, que terá capacidade para até 30 pacientes. O número diverge do plano inicial, que previa até 100 pessoas em cada ILPI.
Segundo Alcântara, a mudança é baseada em pesquisas que indicam um melhor atendimento dos idosos em instituições com menos pacientes, e que locais com até 100 moradores, como era o plano da Prefeitura, tendem a ter um atendimento menos humanizado.
Para compensar essa redução nas vagas, o município pretende reforçar a oferta de cuidadores domiciliares para esses idosos, a fim de mantê-los junto às suas famílias, além de centros-dia, onde o grupo deverá ter acesso a cuidados e socialização entre si e suporte às ILPIs privadas que estejam com problemas em documentação ou jurídicos.
As ações serão desenvolvidas em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
"A institucionalização é necessária, mas a pessoa idosa precisa ter o direito de escolher ir ou não. A nossa ideia é que a gente possa investir em diversas formas de acolhimento e que a pessoa idosa tenha o direito de escolher qual apoio ela vai ter", conclui a coordenadora da SDHDS.
Ao todo, sete ILPIs devem ser construídas em Fortaleza até 2028, com a primeira delas sendo entregue no início de 2026, segundo estimativa da Prefeitura.
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